Doses maiores

9 de agosto de 2011

O mundo de quimono

No final de julho, a capa da revista “The Economist” mostrava uma ilustração com Barack Obama e a primeira-ministra alemã, Angela Merkel. Ambos usando roupas japonesas, sob o título “Dívida e política: virando japoneses”.

A publicação acusa os mais poderosos governos mundiais de apatia política. Um mal que teria atacado o Japão nos anos 1990. Desde então, o país estagnou economicamente.

É uma afirmação contraditória, vinda de uma publicação tão amiga do neoliberalismo. Afinal, foi a adoção de fórmulas neoliberais que jogou a economia japonesa na paralisia. Em especial, a desregulamentação do mercado imobiliário.

É verdade que o governo americano ficou travado durante vários dias. Ameaçando dar o maior calote da história humana. Mas, também é verdade que democratas e republicanos há muito tempo competem para ver quem corta mais gastos sociais. Quem é mais competente no massacre patriota de povos pelo mundo. Ambos os lados convencidos das virtudes do neoliberalismo.

O fato é que o neoliberalismo venceu. Tornou a economia uma máquina que não obedece a governos. Cheia de combustível, ela corre sem rumo. Com grande chance de bater num muro ou cair num abismo.

Nada disso desculpa o governo americano. Incluídos democratas, republicanos e os psicopatas do Tea Party. Se houvesse um tribunal dos povos, já estariam sentados no banco dos réus.

Tudo isso mostra aquilo que Marx já dizia uns 150 anos atrás. O capitalismo é a gradual rendição da vida humana às leis da economia. A política institucional seqüestrada pelas leis do mercado.

Se isso é ser japonês, os governos do mundo vestem quimono. E nos convocam a fazer haraquiri.

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2 comentários:

  1. Leis do mercado que vivem numa montanha russa. Em cada curva fechada, mais e mais pessoas são atiradas para fora dela.

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  2. Se eu soubesse dizer "certamente" em japonês...

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