Doses maiores

31 de março de 2011

Adriano é ficha limpa

Piada nova entre os torcedores de futebol: já que a lei da Ficha Limpa só vale para 2012, Adriano já pode começar a jogar no Corinthians.

Não tem graça. Adriano tem hábitos condenados pela moral vigente. Gosta da favela em que nasceu. Parece que bebe além da conta. Tem amigos de infância que viraram adultos que cometem crimes. Mas, o tratamento que o jogador vem recebendo por grande parte da mídia mistura hipocrisia com racismo e elitismo.

O jornalista Milton Neves, por exemplo, vive referindo-se aos hábitos privados de Adriano. Gosta de comparar sua vida particular com a de Kaká. Disse que a privacidade do jogador branco e bonitão não é discutida pela mídia devido a seu comportamento impecável.

Impecável? Será que não há pecado na relação que Kaká manteve com o casal Hernandes? Nada de errado em ter sido protegido dos fundadores da Igreja Renascer? Apadrinhado de pessoas acusadas de lavagem de dinheiro, estelionato e falsidade ideológica?

Não há acusação formal contra Adriano. Sua ficha policial está limpa. Bem diferente de muitos políticos, empresários, jornalistas, artistas. Gente engravatada ou vestida com marcas da moda. Portadores da "cor certa", da "origem correta", criados na "melhor vizinhança", freqüentadores dos mais "elevados" círculos sociais.

Sócrates foi um importante líder da Democracia Corinthiana. Um movimento dos anos 80 que lutou pela abolição da escravidão dos jogadores no futebol. Sempre gostou de bar, música e política. Foi respeitado pelo que fazia em campo. Continua digno fora dele. Mas, é médico formado. Não tem a pele escura. A luta que liderou ainda tem muito a conquistar.

A marcação sobre a vida particular de Adriano é anti-esportiva. Jogo sujo.

Leia também: O Corinthians e o futebol têm pouco a comemorar

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