Doses maiores

7 de novembro de 2011

Conjuração Baiana: agulhas e sangue

Em 8 de novembro de 1799, foram enforcados os líderes da Conjuração Baiana. Também conhecida como Revolta dos Alfaiates, o movimento queria a liberdade do Brasil e de seus negros. Ocorreu no final do século 18, na então Capitania da Bahia. Segundo Clóvis Moura:
Tiradentes foi transformado em algo que ele não foi. E com isso nós desviamos a atenção da Inconfidência Baiana, que ocorreu dez anos depois, na qual quatro foram enforcados, e deles ninguém fala. E tiveram uma posição heróica diante dos algozes. Tiradentes se mijou todo, beijou os pés do carrasco. E fora outras coisas. Tiradentes tinha escravos. E os outros — da Inconfidência Baiana — eram escravos ou forros. (Revista Princípios n°37 – 1995)
Diferente do movimento mineiro, a revolta baiana lutava por uma república abolicionista. Seus principais líderes eram os alfaiates João de Deus do Nascimento e Manoel Faustino dos Santos Lira, e os soldados Lucas Dantas e Luiz Gonzaga das Virgens, todos afro-descendentes. Não à toa, tornou-se um episódio meio esquecido pela história oficial.

O escritor e poeta Domício Proença escreveu “As teias da bordadura”, poema inspirado pelo movimento. Faz parte do livro “Dionísio esfacelado”, que conta a história do Quilombo dos Palmares. Leia um trecho do poema:
As agulhas
percorriam
abomináveis espaços:
e as linhas
cruzadas
e recruzadas
do longo mar-oceano
deixavam rubras
no pano
tênue da História
marcas de vôos
ousados.
Restou no chão da Bahia
à sombra de muitas forcas
retalhos, fios partidos
e uma flor viva
de sangue:
adubo.
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Um comentário:

  1. MEU GRITO,

    Meu grito, é um grito rouco, não chegou aos ouvidos dos meus algozes na hora da minha dor, pois o seu som foi abafado pelo golpe que recebi.
    Não deu nem tempo de saber se de fato eu tinha morrido.
    Senti o capús escuro vendar-me os olhos, sabia que iria morrer, só não saberia responder naquele momento, porque se morre quando se trava uma luta que poderia beneficiar a muitos?
    Porque abafam o grito, daqueles que gritam suas palavras de liberdade, porque esquartejar corpos que ainda poderiam dançar, jogar capoeira, chutar pedrinhas ao caminhar, afundar os pés nas praias bonitas da minha querida Salvador?

    Porque calar o som da voz que traz a pele negra como manto que reveste o corpo de um povo trazido para estas terras para servir aos donos da brancura das outras peles?

    Costurei tantas roupas, alinhavei tantos sonhos junto a outros companheiros, mas o meu e o nosso arremate final, foi a forca, que alheia a todo nosso oficio simplesmente, separou do nosso corpo a nossa cabeça, e em pedaços deixaram-nos expostos, não sabendo eles, que jamais separariam os nossos ideais.

    Carlos Silva
    Poeta cantador, Mestre de culturas populares.
    Idealizador do projeto LEVE LIVROS e da live TARDE COM POESIA.

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