Na fundação do Rio de Janeiro, Estácio de Sá levou a população para fora
dos muros da cidade. Dentro, apenas um porteiro. O fundador bateu três vezes.
Toc, toc, toc. Os portões se abriram e a população entrou graças à gentileza do
todo poderoso fundador.
450 anos depois, há muitos muros ainda. Todos espalhados por dentro da cidade.
À entrada de muitos deles, não adianta bater se você tiver a aparência
considerada inadequada. Nos condomínios de luxo, os portões só se abrem para não
brancos que sejam serviçais devidamente identificados.
Nas favelas não há toc, toc, toc quando portas são derrubadas por botas
militares. Sem ordem judicial ou flagrante, as residências são violadas por que
abrigam pobres e pretos. Uma condição suficiente para ser criminoso em
potencial e forte candidato a agressões ou execuções.
As praias não têm cerca ou porteira. Mas para permanecer nelas os que têm cor da
pele e origem social suspeitas têm que fingir ser inocentes mesmo sendo
inocentes.
Dizem que o Rio é uma “cidade partida”. De um lado, a minoria rica e poderosa.
De outro, a imensidão pobre sem poder. Mas não há cidade dividida quando as
ideias que interessam aos ricos do Leblon, Ipanema, Barra e Recreio predominam
por toda parte.
São preconceitos assumidos como verdades também na Rocinha, Maré, Guadalupe, Costa
Barros, Cidade de Deus. São eles que justificam as mortes e torturas em cada um
e muitos outros desses bairros pobres.
Bang, bang, bang! Morrem pedreiros, adolescentes, bandidos, crianças,
militantes, pessoas. E não há gentileza que seja capaz de gerar gentileza na “Cidade
Maravilhosa”.
Leia também: O
Rio de Janeiro de verdade
Blog de Sérgio Domingues, com comentários curtos sobre assuntos diversos, procurando sempre ajudar no combate à exploração e opressão.
27 de fevereiro de 2015
26 de fevereiro de 2015
Sair do Euro é a única saída para o povo grego
Manolis Glezos é considerado um grande herói de guerra na Grécia. Aos 19 anos, ele
arrancou a bandeira nazista do alto da Acrópole. Aos 92 anos, o parlamentar do
Syriza foi o mais votado nas eleições que colocaram seu partido no governo do país.
Em recente pronunciamento, Glezos não escondeu seu descontentamento em relação aos posicionamentos assumidos pelo governo que ajudou a eleger. Principalmente, nas negociações com a chamada “troika”, formada por Banco Central Europeu, FMI e Comissão Europeia.
Glezos acha que o primeiro-ministro Alexis Tsipras vem fazendo concessões demais. O voto do povo grego, diz ele, foi pela imediata abolição das medidas de austeridade e rompimento com a troika. E é este compromisso que deve ser respeitado acima de todos os outros.
Alguns companheiros de seu partido não concordam. Dizem que o rompimento seria o caos causado por fortes medidas de retaliação por parte dos credores da Grécia. Mas tudo indica que o veterano combatente tem razão.
A única saída que interessa ao povo grego é deixar a zona do euro. O caos já está instalado no país desde 2008. A vitória do Syriza já provocou uma grande fuga de capitais. Nenhum dos outros 18 governos da união monetária apoia medidas de alívio para os gregos.
Para a Grécia, manter a situação atual significa continuar na condição de colônia econômica da Alemanha. Permanecer presa a um mercado cativo voltado para a exploração pelo imperialismo germânico.
“Não pode haver compromisso entre o escravo e o tirano. Liberdade é a única solução”, diz Glezios, como se ainda avistasse uma bandeira inimiga fincada na Acrópole.
Leia também:
Grécia e Alemanha. Quem deve a quem?
A Europa corroída por sua moeda
Em recente pronunciamento, Glezos não escondeu seu descontentamento em relação aos posicionamentos assumidos pelo governo que ajudou a eleger. Principalmente, nas negociações com a chamada “troika”, formada por Banco Central Europeu, FMI e Comissão Europeia.
Glezos acha que o primeiro-ministro Alexis Tsipras vem fazendo concessões demais. O voto do povo grego, diz ele, foi pela imediata abolição das medidas de austeridade e rompimento com a troika. E é este compromisso que deve ser respeitado acima de todos os outros.
Alguns companheiros de seu partido não concordam. Dizem que o rompimento seria o caos causado por fortes medidas de retaliação por parte dos credores da Grécia. Mas tudo indica que o veterano combatente tem razão.
A única saída que interessa ao povo grego é deixar a zona do euro. O caos já está instalado no país desde 2008. A vitória do Syriza já provocou uma grande fuga de capitais. Nenhum dos outros 18 governos da união monetária apoia medidas de alívio para os gregos.
Para a Grécia, manter a situação atual significa continuar na condição de colônia econômica da Alemanha. Permanecer presa a um mercado cativo voltado para a exploração pelo imperialismo germânico.
