Em
“O Capital”, Marx chama a força natural proporcionada pela água e pelo ar de “serviço
gratuito”. O trecho pressupõe o entendimento de que havia recursos naturais não
mercantilizados. Há tempos, já não é assim.
Segundo
reportagem de Silvia Scaramuzza, publicada pelo portal “Business Insider Italia”,
em 01/08/2019:
Em Nova York, cada metro quadrado é precioso. Em uma
cidade onde falta espaço, só resta ir para cima. Para os construtores de
arranha-céus de Nova York, a última fronteira a conquistar é o céu. Como?
Comprando o ar inutilizado dos edifícios adjacentes à área onde se pretende
construir, apossando-se dos chamados air rights [direitos do ar].
Mas
há coisas piores, como mostra Ronaldo Lemos, em sua coluna na Folha de 05/08/2019.
O artigo descreve, entre outros produtos tecnológicos, colchões “inteligentes” que:
...monitoram cada movimento, virada ou variação de
temperatura do corpo. No momento em que a pessoa está adormecendo, ele aquece.
Quando a pessoa adormece, ele diminui um pouco a temperatura, aprofundando
assim o ciclo de sono profundo...
Tudo
isso para “minerar dados” que permitirão a fabricação dos mais diversos
produtos, capazes de gerar muitos lucros para alguns poucos. Dentre os quais,
dificilmente, estará o dono do colchão.
Certamente,
Marx imaginou que algo assim aconteceria. Afinal, ele foi um dos principais “profetas”
da mercantilização de cada aspecto da vida humana pelo capitalismo.
Mas,
pelo menos, no caso de Nova York, a operação é um pouco mais transparente que o
ar poluído da cidade. Já quanto a nosso sono, trata-se de roubo, mesmo. E cometido,
literalmente, na calada da noite.
É
de tirar o fôlego. E o sono.
Leia também: Em breve, até cocô poderá dar
lucro
Nenhum comentário:
Postar um comentário