Para concluir os comentários sobre o livro “Guerra cultural e retórica do ódio”, de João Cezar de Castro Rocha, segue um sumário do que seria uma explicação do autor para a assustadora ascensão da extrema-direita no Brasil.
Segundo ele, seriam “quatro fatores cuja inter-relação esclarece o caráter orgânico da ascensão da direita nas últimas décadas”:
1) as intervenções públicas de Olavo de Carvalho a partir da década de 1990; 2) muitos jovens foram convencidos de que fazer a oposição aos governos petistas só era possível pela direita; 3) tal característica geracional foi agravada pela difusão da tecnologia digital e sua apropriação criativa e irreverente por uma crescente juventude de direita; e 4) em 2015, a direita começou a disputar as ruas com o campo da esquerda.
Acontece, diz o autor, que o último fator tornou-se:
...o mais visível e muitas vezes o único considerado na ascensão da direita. Por isso, ela é reduzida ao ânimo golpista (...). Proponho que os dois primeiros fatores são os realmente decisivos para desenhar o cenário no qual a eleição de Jair Messias Bolsonaro se tornou possível.
Ou seja, diz ele, o “bolsonarismo não possibilitou o triunfo eleitoral da direita, mas, pelo contrário, a ascensão paulatina da direita, articulada desde meados da década de 1980, preparou a vitória do Messias”.
Teria sido essa ascensão gradual mas crescente que teria escapado à grande maioria das forças da esquerda nacional. Incluindo a extrema superficialidade da democracia por elas defendida.
Mas concluiremos na próxima pílula com uma avaliação parecida, apenas acentuando a presença de outro fator: a persistente militarização da aparente democracia pós-ditadura militar.
Leia também: O anticomunismo neopentecostal escolhe as coisas loucas