“Não pode haver compromisso entre o escravo e o tirano. Liberdade é a única solução”, diz Glezios, como se ainda avistasse uma bandeira inimiga fincada na Acrópole.
Leia também:
Grécia e Alemanha. Quem deve a quem?
A Europa corroída por sua moeda
25 de fevereiro de 2015
A ditadura de 1964 era militar e empresarial
Vito Giannotti |
Um exemplo: Harry Shibata foi o médico legista que assinou a autópsia de Vladimir Herzog. Trata-se da principal peça da farsa que transformou o assassinato do jornalista em suicídio. Ele também foi médico da CIPA da Cobrasma (Companhia Brasileira de Materiais Ferroviários). Policial assalariado pela empresa para assinar laudos referentes às mortes de operários que morriam em acidentes em suas dependências. Muito provavelmente, tão falsos quanto os de Herzog.
Do material de apoio do projeto, consta a reportagem de Marina Amaral publicado pela Agência Pública, em fevereiro de 2012. A jornalista entrevistou José Paulo Bonchristiano, um dos poucos delegados ainda vivos que participaram das ações repressivas durante a ditadura. Ele conta que Roberto Marinho, da Globo, “passava no DOPS para conversar com a gente quando estava em São Paulo”. Ou que Octávio Frias, da Folha de S. Paulo, se oferecia para atender ao “que o DOPS precisasse”. Relata ainda que Amador Aguiar, fundador do Bradesco mobiliou a sede do DOPS, no bairro paulistano de Higienópolis.
Tudo isso mostra que o regime de 1964 foi uma ditadura empresarial-militar. Os generais tiveram apoio decisivo de corporações que continuam impunes e faturando bilhões.
Leia mais sobre o projeto clicando aqui
Leia também: DOI-Codi: uma vovó rejuvenescida
24 de fevereiro de 2015
Telefone para Neguinho da Beija-Flor
Causaram
escândalo as recentes declarações de Neguinho da Beija-Flor sobre a origem dos
financiamentos dos desfiles das escolas de samba. Segundo o sambista, “o maior
espetáculo audiovisual do planeta” só é possível graças à contravenção.
As ligações do samba com atividades ilegais vêm de longa data. Para começar, seus praticantes eram considerados culpados pelo delito de vadiagem. No início do século 20, por exemplo, o sambista João da Baiana costumava ter seu pandeiro frequentemente apreendido pela polícia.
Um desses confiscos o impediu de comparecer a uma festa na casa do senador Pinheiro Machado. Diante disso, o poderoso político presenteou o sambista com um novo pandeiro. O instrumento trazia a assinatura de Machado, garantindo a seu proprietário livre circulação pela capital carioca.
A contravenção aparece também no primeiro samba gravado no Brasil. Sua versão mais popular denunciava os laços íntimos entre contraventores e poder público:
Os
versos atribuídos a Donga e Mauro de Almeida faziam referência a Aurelino Leal,
chefe da polícia carioca nos anos 1930. No combate aos jogos de azar, Leal
tinha fama de alertar os contraventores contra os quais ele próprio ordenava
diligências.
Há muito tempo, fazer samba já não é delito. Mas permanece sendo coisa de preto e pobre. Como tal, continua a ser empurrado para a ilegalidade. O poder público despeja dinheiro nos desfiles sem licitação ou transparência enquanto fecha os olhos para patrocínios ilícitos ou imorais.
O mais provável é que Neguinho da Beija-Flor também receba muitas ligações dos atuais “chefes da polícia”.
Leia também: O samba ontem, o funk hoje
As ligações do samba com atividades ilegais vêm de longa data. Para começar, seus praticantes eram considerados culpados pelo delito de vadiagem. No início do século 20, por exemplo, o sambista João da Baiana costumava ter seu pandeiro frequentemente apreendido pela polícia.
Um desses confiscos o impediu de comparecer a uma festa na casa do senador Pinheiro Machado. Diante disso, o poderoso político presenteou o sambista com um novo pandeiro. O instrumento trazia a assinatura de Machado, garantindo a seu proprietário livre circulação pela capital carioca.
A contravenção aparece também no primeiro samba gravado no Brasil. Sua versão mais popular denunciava os laços íntimos entre contraventores e poder público:
O chefe da polícia/ Pelo telefone/ Mandou avisar/ Que na Carioca/
Tem uma roleta/ Para se jogar
Há muito tempo, fazer samba já não é delito. Mas permanece sendo coisa de preto e pobre. Como tal, continua a ser empurrado para a ilegalidade. O poder público despeja dinheiro nos desfiles sem licitação ou transparência enquanto fecha os olhos para patrocínios ilícitos ou imorais.
O mais provável é que Neguinho da Beija-Flor também receba muitas ligações dos atuais “chefes da polícia”.
