Doses maiores

1 de setembro de 2022

O coração escravocrata da independência nacional

No início do século 17, Pernambuco era uma província rebelde tanto em relação a Portugal como à corte do Rio de Janeiro. Por isso, em julho de 1822, José Bonifácio enviou para lá um emissário com a promessa de que, em troca do apoio à independência, os senhores de engenho seriam protegidos de uma eventual rebelião escrava.

Muitos anos depois da Independência, os principais traficantes negreiros continuavam a ser portugueses. Um exemplo é o relatório do cônsul britânico Robert Hesketh, o qual mostra que dos 38 grandes mercadores de escravos em atuação no Rio de Janeiro, dezenove eram portugueses, doze brasileiros, dois franceses e dois norte-americanos. Havia ainda um espanhol, um italiano e um anglo-americano.

As informações acima estão no terceiro volume da trilogia “Escravidão”, de Laurentino Gomes.

Gomes também cita a impressionante “lista dos traficantes clandestinos de escravos agraciados com honrarias e títulos de nobreza em Portugal. Concedidos pela rainha Maria II, esses títulos costumavam ser oficialmente reconhecidos no Brasil pelo irmão dela”, o imperador Pedro II.

A escravidão já não existe e é até considerada crime. Mas o racismo jamais foi derrotado pela lei, tanto aqui como em Portugal. Basta verificar os inúmeros casos de crimes racistas que permanecem impunes, tanto lá como aqui.

O que antes era cumplicidade escravocrata, hoje é uma tolerância que reforça a violência racista. Situação perfeitamente simbolizada pela importação provisória do músculo cardíaco de Pedro I.

Que a iniciativa tenha partido de um governo explicitamente racista evidencia a persistência dos vícios de um processo de independência acertado entre os membros da mesma camada de nobres escravocratas.

Leia também: 1822: independência às custas da escravidão

4 comentários:

  1. Ha uma leitura do marxismo que advoga que a evolução dos modos de produção é inevitável, por isso, a escravidão foi necessária; por isso, o capitalismo predador é necessário; por isso o capitalismo financeiro é necessário. Se estivéssemos no tempo da escravidão, lutariamos contra ela. Agora, sao favas passadas. Qual o teu pensamento sobre esse aspecto?

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    1. Nossa, acho um absurdo. Essa leitura nunca seria endossada por Marx. Há evidências bem claras em alguns escritos da maturidade dele que mostram que seria um grande equívoco achar que exista um "evolucionismo" dos modos de produção. Se quem defende isso está realmente convicto simplesmente deveria de se considerar marxista.

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  2. Eu sabia a resposta, mas queria provocar (Rsrs). Esse é o pensamento do Rui Pimenta do PCO (que se pretende um partido bolchevique). Por isso, ele critica tanto o PSOL. Eu acho o materialismo histórico marxista muito pertinente. Mas nao precisamos esperar a superação de uma fase pra buscar a outra. Porém, sou pessimista: capitalismo é difícil de vencer. Ele se adapta, é inteligente pra bloquear o ataque (como agora no caso do identitarismo, quando pretende "pacificar com a inclusão" uma parcela explosiva e revolucionária - jamais o identitarismo é uma pauta da esquerda (antes que voce conteste...).
    Saindo do assunto:
    Lula esta aqui no Maranhão. Aliado de Sarney e Dino. Dino esta apoiando a governador um inimigo historico - parece que a cultura de aliança venceu...

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  3. Também tendo a esse pessimismo que acaba sendo mais realista, mesmo. Tudo muito difícil, mas sigamos. Não sabia que você é do Maranhão. Legal!

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