Doses maiores

23 de novembro de 2012

Classe média, conservadorismo e conformismo

“Classe média prefere eficiência a democracia”, diz o título de reportagem de Lisandra Paraguassu, publicada no Estadão, em 13/11. Trata-se de uma pesquisa feita pelo instituto Data Popular voltada para esse suposto grupo social.

Segundo a matéria, a enquete mostrou que 51% dos entrevistados concordam com a frase: "Prefiro uma ditadura competente do que uma democracia incompetente". Por outro lado, 67% dos entrevistados concordariam com a afirmação: “meu voto pode melhorar a política brasileira”.

O diretor do Data Popular, Renato Meirelles, conclui que se trata mais de “uma cobrança pela ineficiência do Estado do que um saudosismo da ditadura." De fato, uma pesquisa desse tipo está sujeita a todo tipo de interpretações e imprecisões. A começar pela definição do que seja “classe média”.

Mas o estudo sinaliza um fenômeno perigoso. A chamada “classe média” não é necessariamente conservadora. Expressivas parcelas dela ajudaram no crescimento do próprio PT. O problema é quando esse setor é conquistado pelo individualismo consumista. Passa a desprezar as saídas coletivas e a solidariedade às lutas dos explorados.

De um lado, o crescimento da capacidade de consumo, do emprego e da renda familiar. De outro, o individualismo consumista impera. Ninguém mais exige serviços públicos de qualidade. O objetivo é ganhar o bastante para pagar plano de saúde, escola particular, previdência privada, transporte individual.

Os governos petistas têm grande responsabilidade nisso. Alegam que pode haver harmonia entre empresários e trabalhadores. Os problemas virão quando os poderosos resolverem romper esse namoro fajuto na base da porrada. Poderão contar com a omissão e a cumplicidade de milhões de explorados desmobilizados e acomodados.

2 comentários:

  1. Nessa direção, muitos pobres não gostam do Bolsa Família; ''ah, mas ele vai receber sem trabalhar!''.

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  2. Replico aqui o comentário q fora feito no "post" de Mr Purdy no f.: "Este é um país em q as relações verticais estão enraizadas, claro, c/ suas especificidades. Foi uma posse lusitana; um reino q tornou-se república mantendo sua aristocracia rural e suas relações clientelistas; começou sua fase republicana c/ militares mãos-de-ferro; GV tornou-se ditador (1937- 45); e voltou à ditadura - agora militar - entre 1964-85. O discursos da classe média (medíocre) permanece o mesmo desde então. Vivem pelo consumo e do sonho de ter p/ ser, p/ o status alienante no sentido de se sentirem nobres num "reino do Capital"; vivem em seus condomínios, escolas particulares e clubes isolando-se do mundo real, construindo seu mundinho perfeito e vomitando seu discurso meritocrático. O fenômeno da violência em SP no caso Est x PCC é um exemplo dessa forma blasèe de comportamento das classes mais abastadas: dimensões sociais impensáveis manifestaram-se." N. Pinotti

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