Doses maiores

20 de maio de 2019

Contra as tecnologias de adaptação, tecnologias rebeldes

Pawel Kaczynsku
Aplicativo GPS que alerta sobre trajetos perigosos nas grandes cidades.

Programa de mensagens virtuais utilizado por seus membros para criar uma rede de vigilância sobre atividades suspeitas em sua vizinhança.

Software de transporte urbano que barateia a força de trabalho de dezenas de milhares de motoristas no caótico trânsito das grandes cidades.

Esses são apenas alguns exemplos de ajustamentos cotidianos à grave situação de violência urbana, concentração de renda, destruição de empregos e desigualdade social presentes na vida contemporânea.

São “Tecnologias de Adaptação”, segundo a definição de Evgeny Morozov, em artigo publicado recentemente no portal Outras Palavras. Para esse pesquisador bielorrusso que estuda os impactos das novas tecnologias na sociedade:

“Tecnologia de Adaptação”, contudo, é marca muito ruim para intitular conferências ou manifestos laudatórios. Ao invés disso, fala-se da “economia do compartilhamento” (com startups que ajudam os pobres a sobreviver, aceitando empregos precários ou alugando suas posses), da “cidade inteligente” (com os municípios entregando sua soberania tecnológica – em troca de serviços temporariamente gratuitos – às gigantes digitais), da “fintechs” (com bancos que emprestam para os mais jovens capturando e vendendo seus dados, apresentados como uma revolução de “inclusão financeira”).

Morozov cita o Brasil como um laboratório de inovação nesse tipo de tecnologia. Mas também no resto do mundo, elas “permitem que cidadãos sobrevivam em meio ao caos, sem demandar nenhuma transformação social”.

E qualquer transformação social, diz ele, passa pela quebra das gigantes tecnológicas, mas também pelo abandono das tecnologias de adaptação em favor de tecnologias rebeldes.

Afinal, se tecnologia é técnica mais ideologia, nós também temos a nossa. Precisamos acioná-la contra a deles.

Leia também: Tecnologia: amor, medo, luta de classes

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