Leia também: O samba ontem, o funk hoje
23 de fevereiro de 2015
A luta de Malcolm X contra a escuridão conservadora
Há 50
anos, morria assassinado Malcolm X. O grande líder antirracista costuma ser lembrado
por suas frases. Uma delas, serviria perfeitamente à situação dos pretos no
Brasil, vítimas preferenciais da repressão estatal:
Leia também: Quando pentear o cabelo sangra
Se você vive numa sociedade supostamente baseada na lei e
ela infringe a sua própria lei porque a cor de uma pessoa é considerada errada,
então este povo está justificado a agir por qualquer meio necessário para
realizar a justiça que seu governo não oferece.
Mas sua
luta não se limitava à defesa da resistência popular, radical e justa. Nascido
Malcolm Little, substituiu o sobrenome imposto pelos antigos escravizadores de
seus antepassados pelo X. Sua família passaria a ser formada pelos companheiros
no combate ao racismo.
Criança abandonada, entrou cedo para o crime. Jovem, envolveu-se com tráfico e consumo de drogas. Condenado, transformou a experiência da prisão em emancipação pessoal. Aderiu a uma versão fanática do islamismo e ao ódio contra os brancos para abandonar ambos.
Pouco antes de morrer, suas posturas já se mostravam fortemente inclinadas para a denúncia do caráter classista e imperialista do racismo. Passou a ver a emancipação de toda a humanidade como condição para a libertação de seu povo.
Esta trajetória transformou alguém condenado a apodrecer nos porões da sociedade num combatente pela liberdade humana. Por isso, a frase que, talvez, resuma melhor a luta de Malcolm X seja:
Criança abandonada, entrou cedo para o crime. Jovem, envolveu-se com tráfico e consumo de drogas. Condenado, transformou a experiência da prisão em emancipação pessoal. Aderiu a uma versão fanática do islamismo e ao ódio contra os brancos para abandonar ambos.
Pouco antes de morrer, suas posturas já se mostravam fortemente inclinadas para a denúncia do caráter classista e imperialista do racismo. Passou a ver a emancipação de toda a humanidade como condição para a libertação de seu povo.
Esta trajetória transformou alguém condenado a apodrecer nos porões da sociedade num combatente pela liberdade humana. Por isso, a frase que, talvez, resuma melhor a luta de Malcolm X seja:
As únicas pessoas que realmente mudaram a história foram as
que mudaram o pensamento dos homens a respeito de si mesmos.
O
grande objetivo de Malcolm X era livrar a si mesmo e outros explorados e
oprimidos da escuridão conservadora.
Leia também: Quando pentear o cabelo sangra
11 de fevereiro de 2015
A polícia brasileira alcança suas metas matando
Em três dias, "quinze mortos" em Salvador, relataram alguns jornais,
recentemente. Como sempre, as vítimas eram jovens, negras e pobres. Supostos
suspeitos, julgados e executados em um só e rápido movimento pela polícia.
A excelente reportagem “O fracasso de um modelo violento e ineficaz de polícia” mostra que episódios desse tipo estão longe de ser isolados. Escrita por Fernanda Mena e publicada no caderno Ilustríssima em 08/02, a matéria traz novas informações que confirmam uma velha tragédia.
Um exemplo é o conteúdo da seguinte gravação: "A gente nem começou a bater em vocês e já tão chorando?". A voz é de um policial dirigindo-se a dois adolescentes negros detidos como suspeitos de praticar furtos na região central do Rio.
Logo depois, a mesma voz volta a ser ouvida: "Menos dois. Se a gente fizer isso toda semana, dá pra ir diminuindo. A gente bate meta, né?". Referia-se à eliminação dos dois garotos. Mas o alcance da “meta” ficou comprometido, pois um dos adolescentes “sobreviveu porque conseguiu se fingir de morto mesmo ao ser chutado por um dos policiais”.
Difícil encontrar exemplo mais claro das práticas de extermínio adotadas por nossa “segurança pública”. A matéria revela que mais de 2.200 pessoas foram mortas pelas polícias brasileiras, em 2013. No mesmo período, a polícia norte-americana matou 409.
Os comandantes das forças repressivas locais justificam esta disparidade apontando outra. Dizem que aqui temos seis vezes mais homicídios do que nos Estados Unidos. Por esta lógica, o policial da gravação não deixa de ter suas razões. Em uma fábrica de mortes, é sempre importante “bater meta, né?”
Leia também: DOPS, DIP, PT, PSDB e outras siglas
A excelente reportagem “O fracasso de um modelo violento e ineficaz de polícia” mostra que episódios desse tipo estão longe de ser isolados. Escrita por Fernanda Mena e publicada no caderno Ilustríssima em 08/02, a matéria traz novas informações que confirmam uma velha tragédia.
Um exemplo é o conteúdo da seguinte gravação: "A gente nem começou a bater em vocês e já tão chorando?". A voz é de um policial dirigindo-se a dois adolescentes negros detidos como suspeitos de praticar furtos na região central do Rio.
Logo depois, a mesma voz volta a ser ouvida: "Menos dois. Se a gente fizer isso toda semana, dá pra ir diminuindo. A gente bate meta, né?". Referia-se à eliminação dos dois garotos. Mas o alcance da “meta” ficou comprometido, pois um dos adolescentes “sobreviveu porque conseguiu se fingir de morto mesmo ao ser chutado por um dos policiais”.
