Vale a pena ver “Lixo extraordinário”. O documentário de Lucy Walker mostra a parceria artística entre o fotógrafo Vik Muniz e catadores de lixo do Jardim Gramacho, no Rio de Janeiro.
O diferencial do trabalho de Muniz é a união entre matéria e símbolo. Entre a imagem e aquilo de que ela é feita. Tudo começou com as “Crianças de Açúcar”, fotos de crianças que trabalham em canaviais do Caribe. Vik as reproduziu utilizando o resultado material da exploração a que são submetidas. Depois disso, vieram obras feitas com molhos, chocolate, papel picado...
Em Gramacho, uniram-se elementos que deveriam ser opostos: lixo e gente. Boa parte do maior lixão do mundo é resultado de consumo descontrolado. Também significa sustento para operários informais, explorados pela indústria da reciclagem. A abundância gera grandes lucros a partir da exploração da miséria. Nas duas pontas, há gente. No meio, muito lixo. Material e social.
Vik e os catadores uniram-se para produzir retratos feitos com refugo. As montanhas de sujeira pariram beleza. A venda das obras rendeu bom dinheiro. Conferiu alguma dignidade a seus autores. Fez alguns sonharem com dias de glória que dificilmente virão. A miséria em que vive o povo de Gramacho não vai desaparecer por causa de um projeto bonito.
Apesar disso, de alguma coisa valeu. No início do filme, Muniz olha imagens aéreas do lixão. Tudo lhe pareceu muito feio. Depois de visitar o local, sua impressão mudou. Enxergou a beleza das pessoas, sua união e solidariedade. É essa gente extraordinária que o documentário consegue mostrar ao público. É o bastante. Mesmo sendo pouco.
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