Um elemento muito comemorado nas recentes revoltas africanas, árabes e européias é a espontaneidade. As revoluções e motins em curso teriam sido organizados quase sem participação de partidos, sindicatos e instituições.
Em primeiro lugar, a principal função de partidos, sindicatos e instituições não é organizar revoltas. Ao contrário, em geral, estas entidades servem para derrotá-las. E algumas delas o fazem usando a violência.
Não deveria ser o caso dos partidos de esquerda. Mas, entre estes, são muito poucos os que não se assustam com revoltas populares. A maioria corre para tentar controlar a fúria do povo. Colocar ordem na casa e tentar lucrar politicamente com os acontecimentos.
Em segundo lugar, não há revolta ou revolução sem fortes elementos espontâneos. Há muitos que acreditam que a Revolução Russa, por exemplo, foi obra de um partido comandado pelas mãos de ferro de Lênin e Trotski.
Os trabalhadores russos não tinham a menor razão para temer Lênin e Trotski. O partido que eles lideravam não tinha cargos em governos, verbas oficiais, sedes luxuosas, homens armados. Os bolcheviques conquistaram o respeito das multidões em luta misturando-se a elas. Compartilhando de sua ira justa.
Além disso, a Revolução de Fevereiro de 1917 nasceu contra a vontade do partido. Operárias têxteis iniciariam uma greve contra as orientações dos bolcheviques. Mas, o que fez o coletivo partidário? Virou as costas? Não. Assumiu seu erro e engrossou a luta que as trabalhadoras iniciaram.
É nesses momentos que a fúria espontânea assume uma forma consciente e unitária. Daí, a necessidade de uma organização revolucionária. Os operários russos souberam construir a deles.
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