Difícil encontrar exemplo mais claro das práticas de extermínio adotadas por nossa “segurança pública”. A matéria revela que mais de 2.200 pessoas foram mortas pelas polícias brasileiras, em 2013. No mesmo período, a polícia norte-americana matou 409.
Os comandantes das forças repressivas locais justificam esta disparidade apontando outra. Dizem que aqui temos seis vezes mais homicídios do que nos Estados Unidos. Por esta lógica, o policial da gravação não deixa de ter suas razões. Em uma fábrica de mortes, é sempre importante “bater meta, né?”
Leia também: DOPS, DIP, PT, PSDB e outras siglas
O impeachment e o parlamentarismo peemedebista
“Há chances de impeachment?”, pergunta o filósofo Renato Janine Ribeiro em artigo
publicado pelo Valor, em 09/02. O autor compara a atual situação ao cerco a
Getúlio Vargas, em 1954.
Mas, tal como Vargas, o PT teria base social suficiente para causar tantos problemas como causaram os getulistas aos golpistas de 1954. Seria o bastante para que uma campanha pelo impeachment seja considerada uma opção arriscada também para os golpistas de 2015.
Marcos Nobre vai por outro caminho. Em entrevista publicada pela revista Época em 07/02, o professor da Unicamp afirma que “o PT não lidera mais o governo". Ele criou a tese de que um bloco de forças políticas vem impondo sua vontade aos governos de plantão há décadas. É o “peemedebismo”, mais forte que nunca.
O atual cabeça do “peemedebismo” é Eduardo Cunha. Sua vitória na Câmara teria tirado a iniciativa política de Dilma. O impeachment poderia levar a disputa para as ruas. Para Cunha bem mais interessante “é ficar com essa espada na cabeça da Dilma o tempo inteiro”, afirma Nobre.
Ou seja, parece que estamos sob um parlamentarismo informal. Enquanto Dilma chefia o Estado, Cunha e Renan mandam no governo. Esta fórmula, adotada em quase toda a Europa, costuma resultar em governos estáveis.
Mas, atualmente, isso vale para poucos países europeus. Na Grécia e na Espanha, por exemplo, o parlamentarismo tem sofrido forte cerco popular. Resultado dos graves problemas sociais causados por anos de governos antipopulares.
Aqui, governados pelo peemedebismo, podemos chegar a esse estágio rapidamente. E aí, um impeachment talvez venha a ser o menor dos nossos problemas.
Leia também: A volta da “austeridade” que nunca foi embora
Mas, tal como Vargas, o PT teria base social suficiente para causar tantos problemas como causaram os getulistas aos golpistas de 1954. Seria o bastante para que uma campanha pelo impeachment seja considerada uma opção arriscada também para os golpistas de 2015.
Marcos Nobre vai por outro caminho. Em entrevista publicada pela revista Época em 07/02, o professor da Unicamp afirma que “o PT não lidera mais o governo". Ele criou a tese de que um bloco de forças políticas vem impondo sua vontade aos governos de plantão há décadas. É o “peemedebismo”, mais forte que nunca.
O atual cabeça do “peemedebismo” é Eduardo Cunha. Sua vitória na Câmara teria tirado a iniciativa política de Dilma. O impeachment poderia levar a disputa para as ruas. Para Cunha bem mais interessante “é ficar com essa espada na cabeça da Dilma o tempo inteiro”, afirma Nobre.
Ou seja, parece que estamos sob um parlamentarismo informal. Enquanto Dilma chefia o Estado, Cunha e Renan mandam no governo. Esta fórmula, adotada em quase toda a Europa, costuma resultar em governos estáveis.
Mas, atualmente, isso vale para poucos países europeus. Na Grécia e na Espanha, por exemplo, o parlamentarismo tem sofrido forte cerco popular. Resultado dos graves problemas sociais causados por anos de governos antipopulares.
Aqui, governados pelo peemedebismo, podemos chegar a esse estágio rapidamente. E aí, um impeachment talvez venha a ser o menor dos nossos problemas.
Leia também: A volta da “austeridade” que nunca foi embora
9 de fevereiro de 2015
A crise ambiental, a cota do xixi e a cota de merda
... onde trabalho, (...) já estamos implementando a “cota
do xixi”. Ou seja, só acionamos a descarga depois de três usos do vaso sanitário.
As palavras acima são de Pedro Telles, coordenador do Greenpeace, em entrevista ao site da Unisinos, publicada em 09/02. Parece exagero, mas é bem possível que seja apenas razoável.
Pelo menos, é o que se conclui do artigo “Fronteiras Planetárias 2.0”, de José Eustáquio Diniz Alves, professor da Escola Nacional de Ciências Estatísticas do IBGE. O texto, publicado pelo portal EcoDebate, em 06/02, explica o que seriam as nove “fronteiras planetárias”. Entre elas, estão mudanças climáticas, integridade da biosfera, camada de ozônio, acidificação dos oceanos e o uso global de água doce.
