Doses maiores

30 de maio de 2014

A “pátria de chuteiras” e a esquerda de coturnos

A grande mídia continua sua ofensiva contra as manifestações. Considera como “confronto” a covarde violência policial contra militantes desarmados, por exemplo. E o Globo acaba de divulgar um manifesto assinado por 300 “intelectuais” contra o bloqueio de ruas por manifestantes.

Em 28/05, ocorreram manifestações de professores no Rio e contra a Copa em Brasília. Em ambos os locais, a PM distribuiu balas de borracha à vontade, acompanhadas de muitas cacetadas. A imprensa preferiu destacar uma suposta flechada de um indígena  contra um policial.

Enquanto isso, o governo federal anuncia que as tropas do Exército se encarregarão da segurança dos aeroportos, dos hotéis e das ruas por onde circularão as delegações da Copa do Mundo e autoridades em geral.

Só no Rio serão até 20 mil agentes em ação diariamente. São tropas das Forças Armadas, das polícias estaduais, guarda municipal e polícias Federal e Rodoviária, além do Corpo de Bombeiros.

O setor de aviação do Exército vem treinando homens para executar manobras especiais nas cidades-sede da Copa. Elas envolvem “pouso de assalto diurno e noturno, fast rope, rapel, lançamento de panfletos e tiro embarcado”.

O dispositivo militar e a máquina de propaganda da grande mídia se preparam para uma guerra. Mas do outro lado, não há armas. Só manifestantes exercendo seu legítimo direito de protestar.

Nos anos 1970, a ideologia da “pátria de chuteiras” ajudou a justificar a ditadura militar. Algo parecido volta a acontecer. A terrível diferença é que estamos na democracia, sob um governo de esquerda, e quem sentiu o peso dos coturnos nos porões da repressão agora não hesita em calçá-los.

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28 de maio de 2014

Honrando esteiras e porcos

No momento em que nossos indígenas sofrem terríveis ataques a seus direitos, seria bom lembrar um livro chamado “O Papalagui”, de 1920. Trata-se da tradução feita pelo alemão Erich Scheurmann dos pensamentos de Tuiávii, chefe da comunidade da ilha de Upolu, em Samoa, na Polinésia.

“Papalagui” em samoano quer dizer “homem branco” ou “europeu”. Tuiávii admira os prodígios de que são capazes os brancos. Mas também enxerga neles “loucos furiosos”. “Eles se matam”, diz ele. “O sangue, o pavor, a destruição reinam”.

Em um de seus comentários mais interessantes, o líder samoano diz:

A palmeira deixa cair as folhas e frutos que estão maduros. Mas o Papalagui vive como se a palmeira quisesse retê-los. "São meus! Não os tereis! Jamais deles comereis!" Mas como faria então a palmeira para dar novos frutos? A palmeira é muito mais sábia do que o Papalagui.

Também entre nós existem muitos que possuem mais do que outros. É certo também que honramos o nosso chefe que tem muitas esteiras, muitos porcos, mas é só a ele que honramos, e não às esteiras e aos porcos. Estas coisas fomos nós mesmos que lhe demos de presente, como alofa [retribuição], para mostrar-lhe o nosso contentamento, para louvar a sua grande coragem, a sua grande inteligência. Mas o Papalagui o que honra são as esteiras e os porcos em quantidade que seu irmão possui; pouco lhe importa sua coragem ou sua inteligência. O irmão que não tem esteiras nem porcos, poucas honras recebe, ou não recebe honra alguma.

Somos assim. Desonramos pessoas e sua dignidade. Honramos esteiras vermelhas por onde desfilam porcos engravatados.

O avanço da direita na Europa

As recentes eleições para o Parlamento Europeu mostraram que a extrema-direita cresce na região.

Na Inglaterra, o Partido da Independência do Reino Unido (UKIP) ficou em primeiro lugar. Vitória de uma proposta que é contra a imigração e defende as ideias de Margareth Thatcher.

Na França, a Frente Nacional, de extrema-direita, também se tornou a primeira força política. O mesmo aconteceu com seu equivalente ideológico na Dinamarca, o Partido Popular.

O FPO, organização alemã de extrema-direita, quase dobrou os votos que conquistou em 2009. Na Grécia, os líderes neonazistas do Aurora Dourada estão presos. Mesmo assim, o partido chegou a 10% dos votos.

É particularmente preocupante a distribuição de votos no caso francês. A direita ficou com 48% dos votos de trabalhadores, 37% dos empregados, 38% dos desempregados e 30% dos menores de 35 anos. Votaram na esquerda 8% dos trabalhadores, 16% dos empregados e 15% dos menores de 30 anos.

Uma forte razão para estes resultados é a notória rendição da esquerda moderada às propostas dos conservadores. Os chamados socialdemocratas aceitam ou adotam docilmente medidas como cortes de salários e leis anti-imigração, por exemplo.

