Carpideiras eram mulheres pagas para chorar em velórios e enterros. Acreditava-se que suas lágrimas compradas ajudavam a alma do defunto a ganhar o reino dos céus.
A grande mídia vem se comportando como elas. A cada tragédia, são metros de papel e horas de rádio e TV a compor um dramalhão diário. Tudo repetido várias vezes por dia. Com poucas exceções, interessa muito mais a emoção fácil que a informação organizada.
É o caso do trágico massacre de Realengo. Os meios de comunicação disparam teses, teorias e hipóteses a torto e a direito. O assassino seria terrorista muçulmano ou só muçulmano. Portador de HIV e psicopata. Esquizofrênico, evangélico, vitima de violência na escola.
Para cada possibilidade, ouvem-se “especialistas” que nem sabem onde fica Realengo. Cada hipótese serve para colocar um grupo social sob a mira do preconceito: muçulmanos, gays, doentes mentais, soropositivos, evangélicos. Na capa do Globo de hoje, a carta do assassino. Um amontoado de palavras sem muito sentido. Apesar disso, em destaque, as palavras “Egito”, “Alcorão” e “Abdul”.
Enquanto isso, fica esquecida a enorme violência que atinge os jovens brasileiros. Na população adulta apenas 1,8% das causas de morte deve-se a homicídios. Entre os jovens, são quase 40%. Estatísticas não explicam o caso de Realengo. Mas as lágrimas falsas da mídia só embaçam o olhar de quem busca saídas.
A demagogia dos governantes se aproveita do pranto geral provocado pela mídia carpideira. A mesma que lucra milhões com atrações cada vez mais violentas. Que cria intrigas em torno do luto sincero. Proclama lamentos aos céus e comemora o inferno que garante a audiência.
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