Doses maiores

30 de agosto de 2013

O cirurgião que não podia usar as mãos

Em meio às hostilidades contra os médicos estrangeiros que chegaram ao Brasil, os conservadores não hesitaram em revelar seu racismo secular. Por isso, algumas pessoas andaram divulgando a história de Hamilton Naki na internete.

Este sul-africano nascido pobre em uma pequena aldeia chegou a dar aulas de medicina na Universidade da Cidade do Cabo. Mas jamais pode clinicar porque as leis racistas do apartheid proibiam que negros exercessem a medicina.

Naki começou a trabalhar na universidade como jardineiro. Aos poucos desenvolveu suas habilidades e conhecimentos tratando animais que serviam de cobaias. Seu talento e inteligência chamaram a atenção do médico Christiaan Barnard, com quem passou a trabalhar como técnico de laboratório. Mesmo recebendo um aumento na remuneração permaneceu registrado como jardineiro.

Barnard ficou famoso por ter realizado o primeiro transplante de coração bem sucedido entre seres humanos, em dezembro de 1967. Mas há relatos que dizem que o verdadeiro responsável pela cirurgia foi Naki. Ele teria orientado seus colegas, já que não podia tocar nos pacientes. Chegou a ser fotografado com os restante da equipe, mas a direção da faculdade afirmou que se tratava de um faxineiro.

Com o fim do apartheid veio o reconhecimento. Em 2002, Naki foi condecorado com a Ordem Nacional de Mapungubwe, destinado aos notáveis da ciência médica do país. Em 2003, finalmente recebeu o diploma de medicina da Universidade da Cidade do Cabo. Morreu dois anos depois, aos 78 anos.

A história poderia ser considerada bonita, mas não é. Nenhum reconhecimento apaga a vergonha que representa o racismo. Principalmente, em um ofício cuja missão maior é salvar vidas.

Leia também: Os médicos cubanos e a direita à vontade

29 de agosto de 2013

Os médicos cubanos e a direita à vontade

Nojentas muitas das reações à vinda de médicos estrangeiros patrocinada pelo governo brasileiro. Principalmente, em relação aos profissionais cubanos. Há de tudo. Do racismo mal disfarçado à xenofobia, passando por um anticomunismo digno dos porões do DOI-CODI.

Mas é mais um episódio que mostra a complexidade do momento político que vivemos. Queiramos ou não, quem governa o País há mais de 10 anos é um partido de esquerda. É verdade que governa protegendo os interesses da direita. Mas para a grande maioria da população ser petista é ser de esquerda.

A própria burguesia faz questão de lembrar isso a todo momento. É a desculpa para pagar com ingratidão os enormes favores que recebe do governo petista. A mesma ingratidão que leva a grande mídia a amaldiçoar diariamente os atuais governantes como esquerdistas enlouquecidos.

É isso que explica por que a direita ficou tão à vontade nas ruas em junho. Ela deixou de ser o alvo principal. Os setores que representa continuam sendo a principal causa por trás das desgraças sociais, mas se escondem atrás do biombo que os petistas e seus aliados lhes oferecem.

Neste cenário, o grande desafio da oposição de esquerda é combater os inimigos da direita e denunciar o comportamento vergonhoso de seus cúmplices no governo. Tudo isso sem ser confundida com a esquerda governista ou com as odiosas forças do conservadorismo.

Não é fácil. Nem sempre conseguimos. Mas é preciso manter a mira ajustada. E quando o racismo, a xenofobia e o anticomunismo atacam, não dá pra vacilar. A prioridade é pau neles!


27 de agosto de 2013

Os melhores filhos e filhas do povo estadunidense

Chelsea Manning ficou famosa quando ainda a chamavam de Bradley Manning e era soldado do Exército dos Estados Unidos. Nesta condição foi preso e processado por divulgar informações sigilosas do governo de seu país. Sua detenção aconteceu em 2010, enquanto ainda servia às tropas americanas no Iraque.

No último dia 22/08, Manning declarou que se considera mulher e pediu para ser chamada de Chelsea. A decisão é ainda mais corajosa porque a ex-soldado manteve a denúncia da política assassina do governo americano.

Estamos na iminência de mais uma possível intervenção militar do imperialismo ianque. Desta vez, na Síria. Uma carta recentemente divulgada por Chelsea talvez ajude a alertar para a necessidade de protestar contra mais este ataque americano a um povo.

Com a desculpa de deter os massacres da sangrenta ditadura Assad, as tropas estadunidenses pretendem promover suas próprias matanças. Referindo-se à reação após o 11 de Setembro, Chelsea afirma em seu texto:

Prendemos indivíduos em Guantánamo por anos, sem os devidos processos. Inexplicavelmente, fazíamos vista grossa às torturas e execuções praticadas pelo governo do Iraque. E engolíamos muitas outras coisas em nome da nossa guerra ao terror.