A grande mídia vem dizendo que as eleições europeias foram marcadas pela vitória dos “radicais”. À direita e à esquerda, “extremistas” teriam derrotado os moderados.

Mas o fato é que o parlamento burguês é um lugar em que a direita se sente à vontade e se fortalece. Já as forças de esquerda, quase sempre atolam nesse terreno.

Por isso, é preciso priorizar a ação nas ruas e a construção de organizações democráticas a serviço da luta dos explorados e oprimidos.

27 de maio de 2014

Somos todos vira-latas

“Não temos o complexo de vira-latas”, disse Dilma Roussef, recentemente, em resposta aos críticos da Copa do Mundo.

A expressão foi usada por Nelson Rodrigues, logo depois da derrota da seleção brasileira na Copa de 1950. Mas também serviria para a situação de inferioridade em que os brasileiros se colocariam diante do resto do mundo.

Muitos intelectuais da elite realmente acreditavam, e acreditam, nesta inferioridade. E ela se deveria ao caráter mestiço do povo brasileiro. Certa vez, Monteiro Lobato, por exemplo, disse que o Brasil era “filho de pais inferiores”. Seu povo, desprovido do “sangue de alguma raça original”.

Mais recentemente, a mestiçagem ganhou caráter positivo. Mas começou a ser utilizada para esconder o racismo brasileiro. “Aqui não há racismo”, dizem. “Somos todos juntos e misturados”. Discurso desmentido pelas condições de vida muito piores reservadas à população negra.

De qualquer maneira, pureza de raça nunca foi vantagem. Ao contrário, a biologia já provou que a diversidade só traz benefícios. O melhor exemplo são exatamente os vira-latas. Aqueles cães e gatos sem raça definida, que enchem as ruas das cidades brasileiras.

Resultado da mistura constante de raças, a falta de pedigree do vira-lata é compensada por muitas vantagens. Entre elas, a resistência a doenças e a inteligência estimulada pela necessidade de sobreviver. A mesma que os torna fiéis companheiros de quem os acolhe.

Nos jogos da Copa, os que têm pedigree estarão nas áreas Vips dos estádios. Desfrutando do conforto pago pela grande maioria formada por vira-latas. Mas muitos destes últimos estarão nas ruas, protestando. Oprimidos e explorados, juntos e misturados.

Somos vira-latas. Nunca desistimos!

26 de maio de 2014

Números para todos os desgostos

Números podem ser recolhidos, combinados e arranjados de várias formas. Mas, principalmente, podem ser sintomáticos.

Em 19/05, a presidenta Dilma lançou o que foi anunciado como “o maior Plano Safra da história do país”. Trata-se de um programa que financia o agronegócio. Foram R$ 156 bilhões em investimentos.

Enquanto isso, a verba governamental para a agricultura familiar é de apenas R$ 21 bilhões. E o Ministério do Desenvolvimento Agrário, responsável pela Reforma Agrária, tem um orçamento de R$ 4,8 bilhões.

Em 20/05, os jornais divulgaram que o TCU estima em R$ 203 bilhões as perdas do Tesouro Federal em isenções fiscais para grandes empresas, como as automobilísticas.

A revista Forbes informa que o patrimônio das 15 famílias mais ricas do Brasil é dez vezes maior que a renda de 14 milhões de grupos familiares atendidos pelo programa Bolsa Família.

A página eletrônica do Partido da Causa Operária lembra alguns dados do censo do IBGE de 2010:

...mais de 115 milhões de brasileiros, quase 60% da população brasileira, vive com menos de um salário mínimo de renda mensal per capita. Cerca de 50 milhões de pessoas vivem com até meio-salário mínimo de renda mensal. Outras 16,2 milhões de pessoas vivem com menos de R$ 70 por mês e quase cinco milhões de pessoas não têm renda alguma.

Por fim, a Copa do Mundo de Futebol custará o triplo do que o governo federal planeja gastar nas obras de transposição do rio São Francisco.

Ainda sobre a Copa e arredores: ingresso para a Abertura, R$ 990. Ingresso para a Final: R$ 1.980. Salário Mínimo: R$ 724.

22 de maio de 2014

O apocalipse nunca foi marxista

A grande imprensa continua dando destaque ao livro “O Capital no Século 21”, de Thomas Piketty. A obra costuma ser elogiada por desmentir tanto as promessas de prosperidade capitalista quanto o “apocalipse marxista”. Esta última expressão aparece no livro, mesmo que seu autor nunca tenha lido Marx.

Na verdade, é muito difícil encontrar previsões nos escritos marxistas, muito menos profecias e revelações. O mais próximo que Marx e Engels chegaram disso está no “Manifesto Comunista”. É a famosa descrição dos proletários como coveiros da burguesia. A imagem tem seus motivos. Coveiros não matam, apenas enterram.

