Doses maiores

26 de setembro de 2022

Quando e porque Marx disse que não era marxista

Em maio de 1880, Marx e o líder operário francês Jules Guesde redigiram um programa para disputar as eleições francesas. Segundo Marx, o documento trazia “demandas que surgiram espontaneamente do próprio movimento operário”. 

Apesar de apresentar uma introdução onde o objetivo comunista era definido em poucas linhas, as medidas propostas eram muito concretas. Por exemplo: 

- Abolição das leis que estabelecem a inferioridade do trabalhador em relação ao patrão, e da mulher em relação ao homem;

- Fim da dívida pública;

- Um dia de descanso por semana ou proibição de trabalho por mais de seis dias em sete. Redução da jornada de trabalho para oito horas para adultos. Proibição de trabalho para menores de 14 anos e, entre 14 e 16 anos, redução de oito para seis horas diárias.

- Salário mínimo legal, reajustado anualmente de acordo com preços definidos por uma comissão estatística dos trabalhadores;

- Salário igual para trabalho igual, para trabalhadores de ambos os sexos.

Há outras medidas interessantes e que poderiam estar em qualquer lista de reivindicações atual. 

Depois que o programa foi acordado, no entanto, surgiu uma polêmica sobre seus objetivos imediatos. Enquanto Marx os entendia como um meio de agitação em torno de demandas alcançáveis no âmbito do capitalismo, Guesde considerava essas reformas como “uma isca para atrair os trabalhadores mais radicais”. 

Acusando Guesde e seus companheiros franceses de serem meros criadores de “frases revolucionárias” e de negar o valor das lutas reformistas, Marx fez sua famosa observação de que, se essas políticas representavam o marxismo, “eu mesmo não sou marxista”.

A íntegra pode ser acessada aqui, em inglês.

2 comentários:

  1. Muito atual o conjunto das reivindicações Também a perspectiva da luta.

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    1. Sim, Marx sempre foi um revolucionário, mas sua preocupação com a defesa de medidas reformistas demonstra que sua revolução tinha que ser de baixo pra cima e protagonizada pelas maiorias exploradas e oprimidas. Beijo

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