E citando o historiador Howard Zinn, Chelsea repete uma de suas certeiras frases sobre as consequências do estúpido patriotismo americano: “Não existe uma bandeira grande o suficiente para cobrir a vergonha de matar tanta gente inocente”.

No título de sua carta, Chelsea diz: “Na guerra, EUA esqueceram sua humanidade”. Mas a melhor parte da humanidade não esquecerá o heroísmo de muitos filhos e filhas do povo estadunidense.

As tartarugas na luta pela redução da jornada

“Mais rápido, mais rápido, mais rápido”, diz o título da matéria de Alexandre Rodrigues publicada no Valor, em 23/08. O artigo traz muitos dados interessantes. Um deles diz que “o volume de informação produzida entre o início das civilizações e 2003 hoje é criado a cada dois dias”. Outro afirma que “a percepção da passagem do tempo para um jovem de 22 anos é 8% mais rápida do que para alguém da mesma idade um século atrás”.

Mas engana-se quem pensa que se trata de fenômeno recente. O próprio artigo lembra que em Paris, por volta de 1900, “houve uma moda de andar com tartarugas em uma coleira, como forma de protesto”.

A capital francesa já era um centro capitalista e é aí que está a raiz do problema. O motor dessa aceleração toda é a mercadoria, cuja circulação precisa ficar cada vez mais rápida para manter elevadas as taxas de lucro da minoria exploradora. Já a maior parte do enorme volume de dados destacado pelo executivo da Google está a serviço dos circuitos monetários.

Para os meros mortais sobram consequências bastante cruéis. Basta lembrar as várias horas que milhões de trabalhadores perdem diariamente nos deslocamentos entre casa e trabalho. Ou a correria que significa criar filhos, cuidar de casa, trabalhar e tentar estudar. Principalmente, para as mulheres.

Daí a necessidade de priorizarmos a luta pela redução da jornada de trabalho. Poderíamos até levar tartarugas para nossas manifestações, não fosse o risco de que também acabassem vítimas da violência policial.

26 de agosto de 2013

A esquerda na contramão

Em 01/08, o jornalista José Roberto de Toledo comentou resultado de pesquisa realizada pelo Ibope sobre confiança nas instituições. Trata-se do Índice de Confiança Social, divulgado anualmente pelo instituto desde 2009.

No artigo intitulado “Protestos derrubam credibilidade das instituições”, Toledo destaca que das 18 instituições pesquisadas, todas se tornaram menos confiáveis. A lista inclui o Corpo de Bombeiros, partidos, igrejas, empresas, sindicatos, Organizações Não Governamentais (ONGs), imprensa, governo federal, prefeituras, Congresso Nacional e Judiciário.

O título do artigo sugere que essa perda da confiança ocorreu por causa das jornadas de junho. Mas é mais provável que tenha sido o inverso. As manifestações ocorreram exatamente pela queda da credibilidade das instituições junto à população. E a fraca reação delas só confirmou e acentuou aquela tendência.

O fato é que, há algum tempo, as instituições já não conseguem esconder seu caráter de instrumentos a serviço de uma minoria. É o resultado de décadas de total entrega do Estado aos interesses do mercado. O que ainda salva as aparências é a ideia de que o problema todo é a ação dos corruptos.

Enquanto isso, praticamente todos os setores da esquerda continuaram a apostar na institucionalidade. Daqueles que estão nos governos aos que lhes fazem oposição. Dos que atuam em partidos aos que estão nos movimentos sindical e popular.

Não se trata apenas da institucionalidade puramente estatal. Também inclui quem vive dela, direta ou indiretamente. Sindicatos, ONGs e outras entidades, dependentes de drogas como o imposto sindical, verbas e subsídios públicos.

Que as jornadas de junho nos tenham atropelado não é o pior. O pior será continuarmos na contramão.

23 de agosto de 2013

Memórias póstumas da CUT

Dizer que a CUT morreu não seria exato. A entidade continua atuante. O que faleceu foi sua disposição de luta contra os patrões e os governos que defendem seus interesses. O ano do triste acontecimento é 2003, quando Lula chegou ao governo federal. Para não ficar lamentando, lembremos algumas façanhas posteriores ao lamentável óbito.

Em outubro de 2011, Fiesp, Força Sindical e CUT lançaram um manifesto defendendo juros menores, aumento da produção e mais empregos no país. Em dezembro do ano seguinte, a Confederação Nacional da Indústria lançou uma cartilha intitulada “101 Propostas para Modernização Trabalhista”.

Por “modernização” entenda-se flexibilizar a legislação trabalhista. Por flexibilização entenda-se diminuir ou cortar direitos como descanso aos domingos, jornadas de trabalho fixadas em lei, licença-maternidade e outros.