O capitalismo teria um fim não apenas devido a suas próprias contradições, mas porque na História tudo chega a um fim. Ao mesmo tempo, Marx e Engels fazem o célebre chamado: “Proletários do mundo, uni-vos!”. Ajam, explorados! Mexam-se ou vocês também serão enterrados com o capitalismo.

A intenção não era tanto prever um desastre final, mas mostrar que a vitória do comunismo não seria inevitável. Por isso, a importância da ação humana. A necessidade de lutar. Afinal, o Manifesto é um genial texto de agitação.

Já “O Capital”, com seu caráter pesadamente teórico, priorizava a descoberta de tendências históricas, não fatos do futuro. Mesmo assim, a obra não deixa dúvidas: o sistema capitalista é insustentável como resposta às necessidades do conjunto da humanidade.

Estamos em plena crise econômica mundial e à beira de um colapso climático. Sofremos desastres ambientais em escala planetária. Envenenamos terra, água, flora e fauna. Já são alguns séculos de guerras ininterruptas. Mais de 840 milhões passam fome no mundo. Tudo isso acontecendo e o apocalipse é marxista?

Futebol para poucos e ricos. E para muitos e pobres

O futebol já não é o esporte das multidões há algum tempo. É o que mostram dados da CBF em relação à média de público no Campeonato Brasileiro: em 2007, eram 17.461 pessoas por jogo. Em 2012, não passou de 12.970. Mas a arrecadação pulou de cerca de R$ 80 milhões para R$ 119 milhões, no mesmo período. Então, para alguns privilegiados a conta fecha, não para o torcedor.

Apesar disso, acabam de ser construídos estádios grandes e caros. Um exemplo é o Mané Garrincha, de Brasília. Depois de gastar mais de R$ 1,4 bilhão de dinheiro público em reformas, o estádio passou a ter capacidade para 71 mil torcedores. Mas, em 2013, o campeonato brasiliense teve média de 1.176 pagantes por partida. Passada a Copa, a nova arena ficará às moscas.

O mesmo vale para quase todos os outros estádios recém-construídos para o torneio mundial de futebol. Mas mesmo que a modernização das arenas compensasse, a quem ela vai efetivamente beneficiar? Não se trata apenas do valor alto dos ingressos. Praticamente, apenas clubes de futebol das séries A e B jogarão neles. O que envolve apenas 40 times, ou menos de 6% do total.

Por outro lado, são quase 31 mil jogadores profissionais no País. Número significativo. Só que 82% deles recebiam até dois salários mínimos em 2012, segundo dados da CBF. Já os que ganhavam acima de 20 salários mínimos, não passavam de 2%.

O futebol é a cara do Brasil, realmente. E a Copa do Mundo vem aí para não deixar dúvidas.

21 de maio de 2014

A Copa e a máquina militar do governo petista

O futebol já não é o esporte das multidões há algum tempo. É o que mostram dados da CBF em relação à média de público no Campeonato Brasileiro: em 2007, eram 17.461 pessoas por jogo. Em 2012, não passou de 12.970. Mas a arrecadação pulou de cerca de R$ 80 milhões para R$ 119 milhões, no mesmo período. Então, para alguns privilegiados a conta fecha, não para o torcedor.

Apesar disso, acabam de ser construídos estádios grandes e caros. Um exemplo é o Mané Garrincha, de Brasília. Depois de gastar mais de R$ 1,4 bilhão de dinheiro público em reformas, o estádio passou a ter capacidade para 71 mil torcedores. Mas, em 2013, o campeonato brasiliense teve média de 1.176 pagantes por partida. Passada a Copa, a nova arena ficará às moscas.

O mesmo vale para quase todos os outros estádios recém-construídos para o torneio mundial de futebol. Mas mesmo que a modernização das arenas compensasse, a quem ela vai efetivamente beneficiar? Não se trata apenas do valor alto dos ingressos. Praticamente, apenas clubes de futebol das séries A e B jogarão neles. O que envolve apenas 40 times, ou menos de 6% do total.

Por outro lado, são quase 31 mil jogadores profissionais no País. Número significativo. Só que 82% deles recebiam até dois salários mínimos em 2012, segundo dados da CBF. Já os que ganhavam acima de 20 salários mínimos, não passavam de 2%.

O futebol é a cara do Brasil, realmente. E a Copa do Mundo vem aí para não deixar dúvidas.

19 de maio de 2014

A Copa e a impossível neutralidade das armas

Em 17/05, Joana Cunha, da Folha de São Paulo, entrevistou Rafael Alcadipani, professor da FGV e especialista em organizações empresariais. Perguntado sobre a necessidade de medidas contra a depredação de vitrines, concessionárias e caixas eletrônicos por manifestantes, ele respondeu:

Fica muito desagradável para uma marca ter policiais com escudos e cassetetes protegendo algum elemento de publicidade nas ruas, como totens alusivos à Copa do Mundo ou a fachada de seus estabelecimentos. Deixa evidente que o equilíbrio social está rompido.