Alves cita recente estudo publicado na revista “Science”, constatando que quatro daquelas nove fronteiras foram ultrapassadas: mudanças climáticas, perda da integridade da biosfera; mudança no uso da terra; fluxos biogeoquímicos. Destas, a mudança climática e a integridade da biosfera são consideradas “limites fundamentais”. Uma vez ultrapassadas, podem acelerar um processo que levaria “a civilização ao colapso”.
Ainda segundo Alves, “fica claro que o atual sistema econômico está nos levando para um futuro insustentável e as novas gerações terão mais dificuldade para sobreviver com qualidade de vida”.
Ainda assim, haverá muitos que continuarão ignorando o desastre se aproximando. Principalmente, entre os que detêm os poderes de decisão no Brasil e no mundo. Suas prioridades são atender os interesses de uma minoria formada por controladores de enormes corporações capitalistas.
Enquanto nos preparamos para a “cota do xixi”, eles já estouraram sua “cota de merda” há muito tempo. E não pretendem parar.
Leia também: Capitalismo: fim com terror ou terror sem fim?
As palavras acima são de Pedro Telles, coordenador do Greenpeace, em entrevista ao site da Unisinos, publicada em 09/02. Parece exagero, mas é bem possível que seja apenas razoável.
Pelo menos, é o que se conclui do artigo “Fronteiras Planetárias 2.0”, de José Eustáquio Diniz Alves, professor da Escola Nacional de Ciências Estatísticas do IBGE. O texto, publicado pelo portal EcoDebate, em 06/02, explica o que seriam as nove “fronteiras planetárias”. Entre elas, estão mudanças climáticas, integridade da biosfera, camada de ozônio, acidificação dos oceanos e o uso global de água doce.
Alves cita recente estudo publicado na revista “Science”, constatando que quatro daquelas nove fronteiras foram ultrapassadas: mudanças climáticas, perda da integridade da biosfera; mudança no uso da terra; fluxos biogeoquímicos. Destas, a mudança climática e a integridade da biosfera são consideradas “limites fundamentais”. Uma vez ultrapassadas, podem acelerar um processo que levaria “a civilização ao colapso”.
Ainda segundo Alves, “fica claro que o atual sistema econômico está nos levando para um futuro insustentável e as novas gerações terão mais dificuldade para sobreviver com qualidade de vida”.
Ainda assim, haverá muitos que continuarão ignorando o desastre se aproximando. Principalmente, entre os que detêm os poderes de decisão no Brasil e no mundo. Suas prioridades são atender os interesses de uma minoria formada por controladores de enormes corporações capitalistas.
Enquanto nos preparamos para a “cota do xixi”, eles já estouraram sua “cota de merda” há muito tempo. E não pretendem parar.
Leia também: Capitalismo: fim com terror ou terror sem fim?
Grécia e Alemanha. Quem deve a quem?
Manifestação em Atenas |
Mas dívidas representam um problema para praticamente todos os países. Os Estados Unidos, por exemplo, são os maiores devedores do mundo. Só que ninguém é louco de cobrar.
Já a potência alemã, é uma grande credora. Principalmente, dos europeus e, em especial, dos gregos, a quem apertam como nunca. Mas a Alemanha também teve seus problemas graves com dívidas.
Para começar, no início dos anos 1950, o país dirigido por Angela Merkel devia quase 30 bilhões de marcos. Um acordo com seus credores reduziu o valor para menos da metade.
Por trás das negociações, a pressão americana, que temia a influência soviética sobre os derrotados da Segunda Guerra. De qualquer maneira, foi através da renegociação de sua dívida que a Alemanha arrancou para tornar-se a atual potência mundial. Entre os países que perdoaram os débitos alemães, estava a Grécia.
Mas a história começou antes disso. Nos anos 1940, ocupada pelos nazistas, a Grécia teve que emitir milhões em sua moeda nacional para que os invasores alemães financiassem seus esforços de guerra. Em troca, os alemães deixaram um documento em que se comprometiam devolver o montante. Compromisso jamais honrado.
Os alemães podem alegar que se trata de uma dívida ilegítima, contraída para arrasar a economia de países inteiros e eliminar milhões de vidas. Os gregos poderiam responder que o atual governo alemão já vem tentando fazer algo parecido, só que por outros meios.
Leia também:
Aprendendo a aprender com o Syriza
Capitalismo é dívida, paga pelos pobres
5 de fevereiro de 2015
DOI-Codi: uma vovó rejuvenescida
Os carrascos do DOI-Codi gostavam tanto do que faziam que batizaram seu local de
“trabalho” de “Casa da Vovó”. Este também é o título do livro recém-lançado pelo
jornalista Marcelo Godoy sobre um dos maiores centros de repressão da ditadura
militar.
Outro apelido para o lugar era “açougue”. Bastante adequado, pois em suas dependências, pelo menos 66 pessoas morreram e 39 foram torturadas. Número admitido pelos 25 agentes da repressão entrevistados pelo autor.
