Em seu livro “A China venceu?”, Kishore Mahbubani aponta um grande erro estratégico cometido por China e Estados Unidos em sua relação mútua. Trata-se da incapacidade de suas lideranças compreenderem que, juntas, elas teriam muito a ganhar. Mas levando em conta tudo o que Mahbubani relata, poderíamos acrescentar outro erro estratégico. Seria aquele cometido pelos socialistas em relação à rivalidade sino-americana.
Trata-se de acreditar que essa polarização tão fundamental para o mundo atual oponha dois sistemas antagônicos.
Na verdade, o que a obra de Mahbubani acaba, involuntariamente, nos revelando é uma rivalidade muito forte sobre qual força está melhor preparada para manter operante um único sistema, o capitalista.
E a situação fica ainda mais grave quando um autor liberal como Mahbubani defende o modelo chinês, assumindo que ele é superior ao estadunidense porque já não há como administrar o capitalismo preservando nem mesmo as aparências de qualquer participação democrática mais ampla.
Há quem diga que a China não está se rendendo ao capitalismo. Seria o capitalismo que estaria se submetendo aos objetivos chineses. Cada um acredita no que quiser.
O fato é que tudo indica que o modelo chinês está se transformando na boia de salvação do capitalismo. Um modelo ainda mais autoritário, ainda mais submetido à ditadura da circulação das mercadorias e que tende a agravar a crise ambiental.
Que o sistema proposto pela China pareça servir melhor à globalização capitalista do que o estadunidense só quer dizer uma coisa. Que o capitalismo está vencendo por lá, também. E para os socialistas, trata-se, acima de tudo, de derrotá-lo.
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