Este raciocínio lembra o que costumava dizer o cientista político argentino Guillermo O'Donnell. Ele afirmava que a dominação burguesa diferencia-se das que a antecederam pela separação entre a classe dirigente e os meios de repressão que defendem seus interesses.

Realmente, os capitalistas não controlam diretamente as forças armadas e as polícias. O Estado faz isso por eles e, assim, aparece como uma instituição neutra. Um juiz cuja principal função seria manter o jogo em andamento. O problema é que o jogo tem regras que só favorecem um lado. O crescimento da desigualdade social que se espalha pelo mundo é prova inegável disso.

O governo federal já gastou R$ 49,5 milhões em armas “não letais”. Aquelas que mutilam e cegam, mas dificilmente matam. O armamento será usado pela polícia nas 12 cidades que sediarão jogos da Copa do Mundo.

O professor da FGV tem razão. Pega muito mal ver a PM protegendo vitrines e fachadas. Escancara o caráter de classe do Estado. Mas o aparato militar que está sendo montado para a Copa fará exatamente isso. E sob o comando de um partido nem um pouco neutro.

Os Panteras Negras contra a homofobia

17 de maio foi Dia Mundial contra a Homofobia. Infelizmente, é mais uma daquelas datas com pouco ou nenhum efeito prático. Mas serve para lembrar como é dura a luta contra a perseguição aos homossexuais. Mesmo em setores populares de esquerda esta é uma bandeira pouco respeitada.

Mas há exemplos históricos que são exceção importante a esta regra. Um deles é oferecido pelo Partido dos Panteras Negras, que atuou nos Estados Unidos de 1966 ao início dos anos 1980. As informações são do livro “Praise for Black against Empire”, de Joshua Bloom e Waldo E. Martin, ainda sem edição em português.

Em 1970, os Panteras divulgaram um documento sobre o Movimento Feminista e o Movimento de Libertação Gay assinado por Huey Newton, um de seus fundadores. O texto caracterizou os homossexuais e as mulheres como “oprimidos”, observando que os homossexuais "podem ser considerados as pessoas mais oprimidas da sociedade” e argumentando que todos devem ter “liberdade para usar seu corpo da maneira que quiserem.”

O texto também recomendava aos membros do Partido que evitassem utilizar ofensas como “veado” e “bicha” entre eles próprios e em relação a “inimigos do povo”. “Os homossexuais não são inimigos do povo”, dizia.

Apesar disso, o machismo permanecia forte entre os membros do Partido, segundo o testemunho de lideranças como Angela Davis e Erica Huggins. Uma das razões para esta persistência era a enorme repressão que se abatia sobre a organização. Segundo Erica, os militantes não tinham muito tempo para pensar em machismo e homofobia, pois estavam tentando permanecer vivos.

Esta desculpa nossos partidos e organizações não têm.

Leia também: Panteras Negras: contra a polícia, a legalidade armada

15 de maio de 2014

O delírio de Krugman e Piketty

Paul Krugman tornou-se o fã número um do livro “O capital no século 21”, de Thomas Piketty. Anda dizendo que os conservadores estão apavorados com o sucesso da obra. Temem que ela seja usada para justificar o aumento de impostos sobre os ricos.

O problema é que Krugman e Piketty propõem que esta tributação seja feita pelo mesmo Estado que está aí, em todo mundo, fazendo exatamente o contrário. Não apenas deixa os ricos em paz, como os presenteia com doses cavalares de dinheiro barato ou gratuito.

E isso acontece mesmo em países cujo governo é ocupado pela esquerda ou coisa parecida. Obama despejou U$ 22 trilhões na economia americana. Foi quase tudo destinado novamente para a ciranda financeira que quebrou a economia em 2008.

A taxação sobre grandes fortunas está na Constituição brasileira. Nunca saiu do papel e o PT, há doze anos no poder, quer que ela continue lá. Prefere utilizar o BNDES para conceder empréstimos para sujeitos como Eike Baptista.

Na Europa, os socialistas e trabalhistas que passaram por vários governos fazem e fizeram o mesmo. Nem um governo considerado ultrarradical, como o de Hugo Chávez, propôs algo parecido.

Krugman é um keynesiano histórico. Claro que tem muitas divergências com os neoliberais. Mas, como eles, também acredita que o socialismo é uma utopia. No entanto, delírio mesmo é o que ele e Piketty estão propondo.

Na verdade, as preocupações dos conservadores estão em outros lugares. Nas contradições insolúveis que o capitalismo continua a acumular e na crescente onda mundial de resistência popular contra as injustiças que são a base de seu poder.