Dessa a CUT ficou de fora. Mas já tinha se adiantado, apresentando o Acordo Coletivo Especial (ACE), em agosto de 2012. A proposta também defende mudanças nas leis trabalhistas. Basicamente, propõe negociações entre trabalhadores e patrões por empresa e não apenas por categoria, e que o negociado possa ignorar as leis. Uma festa para os patrões, como se vê.

Setores da própria CUT discordam. Alegam que a central ainda não fechou posição. Pode ser. Mas o presidente da entidade, Vagner Freitas, esteve em audiência com o governo em 15 de agosto de 2012. E o próprio site da CUT afirma que ele apresentou o ACE. Diz, ainda, que Freitas considera a proposta um “aperfeiçoamento e modernização da Lei”.

Tal como no famoso romance de Machado, resta saber a quem caberá o papel do verme que roerá “as frias carnes” desse cadáver.

Leia também:

22 de agosto de 2013

A CUT, entre achados e perdidos

No final de agosto de 1983, cerca de 5 mil trabalhadores brasileiros se reuniram em São Bernardo do Campo, no ABC paulista. Sua principal e histórica decisão: fundar a Central Única de Trabalhadores, a CUT.

A criação da central foi um grande achado da classe trabalhadora brasileira. O resultado de muitas lutas nas fábricas e no campo contra os patrões, a ditadura militar e seus representantes pelegos no movimento sindical. Sua maior bandeira, o combate à estrutura sindical atrelada ao Estado. Principalmente, através do imposto sindical.

Trinta anos depois, a CUT é uma gigante, com mais de 3.400 entidades filiadas, representando cerca de 22 milhões de trabalhadores. Mas deixou de fazer oposição ao governo federal, que considera aliado. Muitos de seus antigos dirigentes ocupam cargos oficiais.

Apesar disso, nenhum ataque aos trabalhadores feito pelos governos anteriores foi revertido. Ao contrário, seus aliados hospedados no Palácio do Planalto há mais de 10 anos firmaram alianças prioritárias com o empresariado da cidade e do campo. O único avanço foi um aumento considerável no valor do salário mínimo.

A ata de fundação da CUT estava perdida há alguns anos. Junto com ela também foram se perdendo pelo caminho o combate ao atrelamento estatal, o fim do imposto sindical e a luta pelo socialismo que ainda consta de seu estatuto.

Recentemente, a certidão de nascimento cutista foi recuperada. Sintomaticamente, o documento foi encontrado graças à Lei de Acesso à Informação, um mecanismo do Estado. E é a dependência em relação a este mesmo Estado que fez a CUT perder sua tradição combativa. Talvez, para sempre.

21 de agosto de 2013

Polícia esclarecida. Só que não

 Você pode transformar a polícia militar em uma polícia civil e ela continuar militarizada na sua lógica. A questão é olhar a polícia não como uma força, mas como um serviço público que pode usar a força. Muito dessa lógica belicista é fruto da ditadura e da incorporação na segurança pública da doutrina de segurança nacional. Apesar de já termos saído desse período, essa mentalidade ainda está espalhada na sociedade, ela ainda está presente no imaginário da segurança pública no Brasil.
Parece incrível, mas estas palavras são de um coronel da PM. Trata-se de Ibis Silva Pereira, diretor da academia de formação de cadetes da instituição. Ele é um dos responsáveis pelo ciclo de debates “Violência Interior”. O evento é resultado de parceria com a Festa Literária Internacional das UPPs (Flupp) e o jornalista e filósofo Adauto Novaes.

Íbis é formado em Direito, fez pós-graduação em Filosofia e mestrado em História. “Costuma citar filósofos como Spinoza e Hegel e escritores como Dostoiévski e Guimarães Rosa”, diz matéria publicada no caderno "Prosa & Verso" de O Globo, em 17/08.

O texto diz que o clima durante a sessão de debates foi muito bom e respeitoso. Os convidados foram bastante críticos em relação à violência policial. Apesar disso, mereceram “aplausos efusivos”, diz a matéria.

É a PM finalmente se abrindo à crítica social. Só que não. Não, mesmo. As ações da grande maioria de seus integrantes mostram o contrário. Como disse o coronel Ibis, a lógica belicista impera. E o poder de classe por trás dela não está disposto a mudar isso.

20 de agosto de 2013

Sem dinheiro público, sem Google e Apple

Em 04/08, Martin Wolf publicou no “Financial Times” uma resenha sobre o livro “The Entrepreneurial State: Debunking Public vs Private Sector Myths”. Em português, “O Estado Empreendedor: Desmascarando Mitos Sobre o Público contra o Privado”.

A obra de Mariana Mazzucato destrói o mito neoliberal de que só o setor privado tem a ousadia e agilidade necessárias para inovar em tecnologia e pesquisa.

