Levar
à consciência os mecanismos que tornam a vida dolorosa, inviável até, não é
neutralizá-los; explicar as contradições não é resolvê-las. Mas, por mais
cético que se possa ser sobre a eficácia social da mensagem sociológica, não se
pode anular o efeito que ela pode exercer ao permitir aos que sofrem que
descubram a possibilidade de atribuir o seu sofrimento a causas sociais e assim
se sentirem desculpados; e fazendo conhecer amplamente a origem social,
coletivamente oculta, da infelicidade sob todas as suas formas, inclusive as
mais íntimas e as mais secretas.
A
passagem acima é do livro “A Miséria do mundo”, também de Bourdieu. De origem
pobre, Bourdieu tornou-se um dos mais prestigiados cientistas sociais do mundo. Dedicou grande parte de sua produção a mostrar como diferenças sociais consideradas naturais não
passam de imposições da estrutura de dominação.
Ou
seja, trata-se de estragar a festa dos poderosos, que justificam sua dominação
com todo tipo de discriminação. Desde preconceitos óbvios como os de cor, até conceitos
aparentemente neutros como “inteligência”, “bom gosto”, “vocação”,
“sofisticação” etc.
Mas
não basta ser chato. Segundo Bourdieu, também é preciso ser “cúmplice da
utopia”. O sociólogo francês morreu há dez anos. Durante sua vida travou muitas
batalhas contra a grande mídia e o neoliberalismo. Algo que costuma dar muito
prazer aos sociólogos que não abrem mão de um bom combate.
Leia também: Ordem
social destrutiva
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