Leia também: Thomas Piketty e sua radiografia do óbvio

Nestas eleições, não saia das ruas

Em 05/05, Cristian Klein publicou a matéria “Desencantado, eleitor se afasta dos partidos”, no Valor. A reportagem cita dados de recente pesquisa do Datafolha, que apontam a queda da preferência partidária pelos eleitores para apenas 30%, atingindo o menor nível em 25 anos.

Mas há outro número relevante na matéria. Trata-se da proporção dos que pretendem votar branco ou nulo para presidente. Na eleição de 1989, eles eram 11% dos pesquisados. Desde então, esta proporção veio caindo, chegando a 8%, em 2010. Mas em 2014, poderia chegar aos 20%.

São dados que certamente animam os setores de esquerda que defendem o voto nulo nas próximas eleições. Mas esta posição apresenta muitos problemas. Vários deles são abordados em um ótimo texto que Mauro Iasi publicou no blog da Boitempo em 14/05.

O artigo combate possíveis ilusões no papel politizador do voto nulo. Cita textos de Marx, Engels, Lênin, Trotski, Lukács, Gramsci, Rosa e até Che Guevara sobre a questão. Todos defendem a importância da participação dos revolucionários no jogo eleitoral.

Iasi é candidato à presidência pelo PCB nas próximas eleições. Apesar disso, reconhece as justas razões de quem não aguenta mais a farsa eleitoral. Afirma que o centro da luta está nas ruas, “porque é lá que se joga a parte essencial do jogo político e onde os interesses da maioria podem emergir”.

No final, Iasi faz uma proposta aos setores da esquerda combativa: “Anule seu voto, vote na esquerda revolucionária… mas, não saia das ruas! É por lá que passa a mudança”. Perfeito!

Leia a o artigo de Mauro Iasi, clicando aqui.

14 de maio de 2014

Pirataria praticada por gente graúda pode

A hepatite C afeta aproximadamente 3% da população mundial. Já existem medicamentos eficazes para combater a doença. Mas custam cerca de 150 mil reais para um ano de tratamento. Os preços elevados seriam devido ao custo das pesquisas, dizem as grandes farmacêuticas que comercializam o remédio. Afirmação falsa como um placebo.

Estes dados são do artigo “Patentes, a privatização do esforço comum” publicado pela IHU-Online, em 02/05. Vejam o que diz um trecho:

As farmacêuticas descreveram a hepatite? NÃO. Os vírus? NÃO. Foram elas as que, quando a hepatite se chamava não-A e não-B, descobriram o novo vírus que, mais tarde, chamou-se de “C”? NÃO. Foram elas que descreveram os marcadores sorológicos para detectar no sangue? NÃO. Foram elas que descobriram os diversos genótipos? NÃO. São elas que descobriram as polimerasas? NÃO. Elas fizeram a sequência do genoma do vírus da hepatite C?  NÃO. Elas descobriram o papel chave da proteína NS5A para sua sobrevivência? NÃO. Foram elas que descobriram os inibidores desse NS5A? NÃO... O que elas fizeram? Coletaram toda essa informação, poliram um pouco a molécula, engarrafaram-na e usaram sua posição no mercado para distribuí-la.

E isso vale para todas as maravilhas oferecidas pelas grandes empresas, incluindo as badaladas Google e Apple. Na grande maioria dos casos, foram as universidades e laboratórios públicos que chegaram às inovações. Mas este saber acumulado por milhares de pesquisadores é simplesmente entregue pelo Estado aos gigantes do mercado.

Enquanto isso, a repressão estatal cai sobre pessoas e pequenas organizações que fazem cópias de programas e outros produtos. A única pirataria permitida é aquela praticada por gente graúda.

13 de maio de 2014

Thomas Piketty e sua radiografia do óbvio

O livro “Capital in the Twenty-First Century” (“O capital no século 21”) continua a causar sensação. Escrita pelo economista francês Thomas Piketty, a obra afirma que a vocação do capitalismo é criar mais desigualdade social.
 
Piketty estudou dados de 30 países referentes ao período de 1700 a 2012. Verificou que a produção anual cresceu em média 1,6%, mas o rendimento do capital foi de 4 a 5%. Números que comprovam o que Marx já havia afirmado, século e meio atrás.
A diferença é que Piketty não é marxista e utiliza métodos da economia clássica, que sempre afirmou que no capitalismo a desigualdade tende a diminuir. O economista francês afirma que, em 300 anos de capitalismo, a desigualdade só caiu nos 25 anos após o genocídio provocado por duas guerras mundiais. 
 
É a pressão dessa realidade que vem levando lideranças mundiais a admitir os males do capitalismo. O Papa Francisco afirmou em um documento publicado em 2012: “Não podemos mais confiar nas forças cegas e na mão invisível do mercado”. Em suas campanhas eleitorais Barack Obama e François Hollande destacaram os problemas criados pela desigualdade.
 