Mariana revela, por exemplo, que 75% das mais recentes descobertas em medicina molecular com que lucram as empresas de saúde foram feitas pelos Institutos Nacionais de Saúde, órgãos públicos estadunidenses. Já o Conselho de Pesquisa Médica, do Reino Unido, descobriu os anticorpos que se tornaram a base da biotecnologia. Entregou tudo a baixo custo para empresas privadas, que lucram bilhões com eles.

Mas o mais impressionante aconteceu na área da tão falada revolução da informação e comunicações. A Fundação Nacional de Ciência dos Estados Unidos criou o algoritmo em que se baseia a poderosa ferramenta de buscas do Google. A Apple se viabilizou graças à Companhia de Investimentos em Pequenos Negócios do governo americano. Além disso, todas as tecnologias que tornaram possível o iPhone também foram bancadas por fundos públicos: microeletrônica, internete, redes sem fio, sistema de rastreamento global, monitores com tela de toque e comando por voz. "A Apple pôs tudo isso para funcionar em conjunto, de forma brilhante”, diz ela. “Mas só colheu os resultados de sete décadas de inovação propiciada pelo Estado”, conclui.

Wolf resume bem a situação: trata-se de um ecossistema parasita, “em que os elementos não rentáveis são socializados, enquanto os mais lucrativos são largamente privatizados”.

19 de agosto de 2013

Polícia descontrolada. Só que não

Os episódios de violência da Polícia Militar contra manifestantes voltam a ser frequentes. Há quem diga que a corporação está descontrolada. Certo e errado. Errado, se com isso se quer dizer que as tropas estão desorientadas. Certo, se se refere à insubordinação dos policiais em relação a seus chefes legais, os governadores estaduais.

A moral política de Sérgio Cabral não vale um cafezinho de boteco. O mesmo vale para Alckmin, Anastasia etc. Por isso mesmo, é muito provável estejam tentando amenizar a violência policial para não piorar sua situação. Mas também é bastante plausível que os comandantes da polícia não estejam nem aí para seus apelos. 

O fato é que a PM sempre agiu com enorme truculência nas favelas e periferias. Mas, desde junho passado, passaram a barbarizar também em bairros de classe média, incomodando não apenas seus moradores. Até uma delegacia de polícia foi atacada pela PM no Rio de Janeiro, recentemente.

Desde que foram criadas, as forças policiais receberam dos governantes a tarefa prioritária de reprimir a pobreza que se revolta. Com o golpe militar de 64, elas foram militarizadas e assim permaneceram, mesmo após o fim da ditadura. O resultado é que só obedecem seus chefes civis quando lhes convém.

A mesma impunidade de que se beneficiam os carrascos do regime militar, preserva um conservadorismo brutal dentro dos quartéis. Os representantes do poder político nada fizeram para impedir. Agora, podem ter que pagar um alto preço por isso. A maioria de nós, já está pagando.

Leia também: Amarildo e a banalidade do mal

16 de agosto de 2013

Aquilo que se escuta e não se ouve

Reportagem de Iara Biderman para a Folha confirma o que muita gente já desconfiava. Publicada em 12/08, seu título diz: “Estudo mostra que maioria das pessoas escuta sempre as mesmas músicas”.

A confirmação vem de uma pesquisa feita na Universidade de Washington “sobre o poder da familiaridade na escolha musical”. Envolveu mais de 900 universitários, que se diziam “apreciadores de novos sons”. Apesar disso, os testes revelaram que a maioria deles optou por ouvir músicas com que tinham familiaridade.

A reportagem ouviu especialistas como um neurocientista que garante que isso é coisa do cérebro. O órgão optaria quase automaticamente por coisas simples e conhecidas. Não convence. O crítico musical José Ramos Tinhorão apresenta diagnóstico mais provável. Diz que isso é influência do mercado.

Conclusão parcialmente confirmada por quem é do ramo. Referindo-se aos repertórios repetitivos das rádios, Rifka Smith afirma: "De tanto ouvirem, as pessoas acabam se familiarizando e não sabem mais se gostam ou não. Mas criam fidelidade". Ela deve saber do que está falando. É diretora da Radiodelicatassen, empresa de planejamento de produtos radiofônicos.

O debate faz lembrar o que disse Marx sobre nosso aparelho sensorial. Nos “Manuscritos econômico-filosóficos”, ele afirma que “a formação dos cinco sentidos é um trabalho de toda a história universal até nossos dias”.

Em outros momentos de sua obra, Marx mostra como a economia capitalista priva as experiências humanas de significado. Toda qualidade só tem valor se é transformada em quantidade. É assim que nossos refinados sentidos, formados pela “história universal”, vão se embotando. Cada vez mais lhes escampam as sutilezas.

Escutamos, mas não ouvimos. E não apenas músicas.

