No terceiro volume de sua trilogia “Escravidão”, Laurentino Gomes esclarece os motivos por trás da condenação do governo britânico ao tráfico escravista no século 19.
O diplomata Robert
Hesketh representou a Inglaterra no Brasil de 1808 a 1847, relata Gomes. Em depoimento
ao parlamento em Londres, estimou que pelo menos a metade do capital britânico
investido no Brasil nessa época tinha envolvimento direto com o tráfico
clandestino. O mesmo tráfico que o governo inglês exigiu que fosse extinto no
Brasil como condição para reconhecer nossa independência.
Já o historiador
norte-americano Robert Edgar Conrad escreveu que “milhares de cidadãos
britânicos e norte-americanos estiveram envolvidos direta ou indiretamente no
complexo sistema do tráfico escravista e no comércio legal que sustentava a
economia brasileira baseada no trabalho escravo”.
Segundo o autor, grandes
traficantes de gente nas costas africanas emitiam faturas de compras de
mercadorias usadas no tráfico que eram descontadas em todos os grandes centros
financeiros europeus e norte-americanos da época, incluindo Londres, Bristol e
Liverpool. Esses testemunhos mostram como a escravização interessava aos
capitalistas ingleses.
Na verdade, diz Gomes,
a exigência do fim do tráfico negreiro foi produto principalmente da atuação
dos mais de mil comitês operários abolicionistas que existiam na Grã-Bretanha na primeira
metade do século 19. Essas organizações eram decisivas na eleição de
parlamentares, o que acabou pressionando o governo inglês a adotar medidas
contra o trabalho servil em países como Brasil, Portugal e Espanha.
Quem deu combate ao
vergonhoso comércio de gente na Inglaterra foram os trabalhadores organizados.
Não se tratava do humanitarismo esclarecido da elite britânica, mas da boa e
velha luta de classes.
Leia também: Escravidão: a soberania nacional humilhada pelos ingleses
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