Doses maiores

14 de julho de 2016

Marx, apesar dos marxistas

Mais um comentário sobre o livro "A Tolice da Inteligência Brasileira", de Jessé Souza. Desta vez, uma provocação aos marxistas mais chegados a relações mecânicas entre base econômica e fenômenos sociais. Em relação a eles, o autor diz o seguinte:

Ao construir as realidades simbólicas como epifenômeno de interesses materiais e ao imaginar que possam existir realidades materiais não mediadas simbolicamente, o marxismo não desenvolve um “aparato conceitual” que possa dar conta – como fez Weber no contexto de sua sociologia das religiões – do “trabalho da dominação social” que se transforma em “convencimento”, em dominação aceita e “desejada” pelo próprio oprimido. Daí essa mania um pouco ridícula dos marxistas de sempre procurarem “consciência de classe” e “atores revolucionários” quando esses são sempre construções improváveis e que existem mais como exceção do que como regra. É como se a realidade da exploração não fosse um fenômeno total, existencial, afetivo, subpolítico, emocional e ligado a todo tipo de estímulo irracional, mas apenas uma exploração econômica que bastasse ser mencionada para ser compreendida.

Isso não significa que não existam belas análises políticas marxistas como as do próprio Marx, muito especialmente em relação aos estudos das lutas de classe na França do século XIX. Mas elas decorrem da genialidade pessoal de Marx, não das categorias e de um quadro de referência teórico refinado que pode ser aplicado a diversos contextos concretos.

Acrescentando mais uma observação que favorece Marx contra muitos de seus seguidores, lembremos a seguinte passagem da “Introdução à Contribuição para a Crítica da Economia Política”: “O concreto é concreto porque é a síntese de múltiplas determinações...”

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