Doses maiores

22 de setembro de 2014

Lembranças indígenas iluminam nossa escura amnésia

Em 22/09, a Folha de S. Paulo publicou o artigo “O primeiro povo indígena anistiado”. Seu autor é Ywynuhu Suruí, do povo Aikewara, da Terra Indígena Sororó, Pará.

O texto anuncia que aquele povo tornou-se o primeiro grupo indígena a ser anistiado de acusações da época da ditadura militar. As falsas alegações os impedem de ocupar plenamente suas terras há 40 anos.

Trata-se de um passo importante rumo à reconquista de seus territórios. Mas, diz o professor, nunca sairão da memória de seu povo as cenas de terror presenciadas na repressão à guerrilha do Araguaia".

Durante três anos, de 1971 a 1973, os Aikewara viveram assustados quando ouviam qualquer barulho de carro ou avião. Logo pensavam que seriam mortos. Muitos tinham insônia, não conseguiam dormir tranquilos porque o tempo todo eram ameaçados por soldados do Exército brasileiro.

Estas terríveis lembranças, porém, foram zelosamente transmitidas por várias gerações. Ainda que doloridas, diz Ywynuhu, tais narrativas precisam continuar sendo “repassadas juntamente com os ensinamentos, as histórias do povo Aikewara, para nossos filhos e netos”.

Talvez, sobre a esses indígenas perseguidos e maltratados o que nos falta. Nossa memória sobre esse terrível período de nossa história foi sequestrada pelos veículos da grande mídia. Os mesmos que apoiaram a ditadura e continuam a produzir narrativas que deixam seus crimes nas sombras.

Cassar as concessões públicas e processar judicialmente as empresas cúmplices do terror de Estado. Julgar e punir carrascos e mandantes. É o mínimo a fazer para honrar a memória dos que tombaram na resistência à ditadura. Desentranhar as lembranças mais tenebrosas para tornarmos o futuro menos escuro.

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