O estudo de Piketty é uma contribuição importante, sem dúvida. Mas quem luta contra o capitalismo já havia sido informado de seu conteúdo muito antes. O movimento Occupy, por exemplo, desde 2008 vem alertando: 99% da humanidade são explorados pelo 1% que controla a riqueza e o patrimônio mundial.
 
Resta saber se a esquerda que governa continuará tentando gerenciar uma máquina que só sabe produzir injustiça social. Se escolherá a tradição revolucionária de Marx ou a radiografia do óbvio de Piketty.
 

12 de maio de 2014

A luta contra o racismo mais eficaz do mundo

O racismo é uma das manifestações da luta de classes. Portanto, podemos afirmar que a luta anti-racismo não fragmenta a luta proletária. Mas, ao contrário, fragmentamos o proletariado quando deixamos de incorporar efetivamente a luta anti-racismo, pois assim deixamos de trazer pras nossas trincheiras parte da parcela maior da nossa classe.

O trecho acima é do texto “O lugar do racismo na luta de classes brasileira. O dilema do proletariado preto”, de Gas-PA, rapper do coletivo de hip-hop “Lutarmada”. Trata-se de uma contribuição muito importante, mas quase solitária na esquerda brasileira.

Mais de um século após o fim da escravidão legal no País, a população negra continua a ter negados os direitos mais básicos. Mesmo assim, permanece forte o mito da democracia racial.

E até na difícil tarefa de combater o que Gas-PA considera “o racismo mais eficaz do mundo”, os pretos têm trabalho redobrado:

Por uma nítida opção, aos brancos basta a produção teórica de seus pares. Mas, além de se apropriar das mesmas fontes que os camaradas brancos, aos pretos é necessária ainda a apreensão do que já foi produzido pelos autores da diáspora africana. E como na maioria das vezes essa produção teórica dos pretos não leva em consideração o fator “classe”, ainda recai sobre o militante preto produzir combinando esses vários legados. Mas não termina aí. Aos militantes pretos cabe ainda a tarefa de ler o que setores do Movimento Negro escrevem contra o marxismo, pra poder tecer a crítica sobre essas obras. Não é fácil!

Não é fácil, mesmo. Mas podemos começar a colaborar, divulgando o documento de Gas-PA.

Clique aqui para ter acesso ao texto na íntegra.

Leia também: Panteras Negras: contra a polícia, a legalidade armada

9 de maio de 2014

Avançar da greve para o controle do trabalho

Em 08/05, aconteceram várias greves de motoristas e cobradores em grandes cidades brasileiras. Rio de Janeiro, Florianópolis, Campinas e o grande ABC amanheceram com poucos ônibus circulando.

Diante do desgaste causado pela falta de transporte, muitos sugerem medidas alternativas à simples paralisação do serviço. Uma delas seria a circulação dos ônibus sem a cobrança de passagem.

Trata-se de uma boa proposta, sem dúvida. Mas ela implica controlar o trabalho. Não apenas paralisá-lo. Em seu texto “A Dinâmica dos Movimentos de Massa”, o marxista inglês Colin Barker lembra momentos em que algo semelhante aconteceu.

Em 1919, Na Greve geral de Seattle, Estados Unidos, os caminhões só circulavam com autorização dos comitês de trabalhadores. O abastecimento na cidade não foi interrompido, mas somente ocorria sob o controle dos grevistas.

Na Polônia, em 1980, os bondes e trens de Gdansk circulavam com cartazes que diziam: “Ainda estamos em greve, mas estamos trabalhando para facilitar sua vida”. Os serviços de taxi ficaram sob o controle do comitê de greve. As fábricas de conservas, também. Segundo Barker:

O significado potencial de tais desenvolvimentos é imenso, pois envolvem novas formas de poder popular, com organismos de trabalhadores começando a assumir o controle do transporte e da distribuição de alimentos.

O problema é que são medidas que exigem um nível de organização e conscientização que o movimento sindical tradicional dificilmente alcança. Ao contrário, a greve dos motoristas cariocas, por exemplo, foi feita contra a vontade do próprio sindicato da categoria.

Para chegar a controlar seu próprio trabalho, os trabalhadores precisam fugir ao controle das direções pelegas de seus sindicatos.

8 de maio de 2014

O que esperar da calmaria na economia mundial

Em seu mais recente artigo, publicado na revista ZMag, Jack Rasmus prevê anos de pesadelo para a economia mundial. O texto é “Economia global: rumo à grande tempestade?”, disponível no portal “Outras Palavras”, desde 30/04.

Basicamente, Rasmus aponta três tendências econômicas globais que teriam se intensificado e vêm convergindo nos últimos meses: desaceleração econômica na China, colapso das moedas dos “mercados emergentes” e deflação nas economias da zona do euro. Destas tendências, a mais preocupante é a que envolve a China.

