Doses maiores

16 de setembro de 2022

Trabalhadores ingleses contra a escravidão

No terceiro volume de sua trilogia “Escravidão”, Laurentino Gomes esclarece os motivos por trás da condenação do governo britânico ao tráfico escravista no século 19.

O diplomata Robert Hesketh representou a Inglaterra no Brasil de 1808 a 1847, relata Gomes. Em depoimento ao parlamento em Londres, estimou que pelo menos a metade do capital britânico investido no Brasil nessa época tinha envolvimento direto com o tráfico clandestino. O mesmo tráfico que o governo inglês exigiu que fosse extinto no Brasil como condição para reconhecer nossa independência.

Já o historiador norte-americano Robert Edgar Conrad escreveu que “milhares de cidadãos britânicos e norte-americanos estiveram envolvidos direta ou indiretamente no complexo sistema do tráfico escravista e no comércio legal que sustentava a economia brasileira baseada no trabalho escravo”.

Segundo o autor, grandes traficantes de gente nas costas africanas emitiam faturas de compras de mercadorias usadas no tráfico que eram descontadas em todos os grandes centros financeiros europeus e norte-americanos da época, incluindo Londres, Bristol e Liverpool. Esses testemunhos mostram como a escravização interessava aos capitalistas ingleses.

Na verdade, diz Gomes, a exigência do fim do tráfico negreiro foi produto principalmente da atuação dos mais de mil comitês operários abolicionistas que existiam na Grã-Bretanha na primeira metade do século 19. Essas organizações eram decisivas na eleição de parlamentares, o que acabou pressionando o governo inglês a adotar medidas contra o trabalho servil em países como Brasil, Portugal e Espanha.

Quem deu combate ao vergonhoso comércio de gente na Inglaterra foram os trabalhadores organizados. Não se tratava do humanitarismo esclarecido da elite britânica, mas da boa e velha luta de classes.


Leia também: Escravidão: a soberania nacional humilhada pelos ingleses

Nenhum comentário:

Postar um comentário