15 de agosto de 2013

Harriet Tubman, a libertadora negra

“Há duas coisas a que eu tenho direito. A liberdade e a morte. Se eu não conquistar uma, ficarei com a outra, pois nenhum homem me pegará com vida”. Estas palavras são de Harriet Tubman, também conhecida como o “Moisés Negro”. Uma referência ao papel de libertadora que cumpriu, tal como o patriarca bíblico.

Harriet nasceu escrava, em 1820, em Maryland, Estados Unidos. Mas se revoltou, fugiu e passou a ajudar muitos outros a escapar de sua condição de cativos. Organizava expedições de fuga para outros estados, onde os libertos podiam viver fora do alcance de seus proprietários. Sua coragem e determinação libertaram mais de 300 homens e mulheres da crueldade escravagista.

Na Guerra Civil, lutou contra os escravistas do Sul e liderou uma expedição armada, no rio Combahee, libertando mais de 700 escravos. Depois da guerra e do fim da escravidão, participou das lutas pelo direito de voto para as mulheres.

A corajosa Harriet morreu aos 93 anos e tornou-se símbolo do que é capaz a resistência e a luta pela liberdade, mesmo sob uma ditadura perfeita como a estadunidense.

Outra frase famosa da grande lutadora é: “Libertei muitos escravos. E teria libertado muitos mais se pelo menos eles soubessem que eram escravos.” Diz muito sobre os mecanismos de dominação humana.

O capitalismo surgiu graças à exploração do trabalho de milhões de pessoas presas a pesados grilhões. Mesmo assim, muitas delas não percebiam que tinham direito à liberdade. Que fazer com bilhões de pessoas que atualmente têm apenas suas mentes acorrentadas?

Imitar Harriet e organizar muitas expedições rumo à liberdade.

14 de agosto de 2013

Os três cavaleiros do apocalipse europeu

A Grécia acaba de encerrar o vigésimo trimestre consecutivo de recessão econômica. O desemprego chegou ao recorde de 26,7%, quatro pontos acima do mesmo período de 2012. Enquanto isso, a dívida pública grega saiu dos 112% do PIB, em 2008, para previstos 176%, em 2013.

Tudo isso é obra das intervenções da “Troika”, que reúne Banco Central Europeu, FMI e Comissão Europeia. Desde que elas começaram, em 2010, o desemprego aumentou mais de 129%. E os jovens amargam uma taxa de desocupação de 65%, a mais alta da União Europeia.

Mas já em 2012, havia quem antecipasse este cenário quase apocalíptico. Trata-se do documento de um coletivo político grego chamado “Committee of the Free State Movement”, algo como “Comitê do Movimento pelo Fim do Estado”.

O texto começa dizendo que as medidas impostas pela Troika jamais pretenderam melhorar a situação econômica grega. Ao contrário, o objetivo seria escravizar seu povo e destruir a nação. Seria produto de um novo “totalitarismo” que, talvez, se mostre “tão mortal e ainda mais perigoso do que a violência militar usada pelo nazismo de Adolph Hitler”. Segundo o documento:

...enquanto Hitler tentou subjugar os povos com violência crua, o totalitarismo atual usa meios de enganação e manipulação, que tiram proveito das realizações mais extraordinárias da ciência e da tecnologia do século 20. Esconde sua verdadeira agenda: um programa de destruição e uma ideologia da morte, embutidos na complexidade de mecanismos econômicos e financeiros modernos.

A mesma lógica valeria para Portugal, Itália, Espanha e Irlanda. Os três membros da Troika neoliberal espalham mais terror na Europa que os quatro cavaleiros do Apocalipse.

13 de agosto de 2013

Mais lições do comunismo indígena

Imperdível a entrevista com Carlos Frederico Marés de Souza Filho publicada no site IHU-Online, em 12/08. Em “O impacto das novas tecnologias nas sociedades tradicionais”, o jurista com especialização em direito dos povos indígenas mostra como a utilização das tecnologias para o bem comum dependem da lógica social a que servem. Incluindo aí os impactos ambientais. Um exemplo:

A tecnologia de construção andina, chamada Inca, aproveitava a energia solar de tal forma que refrescava as quentes regiões baixas e mantinha o calor nas casas nas altitudes, assim como aproveitava as áreas geladas para conservar alimentos. Toda essa tecnologia foi desprezada pelos espanhóis e somente agora está sendo recuperada como tecnologia sem impacto negativa ao meio ambiente.

Outro exemplo, desta vez em relação ao crescente uso das novas mídias nas comunidades indígenas brasileiras. Segundo o jurista, a formação de “comunidades virtuais” possibilitada pela comunicação em rede não é necessariamente contraditória com o comunitarismo indígena.

Um grupo indígena só perde sua qualificação de indígena quando perde a sua característica comunitária. Se essa tecnologia leva a uma perda da identidade comunitária, ela destrói a cultura. Do contrário, não.