Godoy também cita a influência da doutrina de segurança francesa sobre o aparato repressivo nacional. Segundo essa concepção surgida no combate aos revolucionários argelinos, a guerra contra a subversão deve começar não a partir do primeiro tiro disparado, mas do primeiro panfleto distribuído.
Baseada nesse princípio, a repressão da ditadura castigou não apenas a oposição armada, mas qualquer um que divulgasse ideias ou intenções não aceitas pelo regime. Uma evidência clara do caráter fascista e covarde das ações cometidas pelos carrascos militares.
Godoy também cita algumas práticas aperfeiçoadas pelo DOI-Codi que continuam até hoje. Agora, castigam principalmente pobres e pretos, maiores vítimas das execuções e torturas cometidas pela polícia.
Mas, há pouco tempo, reapareceu outro mecanismo fascista daquela época que estava esquecido. Foi colocado em uso durante a prisão ilegal de dezenas de manifestantes, processados por participar dos protestos iniciados em junho de 2013.
Entre as “evidências” apresentadas contra os acusados, estão escutas telefônicas, camisetas, revistas, livros, panfletos... Enfim, intenções e ideias.
Meio século depois, a vovó não só continua firme, como rejuvenesceu ao rever sua antiga amiga, a doutrina francesa. Um reencontro gentilmente promovido por seus novos netos e afilhados.
Leia também: A surdez de quem esqueceu os próprios gritos
Outro apelido para o lugar era “açougue”. Bastante adequado, pois em suas dependências, pelo menos 66 pessoas morreram e 39 foram torturadas. Número admitido pelos 25 agentes da repressão entrevistados pelo autor.
Godoy também cita a influência da doutrina de segurança francesa sobre o aparato repressivo nacional. Segundo essa concepção surgida no combate aos revolucionários argelinos, a guerra contra a subversão deve começar não a partir do primeiro tiro disparado, mas do primeiro panfleto distribuído.
Baseada nesse princípio, a repressão da ditadura castigou não apenas a oposição armada, mas qualquer um que divulgasse ideias ou intenções não aceitas pelo regime. Uma evidência clara do caráter fascista e covarde das ações cometidas pelos carrascos militares.
Godoy também cita algumas práticas aperfeiçoadas pelo DOI-Codi que continuam até hoje. Agora, castigam principalmente pobres e pretos, maiores vítimas das execuções e torturas cometidas pela polícia.
Mas, há pouco tempo, reapareceu outro mecanismo fascista daquela época que estava esquecido. Foi colocado em uso durante a prisão ilegal de dezenas de manifestantes, processados por participar dos protestos iniciados em junho de 2013.
Entre as “evidências” apresentadas contra os acusados, estão escutas telefônicas, camisetas, revistas, livros, panfletos... Enfim, intenções e ideias.
Meio século depois, a vovó não só continua firme, como rejuvenesceu ao rever sua antiga amiga, a doutrina francesa. Um reencontro gentilmente promovido por seus novos netos e afilhados.
Leia também: A surdez de quem esqueceu os próprios gritos
A volta da “austeridade” que nunca foi embora
Em 01/02, o insuportável William Waack apresentava mais um “Globo News Painel”. O tema era “Políticas de austeridade e seus efeitos”. Os convidados, como quase sempre acontece, eram especialistas ligados ao mercado e acadêmicos fãs dele.
Durante uma discussão sobre semelhanças entre Brasil e Grécia, todos concordaram quanto às diferenças entre as situações econômicas dos dois países. Mas um dos participantes, o economista Paulo Rabelo de Castro, sugeriu que aqui, como lá, medidas de austeridade já vêm sendo adotadas há muito tempo.
Segundo Rabelo, a política econômica é a mesma desde FHC. Trata-se da combinação superávit primário e juros altos. E citou a contribuição petista para a continuidade dessa história. Há dez anos, disse ele, o Brasil vem mantendo uma média de 3% do PIB destinado ao superávit primário. Algo que nenhuma economia do mundo fez, garantiu.
O superávit primário representa uma enorme sangria dos recursos públicos. São cerca de R$ 67 bilhões embolsados anualmente por 20 mil famílias através dos títulos da dívida pública brasileira. O Bolsa-Família paga R$ 25 bilhões a 14 milhões de famílias.
Rabelo é presidente da SR Rating, uma agência de avaliação de risco. Também afirmou ter se formado na mesma escola que Joaquim Levy, o atual campeão das medidas de austeridade do governo Dilma. Nem um pouco inclinado a radicalismos esquerdistas, portanto.
Já a realidade, esta, sim, é radical. Em 2014, o setor industrial sofreu queda de 3,7%, mas o bancário cresceu 18%. Mesmo assim, os governistas continuam dizendo que Dilma descontentou os banqueiros. E a oposição afirma que precisamos de mais austeridade. Caminham separados na mesma direção.
