Doses maiores

8 de julho de 2011

"Senta aqui, Bolsonaro!"

Vestido de mulher, com unhas pintadas e maquiagem. Foi assim que o cartunista Laerte participou de um debate durante a Flip, em Paraty, em 02/07. Os temas: orientação sexual, humor e preconceito. Do alto de seus saltos altos e de sua sabedoria, o desenhista falou sobre sua experiência como “cross-dressing”: o uso de roupas femininas por homens e vice-versa.
O medo das pessoas de perder o emprego, de perder o amor da família e o respeito dos amigos as torna muito conservadoras e tímidas em relação a sua sexualidade. Eu não vou apenas a lugares GLS (Gays, Lésbicas e Simpatizantes). Eu vou a qualquer lugar, a qualquer bar e a qualquer restaurante e sou sempre bem recebido.
Admitiu, porém, que sua experiência não pode ser generalizada.

Tudo aconteceu de forma muito fofa comigo em relação ao fato de eu me vestir de mulher. Mas sei que existem crimes de ódio ocorrendo contra homossexuais no Brasil todo.
Mas, alertou contra o perigo de isolamento do movimento gay: "Você tem que sair das trincheiras e lamber o pescoço. Tipo: 'Senta aqui, Bolsonaro!'", arrancando gargalhadas do público.

Perguntado sobre as dificuldades de fazer humor de forma politicamente correta, o cartunista foi bastante claro. Fazer graça exige liberdade, disse. Nem por isso, está acima da crítica, completou. Citou um exemplo:

Quando o Rafinha Bastos tuíta que mulher feia tem de agradecer se for estuprada, não tem como ele não ser criticado. Ele falou merda sob qualquer ponto de vista.

Dizer uma coisa dessas num país que ainda trata mal suas mulheres, muitas vezes com violência, especialmente aquelas que não estão no padrão das capas de revista, é de uma crueldade sem tamanho. O humor trabalha com o preconceito, mas ele extrapolou todos os limites com isso e é natural que haja reação.
Vindo de um mestre, é bom prestar atenção. Falam em ditadura do “politicamente correto”. Que ditadura é essa que convive com piadas racistas, machistas, homofóbicas repetidas diariamente nos meios de comunicação?

A verdadeira ditadura é a do humor preconceituoso que reina nas ruas, botecos, locais de trabalho, festas e reuniões familiares. Fazer piada com humilhados e ofendidos é fácil porque é covarde. E dá audiência e muito dinheiro para uns poucos.

Se o humor tiver que trabalhar com preconceitos, que seja contra os poderosos! Fala sério!

Leia também: Laerte: feminino e divino

7 comentários:

  1. Ninguém faz sucesso dizendo o politicamente correto. Aí é q está o problema. Aliás, o politicamente correto é que sofre bullyng eu um país em q o padrão é contornar as leis.

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  2. A esquerda precisa praticar mais o humor. Não só para isolar os machistas, homofóbicos e racistas, mas para ela própria aprender a lidar melhor com as críticas.

    paulo marçaioli

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  3. perfeito texto! Só lembrando, agora além do Bolsonaro temos a Miriam Rios... eu me sinto envergonhada, enquanto pessoa ofendida por esses cretinos, pelo fato de não fazer nada.

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