O último episódio de “A grande família” foi ao ar
em 11/09, depois de 14 anos de exibição. O seriado da Globo sempre teve
audiência acima da média, merecidamente. Elenco e tramas sempre foram muito
competentes no ofício de divertir.
A primeira versão da série foi exibida entre
1972 e 1975. Em plena ditadura, o dramaturgo Oduvaldo Viana Filho, o Vianinha,
criou a trama para a emissora. Vianinha era comunista e aproveitou o seriado
para cutucar o regime dos generais.
A Globo já sabia disputar o jogo hegemônico.
Apoiava a ditadura abertamente, mas se permitia ousadias como essa. Foi assim que aprendeu a manter alguma conexão com a vida cotidiana do povão. No caso do seriado de
Vianinha, as dificuldades econômicas e trapalhadas de uma família
pobre do subúrbio.
No seriado recém-encerrado, o tom é mais
conformista e conservador. Despareceu um personagem de esquerda da versão
original. E Tuco deixou de ser um hippie questionador para tornar-se apenas um vagabundo. Quase
todos os personagens são microempresários. Assalariados, só alguns funcionários
públicos.
No lugar da ditadura política, o pensamento único
neoliberal. Sai a família proletária, entra a empreendedora.
Mas este último episódio apresentou um toque final
malicioso. A simpática família fica sabendo que será representada em um seriado da
Rede Globo. Atores famosos são chamados para interpretá-la. Entre eles, Tony
Ramos e Gloria Pires. Daniel Filho aparece, em pessoa, para dirigir a produção.
Ou seja, a família média brasileira somente pode conhecer a si mesma por meio da telinha da Globo ou de suas poucas concorrentes.
Hegemonia é isso aí. A gente se vê pelo olhar do inimigo. Plim-plim!
Leia
um texto de 2007 sobre o seriado no blog Mídia
Vigiada.
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