Traições pertencem ao
campo da moral. A não ser quando acabam em violência. Mas, aí, tornam-se
detalhes de algo muito mais grave.
Traições na política são
banais. A não ser que envolvam a luta de classes. Nesse caso, podem ter
consequências maiores e generalizadas. Ainda assim, continuam a ser só um pouco
mais que detalhes.
Quando Lula assumiu o
primeiro governo, anunciou como sua primeira grande medida uma reforma da
previdência. “Traição”, gritaram vários setores da esquerda.
Afinal, desde o governo
Collor, sabíamos que esse tipo de proposta sempre envolveu a eliminação de
direitos para a maioria pobre e trabalhadora.
Mas a campanha eleitoral
petista não permitia maiores ilusões. A promessa de “respeitar os contratos” ou
de não arriscar um “cavalo-de-pau econômico” sinalizavam perfeitamente o que pretendia
o futuro governo.
Portanto, na esquerda,
só se sentiram atraiçoados os mais desavisados. Menos que traição, tratava-se de
expectativas frustradas para além do esperado.
Mas o mesmo pode-se
dizer dos dirigentes petistas quando, anos depois, viriam a se queixar da
deslealdade de seus aliados ao sofrerem um golpe articulado pelo próprio vice-presidente.
O que representam Dilma
deposta, Lula trancafiado e Bolsonaro eleito? Traição? Somente para os mais
desavisados. É luta de classes, mesmo.
Mas parece que boa parte
dos petistas não aprendeu lição alguma. Seu horizonte continua sendo a volta
ao poder pelas vias conciliatórias de sempre. E buscando o apoio de muitos dos que
os apunhalaram pelas costas.
Quanto a estes, só lhes restará
repetir os famosos versos de Chico Buarque. Olhos nos olhos, dirão mansamente a
quem já se cansaram de chifrar: “Te perdoo por te trair”.
Leia também: Sobre traições e perdões
Boa. Luta de classes é mais importante que valores morais como traição.
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