Quanto à importância do conhecimento, outra lição:

Os índios não se opõem à expansão do conhecimento, mas ao fato de que uma empresa pegue esse conhecimento e o transforme em uma propriedade privada individual, que cobra dos outros pelo uso, enquanto eles não cobram. Trata-se, portanto, de uma questão interna do capitalismo.

Ou seja, o comunismo indígena mostra que o capitalismo branco está fazendo tudo errado com os maravilhosos recursos que muitas de suas próprias tecnologias oferecem.

Clique aqui para ler a entrevista.

12 de agosto de 2013

Big Brother e Big Father

A espionagem definitivamente voltou a atrair a atenção. Não nos cinemas, livros e seriados de TV, mas na vida cotidiana dos cidadãos mais pacatos. É que nos tornamos, quase todos, espiões de nós mesmos. É o que garante a reportagem “Nós somos a alta tecnologia da espionagem global”, de Eduardo Febbro, publicada na Carta Maior em 04/08.

O texto apresenta dados assustadores:

Google e Facebook têm mais de um bilhão de usuários em todo o mundo; 80% das comunicações através da internet passam pelos Estados Unidos; no Facebook são publicadas 350 milhões de fotos por dia, o que dá 3,5 bilhões de fotos em dez dias e 35 bilhões em cem dias. A mágica ocorre quando nos inscrevemos no Google ou Facebook. Poucas pessoas leem as condições de utilização, mas estas explicitam claramente que o usuário “autoriza” o armazenamento das informações no território norte-americano.

Febbro cita o jornalista francês, especializado em internete, Jacques Henno: “Somos, de fato, filhos da rastreabilidade. Uma rastreabilidade política, sexual, ideológica e religiosa”.

É verdade, mas não se trata apenas disso. A grande maioria de nós é inofensiva demais para preocupar os aparatos de repressão. Pelo menos, por enquanto, o maior perigo está nos algoritmos de serviços como Facebook e Google. Eles cercam nossos hábitos e nos viciam em determinados tipos de consumo e repertórios de ideias.

Muito além de deixarmos pistas sobre quem somos e o que fazemos, somos condicionados quanto ao que viremos a ser e a fazer. Big Brother? Claro que sim. Mas acompanhado de uma espécie de Big Father, que nos leva pelo nariz.

9 de agosto de 2013

A luta de um padre contra a intolerância religiosa

“Jihadista significa um fiel muçulmano que é obediente à ordem divina de se comprometer com a luta pela justiça, inclusive militarmente”. Estas palavras foram ditas pelo padre católico Paolo Dall'Oglio, em abril passado, em uma reunião realizada em Roma, na Itália.

Referem-se aos adeptos do Jihad, conceito islâmico que pode ser traduzido por “esforço” ou “empenho”. Costuma ser traduzido pelos imperialistas como “ódio” ou “fanatismo” sangrentos para justificar sua perseguição aos povos muçulmanos.

Há 30 anos, vivendo na Síria, Dall'Oglio luta pela convivência pacífica entre as três religiões abraâmicas no país e na região. Ou seja, entre judeus, cristãos e muçulmanos, que teriam como patriarca comum o personagem bíblico Abraão.  

Em 2012, Dall’Oglio foi expulso da Síria por apoiar a luta contra a ditadura Assad. Voltou ao país recentemente e foi sequestrado pelo que a imprensa internacional considera ser uma versão síria da Al Qaeda.

O padre não deixa dúvidas quanto ao que pensa do governo sírio. Chegou a comparar a luta contra o regime à resistência italiana contra o fascismo. Mas reconhece que na guerra que sangra a Síria a maior vítima tem sido o povo. Os principais responsáveis, o imperialismo e Assad.

Antes de desaparecer, Dall'Oglio enviou uma carta aberta ao Papa Francisco. Pedia que o pontífice lidere uma “iniciativa diplomática” pelo fim do regime, manutenção da unidade nacional com diversidade religiosa e fim dos “extremismos armados”.

Talvez, a proposta seja ingênua. Dificilmente, o Vaticano se meterá nessa confusão, pisando nos calos de potências imperialistas. Mas eis aí um sacerdote que faz bem mais do que sorrir para as multidões e beijar criancinhas.

Leia também:

8 de agosto de 2013

Amarildo e a banalidade do mal

"Ele sempre dizia que revidaria se fosse agredido por um policial. Dizia que trabalhador não pode levar tapa na cara e ficar quieto". Estas palavras são de Maria Eunice Dias. Ela é irmã do pedreiro Amarildo de Souza, desaparecido desde 14 de julho, depois de ser levado por soldados da PM.

Em relação ao mesmo caso, a ministra da Secretaria de Direitos Humanos, Maria do Rosário, declarou o seguinte: “Não pode abordar um trabalhador e ele desaparecer”.

Ainda está em cartaz o filme “Hanna Arendt”, sobre a famosa filósofa e jornalista alemã. Acompanhando o julgamento de um carrasco nazista, ela concluiu que o mal pode se tornar banal. Obra de burocratas convencidos da necessidade de manter funcionando as engrenagens de uma máquina assassina.

