...uma
condição em que as classes populares, cada vez mais habituadas à
privatização dos riscos e aos discursos de legitimação da ordem
econômica promovidos pelo neoliberalismo, internalizam a lógica do
“empreendedor de si mesmo” e passam a conceber nesses termos suas
próprias estratégias de vida.
Mesmo em condições normais, o
mercado sempre produz muito mais perdedores que vencedores. Aliás, a
ficção de que ele seria um espaço em que os indivíduos florescem
exclusivamente por seus méritos normalmente serve para que os vencedores
disfarcem todas as vantagens que tiveram (na forma de riqueza
intergeracional, boas conexões e acesso privilegiado ao poder político,
por exemplo). Mas a força da ideologia do empreendedorismo provém do
fato de que a identificação com ela não só não precisa de uma base
material (ela se refere mais a uma atitude que a uma atividade), como
tende a tornar-se mais forte, e não mais fraca, diante da
impossibilidade de se realizar. Quando se crê que o êxito depende
exclusivamente do esforço individual, o fracasso não é experimentado
como sinal de que os dados estão viciados, mas como culpa, vergonha e
chamamento para dar ainda mais duro.
Desse
modo, o neoliberalismo cria raízes no chão social, ao mesmo tempo em
que o ressentimento que suas frustações geram permite ao extremismo de
direita funcionar como válvula de escape e mecanismo de reforço do
sistema.
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