Doses maiores

24 de maio de 2019

Nós e nossos gêmeos do mal

“Nós”, de Jordan Peele, é diversão de terror garantida. Mas não apenas no sentido original da palavra “diversão”, que significa desviar a atenção de algo importante. O entretenimento do filme é um bom pretexto para denunciar o que está acontecendo em muitas sociedades pelo mundo.

Basicamente, o enredo é sobre famílias gêmeas idênticas. Só que uma delas é formada por assustadoras criaturas do “mal”. A outra, composta por pessoas do “bem” e de bens. Estas últimas são perseguidas pelas primeiras tornando a trama assustadora.

As famílias malvadas pertencem a um mundo subterrâneo e sombrio. Um lugar onde a vida é uma imitação deprimente e assustadora da vibrante sociedade de consumo da superfície.

“Us”, título original em inglês, também faz referência a United States, afirmou o diretor. Segundo ele, os maiores inimigos dos estadunidenses são eles próprios.

Certamente, refere-se à onda conservadora que atinge o país. Ela seria alimentada pelas frustrações por que passam muitos membros da economia mais rica do planeta.

O “American Way of Life” vende um mundo cheio de felicidade e vitórias para todos. Mas a enorme maioria fica, no máximo, com imitações baratas e caricatas do nível de vida de uma elite cada vez menor.

Claro que a trama do filme serve para muitas outras sociedades de alto consumo e muita injustiça social. E mostra como as reações a essa situação podem ser as mais bárbaras.

No filme, as criaturas maléficas costumam fazer estragos com tesouras e machados. Na vida real, muitas vezes, basta o voto na urna para causar prejuízos muito piores.

De qualquer maneira, o final surpreende e é otimista.

Leia também:
O que é o bicho humano para os conservadores

Nenhum comentário:

Postar um comentário