Na produção dirigida por Margarethe von Trotta, a personagem principal afirma que a malignidade ordinária só é possível porque seus executores se transformam em “não-pessoas”. Incapazes de enxergar sua submissão criminosa, tornam-se carrascos de vítimas também rebaixadas à condição de nulidades humanas.

Esta parece ser a lógica por trás da frase atribuída a Amarildo e dita por Maria do Rosário. É a ideia de que alguém que não seja “trabalhador” torna-se uma não-pessoa. Contra ela, nossa secular máquina repressiva está autorizada a cometer o esculacho, o sequestro, a tortura, a execução.

É a banalidade do mal que se impõe tanto a pessoas do povo, como a altas autoridades. Umas e outras integram uma cadeia produtiva de não-pessoas. Mas as consequências são bem diferentes. Morte e brutalidade para as primeiras, vergonhosa cumplicidade para as segundas. 

7 de agosto de 2013

A duvidosa qualidade dos números sobre qualidade municipal

Há alguns dias, foi divulgado o chamado Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) brasileiro. Trata-se de um indicador calculado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento. Vários textos e artigos circularam em torno dos números apresentados.

Mas a abordagem mais lúcida é da urbanista Raquel Rolnik, professora da USP e relatora especial da ONU para o direito à moradia adequada. Segundo o texto postado no blog da urbanista, em 01/08:

Por se tratar de um índice municipal, um dos objetos destacados pela mídia foi a apresentação de uma espécie de “ranking” de municípios, mostrando os melhores e os piores… Em tese, cidadãos e governos dos “melhores” municípios devem ter ficado orgulhosos, e os dos piores, envergonhados ou chateados. Mas será que estes números revelam mesmo a qualidade dos nossos municípios?

A própria Raquel responde, denunciando o que ela chamou de “modelo ‘dual’ de urbanização e desenvolvimento urbano”, em que “pedaços de cidade completos” convivem com “pedaços precários”. Basta que os moradores das grandes cidades olhem para sua vizinhança para constatar a exatidão dessa observação. E a urbanista volta a questionar:

... o que explicaria que as cidades que concentraram as manifestações de junho são justamente as que apresentam os maiores índices? Se são estas as mais desenvolvidas do país, por que seus cidadãos estão reclamando por direito à cidade?

A resposta está nas ruas. Ao que parece, este tipo de estatística mais esconde e distorce que mostra e explica. Menos mal que a mobilização popular esteja desmentindo esses números. Mas se continuarem a orientar políticas urbanas injustas, vamos de mal a pior.

6 de agosto de 2013

Possíveis reencarnações da classe trabalhadora

Continuam os debates sobre quais setores sociais estariam por trás das manifestações que vêm tomando as ruas do País. Uma boa pista apareceu num artigo publicado na grande imprensa. Trata-se de “Protestar no gerúndio”, de Maria Cristina Fernandes, publicado em 02/08 no jornal Valor.

A jornalista baseia suas conclusões em artigo do professor da Unicamp e militante do PSTU, Ruy Braga. O texto está no livro "Cidades rebeldes", da Boitempo, primeira coletânea sobre as recentes manifestações a chegar às livrarias.

Um das questões levantadas por Braga é a presença dos operadores de telemarketing no mercado de trabalho. A ocupação seria o primeiro emprego de 1,5 milhão de jovens com baixa qualificação. Para Maria Cristina, o setor simbolizaria “a geração de empregos da era petista em que 94% dos novos postos têm remuneração de até 1,5 salário mínimo”.

Em seu artigo, diz a jornalista, Braga cita uma pesquisa sobre as passeatas de 20/06 no Rio e em Belo Horizonte. O levantamento mostraria que “70% dos manifestantes estavam empregados, 34% recebiam até um e 30% ganhavam entre dois e três salários mínimos. A idade média era de 28 anos”.

“As manifestações não são, portanto, frutos da rebeldia estudantil ou da fúria de marginalizados. São revoltas de quem está empregado, mas não vê como seu trabalho pode vir a lhe garantir futuro”, conclui a colunista.

Ou seja, a maioria dos atuais manifestantes pode ser jovem, trabalhar em novas ocupações e se organizar utilizando modernas tecnologias. Mas ainda pertenceria à velha classe trabalhadora. Tantas vezes tida por morta, quantas reencarnou para lutar contra a superexploração capitalista.

Leia também: Vandalismo e chifres

5 de agosto de 2013

Vandalismo e chifres

Os vândalos foram invasores que saquearam Roma quando esta era capital de um império já decadente e indefeso. Eles cometeram na poderosa cidade o mesmo que os romanos faziam em muitos lugares que conquistavam. Saquearam e destruíram monumentos e obras de arte por desprezo e para se apoderar dos materiais valiosos de que eram feitos.

