Em 1929, o romancista português Manuel Ribeiro diagnosticou: “Nos fins de 1920 a situação era esta: dum lado o Socialismo que frustrara a Revolução e não se decidia por coisa nenhuma; do outro, o país em terror a tremer dum furacão que ulula ainda, mas que vai já longe. Mussolini aproveita o pânico, corre a matar um morto e é acolhido como salvador. Eis o singelo esquema do triunfo mussoliniano”.
A citação acima está no livro “Labirintos do Fascismo”, de João Bernardo. Segundo ele, o fascismo somente venceu onde a burocratização já havia rendido o movimento operário. Mas para nosso autor, “a burocratização é gerada sempre pela base de um movimento, nunca pelo topo”.
Por mais que os dirigentes queiram consagrar seus privilégios, afirma Bernardo, “jamais o poderão fazer se a luta mantiver um dinamismo coletivo e os trabalhadores comuns se conservarem ativos e vigilantes”.
Os primeiros ensaios de violência contrarrevolucionária das milícias de Mussolini “foram inseparáveis da denúncia do reformismo socialista”. Foram muitos meses de lutas radicais nas fábricas italianas no início dos anos 1920. Mas se as direções do Partido Socialista e dos sindicatos se recusaram a avançar rumo à tomada do poder, “os trabalhadores tampouco conseguiram organizar de maneira estável a sua iniciativa própria”, diz ele.
Foi assim que o fascismo conseguiu reforçar sua penetração social e radicalizar sua atuação. Foi este o terreno da vitória de Mussolini, conclui o autor.
O grande diferencial dessa crítica é a recusa em culpar apenas as direções operárias pelas derrotas sofridas pela classe. Como se os trabalhadores organizados não pudessem se encarregar de seus próprios fracassos.
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