Doses maiores

21 de agosto de 2019

Esperando, e preparando, as próximas traições

Traições pertencem ao campo da moral. A não ser quando acabam em violência. Mas, aí, tornam-se detalhes de algo muito mais grave.

Traições na política são banais. A não ser que envolvam a luta de classes. Nesse caso, podem ter consequências maiores e generalizadas. Ainda assim, continuam a ser só um pouco mais que detalhes.

Quando Lula assumiu o primeiro governo, anunciou como sua primeira grande medida uma reforma da previdência. “Traição”, gritaram vários setores da esquerda.

Afinal, desde o governo Collor, sabíamos que esse tipo de proposta sempre envolveu a eliminação de direitos para a maioria pobre e trabalhadora.

Mas a campanha eleitoral petista não permitia maiores ilusões. A promessa de “respeitar os contratos” ou de não arriscar um “cavalo-de-pau econômico” sinalizavam perfeitamente o que pretendia o futuro governo.

Portanto, na esquerda, só se sentiram atraiçoados os mais desavisados. Menos que traição, tratava-se de expectativas frustradas para além do esperado.

Mas o mesmo pode-se dizer dos dirigentes petistas quando, anos depois, viriam a se queixar da deslealdade de seus aliados ao sofrerem um golpe articulado pelo próprio vice-presidente.

O que representam Dilma deposta, Lula trancafiado e Bolsonaro eleito? Traição? Somente para os mais desavisados. É luta de classes, mesmo.

Mas parece que boa parte dos petistas não aprendeu lição alguma. Seu horizonte continua sendo a volta ao poder pelas vias conciliatórias de sempre. E buscando o apoio de muitos dos que os apunhalaram pelas costas.

Quanto a estes, só lhes restará repetir os famosos versos de Chico Buarque. Olhos nos olhos, dirão mansamente a quem já se cansaram de chifrar: “Te perdoo por te trair”.

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