Doses maiores

8 de setembro de 2022

À burguesia interessa decisão no segundo turno

Em junho de 2021, Marcos Nobre afirmou que Bolsonaro era candidato “fortíssimo” à reeleição. Passado mais de um ano, não é possível dizer que o respeitado cientista social estivesse erradíssimo. Talvez, apenas errado.

A candidatura Bolsonaro parece não sair do lugar. E segundo a maioria dos analistas, o mais recente Sete de Setembro só serviu para manter sua base aguerrida, porém minoritária. 

Mesmo assim, continua difícil que a eleição se resolva no primeiro turno. E não apenas pela aparente dificuldade da candidatura petista em ganhar os votos necessários. 

Em poucos momentos históricos, as divisões no interior da burguesia ficaram tão nítidas. E a capacidade de superar essas divisões, também. Bolsonaro ainda não foi completamente descartado pelos setores mais importantes do grande capital.

É o caso dos grandes varejistas. Personagens desprezíveis como Luciano Hang e seus cúmplices golpistas devem muito a Bolsonaro, cujas políticas fizeram despencar o valor da força de trabalho, explorada em larga escala por eles.

Já o agronegócio ama a política bolsonarista de destruição ambiental e tem como maior cliente a China, cujo pragmatismo impede qualquer retaliação comercial devido a derrubada de florestas, ataques a direitos ou violência contra populações locais.

Claro que a potências da mídia empresarial, como a Globo e parte da grande imprensa, interessa derrotar Bolsonaro, uma vez que este lhes declarou guerra já durante a campanha eleitoral passada.

Mas uma definição em segundo turno seria o ideal para todos. Não só para arrancar mais concessões de Lula, como para tentar domesticar Bolsonaro. Esta última alternativa, muito improvável, felizmente.

Por enquanto, não há nada erradíssimo ou certíssimo. Só tensíssimo!

Leia também: Das muitas conspirações, a menos pior

3 comentários:

  1. Sabe o que eu não sei, é quem da burguesia está com um ou outro candidato. Esses que você cita, OK, mas, vamos e venhamos, pelo menos do lado do Bolsonaro, o setor agrário e o papagaio verde (não conheço explicitamente outros representantes dos grandes comerciantes com Bolsonaro , e ele não representa em nada esse setor) não são algo a se considerar como segmento importante do capital. A grande imprensa, como a Globo e outras, está do lado do Lula, e este setor é um segmento importante do capital sobre o ponto de vista de domínio da informação. Mas vamos ao que interessa, o setor financeiro, que domina econômica e estrategicamente está com quem? Ah tá, falar de alguns golpistas que estão com o Bolsonaro, como o papagaio verde e outros, também não quer dizer nada. Enfim, o capital está com quem? A esquerda analisa, analisa, mas não indica claramente com quem estão, porque acho que não estão claramente com nenhum dos dois candidatos, estão só tencionando. Para o segundo turno? Pode ser. Mas está faltando clareza sobre essas tendências na análise da esquerda. Quer outra? Os militares. Embora nesse campo caminho junto com uma parte da esquerda que entende que majoritariamente estão com o Bolsonaro.

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    1. Discordo que os grandes varejistas não sejam um segmento importante do capital. Movimentam muitos bilhões por ano. Além disso, têm a importância política que alcançaram graças à visibilidade que alcançaram. O que dá pra relativizar é se o setor inteiro está com Bolsonaro. Um exemplo é o Magazine Luiza, que certamente não está fechado com Bolsonaro, ainda que jamais vá travar batalhas pelo Lula. Além disso, o que está citado na pílula são exemplos. A burguesia "financeira" (pelos critérios leninistas, nem seria uma burguesia financeira porque o capital financeiro também inclui o chamado "capital industrial", na fase imperialista) certamente tem preferência por Bolsonaro, mas não arrancaria os cabelos se a vitória ficar com Lula. Quanto aos militares, até por razões corporativas preferem Bolsonaro, mas acho que a maioria também não ficaria sem os cabelos ganhando o Lula. Por isso, um golpe parece meio improvável. E em relação às análises, acho que não é só a esquerda que está tateando. É uma conjuntura ainda mais difícil de fazer previsões do que eram antes do caos de informações que vivemos agora. Valeu!

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