O caso do goleiro Bruno monopoliza a opinião pública. O jogador está sendo responsabilizado pelo possível assassinato de Eliza Samudio, com quem teria tido um filho, apesar de ser casado com outra mulher.
Tanta comoção poderia servir de alerta para a violência contra a mulher. Um grave problema social, que faz milhares de vítimas todos os anos. Graças à grande imprensa, isso não está acontecendo.
Os noticiários até citam estatísticas. São 10 mulheres mortas por dia no Brasil. Para explicar tanta violência, uns dois ou três especialistas são ouvidos. Alguns gráficos com dados estatísticos são mostrados. Mas a exposição de um quadro mais geral da questão perde feio para o melodrama montado em torno do caso.
São várias horas de reportagem gravadas em frente a delegacias e penitenciárias. Extensas reportagens sobre a infância do jogador, seus amigos e parentes. Inúmeros detalhes e especulações sobre a relação extra-conjugal.
Desse modo, a imprensa usa a árvore para esconder a floresta. Com isso, crescem as chances de interpretações conservadoras e até racistas. Afinal, Bruno é negro e de origem humilde. Pode ser tomado como exemplo da brutalidade que reinaria entre a população pobre. Algo que justificaria a violência e o desrespeito com que é tratada cotidianamente pelos órgãos públicos. Também fortalece a idéia extremamente machista de que mulheres como Eliza teriam feito por merecer a violência de que foram vítimas.
Trata-se do pior e mais desonesto tipo de jornalismo. O que parece ser simples relato dos fatos não passa de uma forma de estimular conclusões conservadoras por parte do público.
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