O motor da economia mundial girava 14% de crescimento do PIB até 2008. Desde então, o giro caiu pela metade. Pior que isso, desde 2012, um sistema bancário paralelo surgiu. Fugindo à regulamentação estatal, estas instituições podem estar gestando uma espécie de subprime à chinesa. Para completar, as dívidas pública e privada chinesas subiram de 130% do PIB, em 2008, para os atuais 230%, com os bancos paralelos controlando 90% delas.

O fato é que a maior parte da enorme quantidade de dinheiro injetado na economia continuou no circuito especulativo. Nos Estados Unidos, por exemplo, U$ 22 trilhões saíram dos cofres públicos, entre 2009 e 2013. Desse total, 95% foram destinados aos investidores mais ricos e suas instituições:

Esses ganhos não fluíram para a economia dos EUA, mas sim para os mercados emergentes estrangeiros, para a especulação de títulos financeiros ou foram de algum modo guardados como saldo em caixa e em contas em paraísos fiscais no exterior.

A grande mídia continua a comemorar o fim da crise de 2008. Mas não se pode confiar em calmarias quando há sementes de tempestade pelo ar.

Leia a íntegra do artigo aqui.

7 de maio de 2014

Linchamentos são as manchas de nossa gangrena social

Ninguém estudou os linchamentos no Brasil tanto quanto o sociólogo José de Souza Martins. São mais de 30 anos dedicados ao estudo do fenômeno.

Em 17/02/2008, Martins deu entrevista sobre o assunto ao jornal Estado de S. Paulo. Naquele momento, ele calculou em mais de 500 mil os que já haviam participado de linchamentos nos últimos 50 anos no Brasil. A grande maioria deles, pobres, na condição de vítimas e agressores.

Em outubro de 1996, o sociólogo publicou o artigo “Linchamento, o lado sombrio da mente conservadora”, na revista “Tempo Social”, da USP. No texto, polemizava com quem considerava esse tipo de “justiçamento” popular um embrião de movimento social. Para Martins, essa iniciativa coletiva devia-se, pelo menos em parte:

... à ampla desmoralização das instituições, especialmente a Justiça e a Polícia, durante a ditadura. O governo militar interferiu ativamente nelas para torná-las parciais e submetê-las às suas diretrizes políticas.

Seis anos depois, o governo federal é ocupado por uma das muitas vítimas das torturas cometidas nos porões da ditadura. Continuamos esperando que seja feita justiça em relação a esses atos, que são ainda piores que os linchamentos.

Estes últimos são resultado de explosões irracionais da ira popular, baseada no sentimento de impunidade. As torturas foram motivadas por uma racionalidade doentia a serviço do poder mais despótico.

São 29 anos desde o fim da ditadura militar e meio século de domínio por uma minoria violenta e racista. O linchamento e a tortura permanecem como manchas escuras, sintomas de relações sociais gangrenadas.

6 de maio de 2014

As mãos sujas do governo brasileiro no Haiti

Em 30/04, completaram-se 10 anos da invasão do Haiti por tropas da ONU, lideradas por brasileiros. Na Unicamp, o haitiano Franck Seguy acaba de apresentar sua tese de doutorado sobre um dos aspectos da ocupação. O título é "A catástrofe de janeiro de 2010, a 'Internacional Comunitária' e a recolonização do Haiti".

Seguy disse ao jornal da Unicamp que a ajuda internacional a seu país é uma “grande mentira”. A missão é de paz, afirma ele, mas o país nunca esteve em guerra. E qualquer semelhança com a “pacificação” violenta das favelas brasileiras não é coincidência. Vários soldados que atuam na implantação das UPPs no Rio de Janeiro treinaram no Haiti.

Comentando o terremoto de 2010, Seguy afirma que a região mais atingida foi o departamento onde fica a capital, Porto Príncipe. Mas os recursos para a “reconstrução” estão sendo utilizados longe dali, no nordeste do país.

É lá que está sendo implantado um parque industrial têxtil voltado para a exportação. O principal destino da produção será os Estados Unidos. Pagando salários de 5 dólares por dia, tecidos e vestuário chegarão aos mercados americanos a preços chineses.

Tudo isso é parte de um acordo assinado com a secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e a companhia de têxtil coreana, Sae-A Trading.

Enquanto isso, até o início de 2014, mais de 150 mil pessoas continuavam desabrigadas em Porto Príncipe. Morando em tendas e sem água “nem para lavar as mãos”, diz Seguy. Também não há água que lave a sujeira das mãos do governo brasileiro em toda essa vergonhosa operação.

5 de maio de 2014

A esquerda e a luta por liberdade sexual

“O AI-5 atrasou por anos o movimento gay no Brasil", diz o historiador James Green, da Universidade de Brown, Estados Unidos. A afirmação foi feita em entrevista a Tatiana Merlino, publicada pela Carta Capital em 29/04.

