Referindo-se
à situação no Egito, Achcar afirma que o governo caiu, mas não o regime. A
Irmandade Islâmica assumiu o poder por ser a única grande força organizada de
oposição ao antigo governo. Mas paga um preço alto por isso. Segundo Achcar, a
organização muçulmana construiu-se como força de oposição:
...com
um slogan simplista: o Islã é a solução.
É algo completamente oco, mas funcionava num contexto de miséria e de injustiça
no qual se podia vender essa ilusão. Os islâmicos são traficantes do ópio do
povo. Desde o momento em que estão no poder, isso já não é possível. São
incapazes de resolver os problemas das pessoas.
Assim,
o desgastante exercício do poder poderia abrir caminho para forças
verdadeiramente revolucionárias. Mas trata-se de possibilidade, não de certeza.
Perguntado sobre um suposto complô imperialista por trás das revoluções na
região, o professor responde:
Se,
por oportunismo, as insurreições populares são apoiadas por potências
imperialistas, não justifica que apoiemos as ditaduras. A teoria do complô
americano é grotesca. (...) É claro que, depois de quarenta anos de
totalitarismo, o que chega é o caos, mas, como diria Locke, prefiro o caos ao
despotismo, porque no caos tenho uma opção.
Os
revolucionários não precisam apostar no caos. Mas jamais devem aceitar o
despotismo.
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