...só pode haver combate à pobreza que seja também parte da construção de outro sistema global, só pode haver luta contra a fome que dê passos na transição para outro regime energético, econômico e social.
Mas a ecologia também serve como metáfora para outra grande preocupação do autor. São as questões organizativas da esquerda. Mais especificamente, aquele que ele considera ser “um trauma que atravessa a história da esquerda desde o século 20”. Qual seja, “o medo de que a organização de que se necessita para mudar o mundo seja também aquilo que pode nos impedir de fazê-lo”.
Obviamente, ele está se referindo às contradições causadas pelo modelo de partido rígido e hierarquizado adotado por grande parte do movimento socialista no último século e meio. Contradições que se tornaram mais agudas onde a esquerda tornou-se governo.
Mas, para Nunes, é possível explorar essas contradições de modo que a esquerda deixe de “conceber sua unidade em termos de homogeneidade e centralização de comando” e passe a compreendê-la “em termos ecológicos, como uma forma de cooperação que não exclui a diferença, o dissenso e a competição”.
Nas preocupações acima, o autor antecipa brevemente a proposta principal de seu livro seguinte. Uma teoria ecológica da organização política dos de baixo como resposta à ameaça de um apocalipse ambiental provocado pelo capitalismo. Estes são os temas centrais de "Nem vertical nem horizontal", obra mais recente de Nunes, que, em breve, também comentaremos aqui.
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