Green é fundador do grupo “Somos”, pioneiro na afirmação homossexual durante a ditadura militar no Brasil. Para ele, a decretação do AI-5, em 1968, não atingiu apenas a dimensão política da oposição ao Regime Militar. A época era de grande questionamento ao conservadorismo, incluindo a luta por liberdade sexual e de afirmação gay.

Green acha que não fosse a ditadura, “o mesmo tipo de organizações que existiam na Argentina ou em Nova York, organizações LGBT, feministas, também surgiriam aqui para forjar movimentos de questionamento do conservadorismo da sociedade brasileira”. Mas a intolerância com a diversidade sexual não era exclusividade da direita.

O entrevistado menciona um episódio vergonhoso. Uma organização da luta armada chegou a considerar a possibilidade de “justiçar” dois de seus militantes por serem homossexuais. Felizmente, o ato não se concretizou.

Os ativistas gays só conseguiriam se manifestar abertamente na época das grandes greves, no final dos anos 1970. Vários de seus coletivos apoiaram as lutas operárias, defendendo a inclusão do respeito ao trabalhador homossexual nas pautas sindicais. Claro que os sindicatos não lhes deram ouvidos.

Na verdade, a grande maioria da esquerda continua avessa a lutas envolvendo a liberdade e a diversidade sexual. No momento em que se exige a punição aos crimes dos carrascos da ditadura, esta deveria ser mais uma questão a diferenciar todos nós da direita. Ainda não é.

2 de maio de 2014

1° de Maio, redução da jornada e emprego

O 1o de Maio é lembrado como Dia da Luta dos Trabalhadores desde que quatro operários de Chicago, Estados Unidos, foram executados. Seu crime, liderar greves e manifestações pela redução da jornada de trabalho.

A luta pela diminuição e fixação das horas trabalhadas sempre foi fundamental. Essas medidas proporcionam mais tempo para os trabalhadores descansarem, se educarem e, principalmente, organizarem suas lutas contra a exploração. Além disso, criam novos postos de trabalho.

Nas manifestações, sorteios e shows deste 1º de Maio, o movimento sindical pediu a redução da jornada de trabalho. Mas o governo que a maioria das grandes centrais sindicais apoia está na contramão dessa luta.

O governo Dilma estaria preparando uma Medida Provisória que permite aos empregados trabalharem até metade do tempo, recebendo pouco mais que meio salário. Do jeito que está, a proposta não tem nada a ver com redução da jornada. É apenas redução salarial e ampliação dos lucros empresariais.

Enquanto isso, o projeto de lei que diminui a carga horária dos trabalhadores sem redução salarial mofa no Congresso Nacional há 19 anos.

Por outro lado, a pesquisa ampliada do IBGE sobre emprego apresenta números preocupantes. Segundo os dados, estariam desempregadas apenas 4% das pessoas em idade de trabalhar. Mas destas, somente 57% estariam realmente empregadas. Há um grupo que não trabalha nem procura emprego que chegaria a 39%.

Corrigir a tabela do Imposto de Renda, reajustar o Bolsa Família e manter os reajustes do salário mínimo são medidas positivas. Mas são marginais à necessária luta para diminuir a enorme taxa de exploração de que desfruta o grande capital no Brasil.

1 de maio de 2014

Chegou “O Capital do século 21”. Os capitalistas gostaram

O livro está em primeiro lugar entre os mais vendidos da Amazon. Paul Krugman escreveu no New York Times que se trata da mais importante publicação do ano em economia e, talvez, da década. O Financial Times considerou seu autor um “economista rock-star”. A Casa Branca tem mantido conversas com ele.

Estamos falando de Thomas Piketty, economista francês e autor de “Capital in the Twenty-First Century” (O capital no século 21). A grande novidade da obra seria a revelação de que o capitalismo é uma máquina que só produz desigualdade. Conclusão baseada em “dados fiscais” coletados desde o século 18 em 20 países.

O estudo, certamente, deve apresentar dados importantes. Mas é estranho que tenha sido recebida como obra reveladora. Afinal, mais de um século atrás, “O Capital”, de Karl Marx, já denunciava a inevitável concentração de renda e patrimônio provocada pelo capitalismo. Ao mesmo tempo, é provável que haja muitas diferenças entre as duas obras.

Quem já leu o trabalho de Piketty diz que ele propõe como solução para as contradições capitalistas forte regulação estatal e pesados impostos sobre os ricos. Algo com que Marx nunca concordaria. Para ele, o atual estado jamais controlaria o capital porque está a seu serviço. E taxar os exploradores implicaria aceitar sua existência como inevitável.

Mas a maior diferença entre os dois autores talvez não seja esta. Piketty vem sendo aclamado pelos donos do poder porque propõe ajustar o capitalismo para manter sua exploração. Os estudos de Marx sobre o funcionamento do capital estavam a serviço da luta por sua extinção. Um é economista. O outro era revolucionário.