Doses maiores

26 de agosto de 2011

Sou medieval, mas quem não é?

Volto a lhes escrever, irmãos do século 16. Como já disse, são muitas as maravilhas tecnológicas do século 21. Quase tudo pode ser feito através de modernos mecanismos. Há uma infinidade de tarefas feitas por máquinas rápidas e poderosas. Causa muito menos fadiga o ato de trabalhar.

Mas, há algo que muito me incomoda. Eles costumam nos chamar de medievais. Pertencemos à “Idade Média”, nome que dão para nosso período histórico. O problema é que nossa época tornou-se sinônimo de brutalidade, ignorância, fanatismo, atraso.

Costumam justificar essa idéia citando as fogueiras da Inquisição, as relações de servidão, os privilégios da nobreza, as câmaras de torturas, as mulheres caçadas como bruxas. Não posso negar que são horríveis estas características de nosso tempo. No entanto, os habitantes do século 21 deveriam olhar para si mesmos mais criticamente.

Já não há fogueiras para os infiéis. Ainda assim, a intolerância religiosa serve de pretexto para guerras em que morrem milhares de inocentes. Não há mais caça a bruxas, mas as mulheres continuam a ser tratadas como inferiores. A tortura saiu das masmorras para se instalar em postos policiais e quartéis.

Agora, só trabalha quem quiser. Mas, a alternativa é morrer de fome. Todos são iguais perante a lei. Tal igualdade desaparece diante das dificuldades econômicas e sociais sofridas pela maioria pobre. Há poucos nobres, mas poderosos exploradores. A antiga intolerância ganhou novas formas e nomes como racismo, homofobia, xenofobia.

Assim, me parece que toda a modernidade atual não beneficia a todos. Continuamos a conviver com injustiça, desigualdade, exploração e intolerância. Diante disso tudo, sou medieval sim, mas quem não é?

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