Leia também: A “austeridadezinha” da ortodoxia petista
3 de fevereiro de 2015
O orgulho de ser gay e anticapitalista
Há filmes que surpreendem pela capacidade de nos deixar otimistas.
“Orgulho” (“Pride”), de Matthew Warchus, é um deles. A trama é relativamente
simples, mas envolve situações muito complexas.
Trata-se da história de um coletivo gay que decide apoiar trabalhadores em greve nos anos 1980, na Inglaterra. Mais especificamente, os mineiros que, em 1984, iniciaram uma paralisação que duraria dois anos.
O movimento grevista não envolvia apenas salários ou condições de trabalho. Seu maior objetivo era impedir que o neoliberalismo de Margareth Thatcher triunfasse, destruindo sindicatos e empregos.
O problema é que o preconceito impedia as lideranças dos mineiros de aceitar a ajuda dos ativistas homossexuais. A aliança somente se consolidaria em uma pequena cidade próxima a Londres. Lá também os gays foram recebidos com hostilidade. Mas contando com a ajuda das mulheres do lugarejo, conquistaram a tão necessária unidade de classe entre explorados e oprimidos.
As contradições são mais agudas porque os homossexuais também passavam por um momento terrível. As inúmeras mortes que a AIDS começava a causar eram comemoradas como manifestação do castigo divino pelos conservadores. Infelizmente, entre estes últimos também estavam muitos trabalhadores. Daí, a resistência de muitos gays em apoiar os grevistas.
O filme aborda, de modo direto e claro, o enorme desafio que é unir a luta contra a exploração com o combate à opressão. No caso desta produção baseada em fatos reais, o final é emocionante e capaz de enternecer até os mais amargos corações socialistas.
O filme parece não ter marcado presença nos cinemas brasileiros. Mas vale a pena procurá-lo na internete. Dá orgulho de ser gente.
Leia também: A onda conservadora não é evangélica
Trata-se da história de um coletivo gay que decide apoiar trabalhadores em greve nos anos 1980, na Inglaterra. Mais especificamente, os mineiros que, em 1984, iniciaram uma paralisação que duraria dois anos.
O movimento grevista não envolvia apenas salários ou condições de trabalho. Seu maior objetivo era impedir que o neoliberalismo de Margareth Thatcher triunfasse, destruindo sindicatos e empregos.
O problema é que o preconceito impedia as lideranças dos mineiros de aceitar a ajuda dos ativistas homossexuais. A aliança somente se consolidaria em uma pequena cidade próxima a Londres. Lá também os gays foram recebidos com hostilidade. Mas contando com a ajuda das mulheres do lugarejo, conquistaram a tão necessária unidade de classe entre explorados e oprimidos.
As contradições são mais agudas porque os homossexuais também passavam por um momento terrível. As inúmeras mortes que a AIDS começava a causar eram comemoradas como manifestação do castigo divino pelos conservadores. Infelizmente, entre estes últimos também estavam muitos trabalhadores. Daí, a resistência de muitos gays em apoiar os grevistas.
O filme aborda, de modo direto e claro, o enorme desafio que é unir a luta contra a exploração com o combate à opressão. No caso desta produção baseada em fatos reais, o final é emocionante e capaz de enternecer até os mais amargos corações socialistas.
O filme parece não ter marcado presença nos cinemas brasileiros. Mas vale a pena procurá-lo na internete. Dá orgulho de ser gente.
Leia também: A onda conservadora não é evangélica
Abram alas para o capital estrangeiro na Saúde
Muito antes do carnaval, já havia gente usando máscaras. E, justo agora, que a
folia se aproxima, resolveu deixá-las cair.
O exemplo mais recente foi a sanção da Medida Provisória 656 pela presidenta Dilma. O caso ganhou repercussão devido ao veto à imoral renegociação das dívidas dos clubes de futebol embutida na MP.
Mas pouco se falou de outro artigo da MP, aceito sem maiores problemas. Trata-se da abertura do setor de saúde ao capital estrangeiro. Uma medida inconstitucional e extremamente negativa para a saúde pública do País.
O governo alega que o capital estrangeiro já vem participando do setor há muito tempo. A nova lei teria apenas regulamentado uma situação de fato. É verdade. É o que mostra, por exemplo, a entrada no Brasil dos grupos Carlyle e UnitedHealth. E este último já chegou comprando a Amil.
O problema é que esta invasão de dinheiro forasteiro já deveria ter sido questionada pelas autoridades por sua total ilegalidade. Ao invés disso, preferem usá-la para dizer que, arrombada a porta, deixemos que os invasores fiquem à vontade. Quem sabe, até aceitem um cafezinho.
Como se aproxima mais uma folia momesca, só nos resta cantar como sugeriu Márcio Amaral. O médico, militante em defesa da saúde pública e vice-diretor IPUB-UFRJ, puxa o coro:
O
pior é que por debaixo das máscaras que já caíram parece haver muitas outras.