Desde então, são chamados de vândalos aqueles que não respeitam a arte e a cultura consideradas superiores. Mesmo que tal superioridade tenha se estabelecido à custa de muito sangue e destruição. Afinal, como disse Walter Benjamin, “nunca houve um monumento da cultura que não fosse também um monumento de barbárie”.

Recentemente, atos de “vandalismo” ganharam destaque durante os grandes protestos que tomam as ruas desde junho. Em um deles, manifestantes desenharam chifres em um retrato pendurado na câmara municipal carioca. Trata-se do coronel Moreira César, um dos comandantes das tropas enviadas para massacrar a comunidade de Canudos, no final do século 19. Lugar em que o militar merecidamente encontrou a morte.

Naquela mesma casa legislativa está sendo instalada uma CPI sobre as empresas de ônibus, acusadas de cobrar muito caro por serviços de péssima qualidade. Dos cinco integrantes da comissão, quatro eram contra sua instalação e são da base do governo municipal. Muito provavelmente, receberam gordas doações dos proprietários dos coletivos em suas campanhas eleitorais.

Pergunta-se: o que ofende mais a dignidade pública? Chifres rabiscados na cabeça pintada de um assassino fardado ou os chifres simbólicos, mas doloridos, que os senhores parlamentares tentam colocar nas testas da grande maioria da população carioca?

2 de agosto de 2013

A geopolítica dos papas

Qual é a geopolítica que elegeu Francisco I? Esta é pergunta que o sociólogo argentino Juan Marco Vaggione procura responder. Em entrevista ao Estadão, publicada em 28/07, o pesquisador da Universidade Nacional de Córdoba afirma:

Quando se analisa as eleições dos papas sob uma perspectiva histórica, não como ações da vontade do Espírito Santo, a Igreja emerge como uma das instituições mais globalizadas que existem. Desse ponto de vista, a eleição de um papa implica na eleição de um líder político global que responde a momentos determinados. A chegada de João Paulo II ao topo da hierarquia católica pode ser lida como a eleição de um papa polonês que respondeu à tensão geopolítica forte entre capitalismo e comunismo. É o momento em que a Polônia se converte em pedra central para o desmantelamento da ex-União Soviética. De maneira semelhante, o papa alemão que o sucedeu é aquele que se volta para a Europa laica, como símbolo de um fenômeno também global da retirada do sentido religioso da política e da esfera privada dos cidadãos. Bento XVI é aquele que vem para recompor a esfera de influência da religião na Europa Ocidental, ressaltando as raízes cristãs da constituição europeia. Agora também, com a chegada de um papa latino-americano, não devemos ignorar a dimensão geopolítica dessa escolha – que se explica, por um lado, pela quantidade de fiéis existentes nessa parte do mundo e, de outro, pelo avanço de outras denominações religiosas na região. O fato de sua primeira visita ocorrer no Brasil coloca isso tudo ainda mais em evidência.

Ou seja, menos oba-oba e mais racionalidade política, pelamordedeus!

Leia também: O Papa sabonete

1 de agosto de 2013

A milenar ecologia indígena

Excelente a reportagem “Vozes dos povos da floresta”, de Bolívar Torres, publicada no caderno “Amanhã” de O Globo, em 30/07. Principalmente, quando apresenta algumas informações de Pedro Cesarino Niemeyer, autor do livro “Quando a Terra deixou de falar”, que reúne cantos da mitologia do povo marubo, do Amazonas.

Segundo Cesarino, “no Brasil atual fala-se pelo menos 180 línguas indígenas (...). Partindo do princípio de que cada uma delas contém um mundo e uma estética próprias, é possível imaginar a diversidade poética espalhada pelo país”.

Mas o que unifica essas visões, diz Cesarino, é o que muitos antropólogos chamam de “perspectivismo ameríndio”. Trata-se da:

...ideia de que o planeta é habitado por diferentes espécies de sujeitos ou pessoas, humanas e não humanas — todas dotadas de pontos de vista, de consciência e de cultura. Ao contrário da lógica ocidental, o homem não é a medida de todas as coisas, e muito menos o dono do mundo. A natureza não é nem unificada nem mostrada de forma objetiva. Trata-se de uma relação entre sujeitos, e não do tipo sujeito-objeto.

Desse modo, para o povo marubo, o rio:

“... não é apenas um reservatório de água, é a morada em que vive o povo subaquático. Você não pode poluir o rio ou abusar da caça, com o risco de sofrer retaliação. O conceito de sustentabilidade está no cerne da cultura ameríndia”.

E o pajé ainda avisa que “não se pode caçar o povo do mato indiscriminadamente, porque sabe que o chefe do povo do mato pode se vingar de nós”.

São estes povos que o agronegócio considera atrasados e rudimentares!