O
escritor de literatura fantástica Ray Bradbury escreveu um livro cujo título é
“Morte é uma transação solitária”. Parece que já não é mais assim. Pelo menos,
é o que se deduz de matéria publicada na Folha em 18/05/2019.
O
título da reportagem de Felipe Arrojo Poroger afirma: “Mortos seguem vivos e
continuam a fazer amigos no Facebook”. Um exemplo envolve um jovem escocês,
morto há sete anos:
Scott Taylor não envelhece. Em seu perfil virtual,
estão guardados vídeos, fotos, mensagens. A identidade que o garoto quis
construir para si mesmo e transmitir ao mundo continua intacta, em um domínio
seguro protegido contra a ação do tempo. Sua sobrevivência virtual tornou-se,
assim, um convite para que pais e colegas continuassem depositando suas
saudades.
“A
página era uma das únicas coisas que tínhamos dele”, declarou a mãe do garoto.
Apesar
de estranho, o fenômeno deve se generalizar. Segundo a reportagem, estima-se
que, em 2098, haverá mais mortos do que vivos no Facebook. “Pensada como lugar
de encontros, a rede social extrapola aos poucos seu propósito para
transformar-se em cemitério virtual”, diz Poroger.
Mas
se a morte deixa de ser uma questão tão individual, tão privada, ela também
passa a ser privatizada. Afinal, o tal cemitério está sob administração do
maior monopólio de comunicação da história.
O
Facebook obtém seus lucros da apropriação que faz de nossos dados pessoais 24
horas por dia. Ao mesmo tempo, nos tornou dependente dele.
Scott
Taylor morreu, mas sua página continua gerando informações na rede virtual. O
capitalismo aperfeiçoou-se a ponto de continuar a explorar nossas vidas, mesmo
depois de seu fim.
Leia
também:
Facebook,
partidos digitais, “tecnopólio”
Sigo as leituras, pois cada vez que abro o email e tem o seu corro para me deliciar com os dados que vc traz! Bjs Serginho
ResponderExcluirObrigado pelo apoio, querida amiga!
ExcluirBeijo