Leia também: A cobertura universal que só serve à saúde do capital
O exemplo mais recente foi a sanção da Medida Provisória 656 pela presidenta Dilma. O caso ganhou repercussão devido ao veto à imoral renegociação das dívidas dos clubes de futebol embutida na MP.
Mas pouco se falou de outro artigo da MP, aceito sem maiores problemas. Trata-se da abertura do setor de saúde ao capital estrangeiro. Uma medida inconstitucional e extremamente negativa para a saúde pública do País.
O governo alega que o capital estrangeiro já vem participando do setor há muito tempo. A nova lei teria apenas regulamentado uma situação de fato. É verdade. É o que mostra, por exemplo, a entrada no Brasil dos grupos Carlyle e UnitedHealth. E este último já chegou comprando a Amil.
O problema é que esta invasão de dinheiro forasteiro já deveria ter sido questionada pelas autoridades por sua total ilegalidade. Ao invés disso, preferem usá-la para dizer que, arrombada a porta, deixemos que os invasores fiquem à vontade. Quem sabe, até aceitem um cafezinho.
Como se aproxima mais uma folia momesca, só nos resta cantar como sugeriu Márcio Amaral. O médico, militante em defesa da saúde pública e vice-diretor IPUB-UFRJ, puxa o coro:
Ô
Abre alas para o CAPITAL
Ô Abre Alas para o CAPITAL
Se é estrangeiro, isso não faz mal (E)
Pouco me importa se é INCONSTITUCIONAL!
(Repete e substitui o último verso por)
Nesse governo só tem CARA DE PAU!
Ô Abre Alas para o CAPITAL
Se é estrangeiro, isso não faz mal (E)
Pouco me importa se é INCONSTITUCIONAL!
(Repete e substitui o último verso por)
Nesse governo só tem CARA DE PAU!
Leia também: A cobertura universal que só serve à saúde do capital
2 de fevereiro de 2015
Um oásis libertário e feminista na Síria
Na cidade de Kobane, região da Rojava, no norte da Síria, há um oásis de luta
libertária. Ele surgiu quando seus habitantes expulsaram os representantes da
ditadura Assad da cidade, em 2011. A partir daí, foram criadas assembleias
populares e conselhos compostos paritariamente por curdos, árabes, assírios e armênios
cristãos. Todos com representação feminina garantida. Trata-se de uma espécie
de comuna anarquista, que tenta armar todos os seus membros para não precisar
de polícia, exército e muito menos de um Estado.
Além disso, em pleno mundo islâmico, foi formado o exército feminista “União de Mulheres Livres – Estrela”. Suas integrantes foram responsáveis por grande parte das operações que expulsaram as temidas forças do Estado Islâmico de Kobane, em janeiro passado. Para os “jihadistas”, a derrota foi desastrosa porque desmentiu sua fama de invencibilidade. Mas foi ainda mais doloroso perder para mulheres, a quem desprezam e querem ver oprimidas e não utilizando armas com grande habilidade.
Infelizmente, essa corajosa iniciativa revolucionária deve atrair inimigos de todos os lados. Além dos Estado Islâmico e as potências da região, como a Turquia, também os membros da OTAN. O objetivo da guerra na Síria é substituir uma ditadura por outra. Não permitir que surjam e prosperem comunas libertárias. A experiência curda lembra a Comuna de Paris, o início da revolução dos sovietes e a resistência espanhola contra o fascismo.
Talvez, possa se mostrar tão fundamental como essas outras experiências históricas. Mesmo derrotadas, elas deixaram conquistas que incomodam os poderosos até hoje. Que o oásis curdo faça florescer muitos jardins nos desertos de injustiças em que vivem os povos do mundo.
Leia mais em: DavidGraeber narra Revolução de Kobane
Leia também: O sotaque inglês do monstro islâmico
Além disso, em pleno mundo islâmico, foi formado o exército feminista “União de Mulheres Livres – Estrela”. Suas integrantes foram responsáveis por grande parte das operações que expulsaram as temidas forças do Estado Islâmico de Kobane, em janeiro passado. Para os “jihadistas”, a derrota foi desastrosa porque desmentiu sua fama de invencibilidade. Mas foi ainda mais doloroso perder para mulheres, a quem desprezam e querem ver oprimidas e não utilizando armas com grande habilidade.
Infelizmente, essa corajosa iniciativa revolucionária deve atrair inimigos de todos os lados. Além dos Estado Islâmico e as potências da região, como a Turquia, também os membros da OTAN. O objetivo da guerra na Síria é substituir uma ditadura por outra. Não permitir que surjam e prosperem comunas libertárias. A experiência curda lembra a Comuna de Paris, o início da revolução dos sovietes e a resistência espanhola contra o fascismo.
Talvez, possa se mostrar tão fundamental como essas outras experiências históricas. Mesmo derrotadas, elas deixaram conquistas que incomodam os poderosos até hoje. Que o oásis curdo faça florescer muitos jardins nos desertos de injustiças em que vivem os povos do mundo.
Leia mais em: DavidGraeber narra Revolução de Kobane
Leia também: O sotaque inglês do monstro islâmico
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