Doses maiores

31 de agosto de 2012

Governo prepara lei antigreve para setor público

As greves dos servidores públicos começam a se encerrar com saldo vitorioso. Antes das paralisações, o governo queria emendar o terceiro ano sem reajustes gerais para o funcionalismo. Durante a greve, a intolerância governamental reinou. No fim, foi obrigado a conceder reajustes salariais, ainda que tímidos.

Mais importante foi a demonstração de unidade e organização dos servidores públicos. É por isso que o governo prepara sua ofensiva. “Governo prepara lei de greve para setor público”, diz o título da reportagem de Fernando Exman, publicada pelo Valor, em 28/08. Não é bem assim. O objetivo maior é inviabilizar as paralisações do funcionalismo.

É o que podemos deduzir de notícia publicada no portal Terra no mesmo dia. A nota diz que a ministra Ideli Salvati considerou que a onda de greves foi marcada por "excessos e situações inadmissíveis para o bem-estar, a segurança da população e a prestação do serviço público".

Ideli inverte as coisas. O serviço público brasileiro realmente causa "situações inadmissíveis” e comete "excessos" contra a população. Mas isso acontece todos os dias, há décadas. E se não fossem as lutas dos servidores, a situação estaria bem pior. Foi assim sob a ditadura e sob os governos Sarney, Collor, Itamar e FHC. Está sendo assim sob os governos petistas.

As privatizações diminuíram muito nos últimos anos. Já o ritmo de destruição dos serviços essenciais permanece o mesmo. Prepara uma nova onda de entrega do setor para o mercado, disfarçada na forma de parcerias. É para enfrentar esse projeto que o funcionalismo deve se organizar. Nessa luta, a greve é o instrumento mais importante.

30 de agosto de 2012

Eleição nunca foi sinônimo de democracia

Eleições sempre foram muito constantes na história brasileira. É o que afirma Wilson Tosta, em entrevista publicada em O Estado de S. Paulo, em 26/08. Ele é professor titular da disciplina na UFRJ e está lançando o livro “Eleições no Brasil - Do Império aos Dias Atuais”.

Tosta admite que houve vários momentos em que o voto foi restrito, elitista, excluiu pobres, mulheres, analfabetos. Mas a regularidade do exercício do voto foi tão alta ou maior aqui como em muitos outros lugares do planeta.

Vejam um trecho da entrevista:

Na história, as eleições antecedem a democracia. O caso clássico é o da Inglaterra, que, embora escolha os membros da Casa dos Comuns pelo voto desde o século 18, só organizou um sistema democrático moderno, com sufrágio feminino, no início do século XX. No Brasil não foi diferente, as eleições também antecederam à democracia. O que tento mostrar é a riqueza das instituições eleitorais no País antes de consolidarmos um regime plenamente democrático, a partir de 1985. O que chama a atenção no caso brasileiro é que as eleições conviveram com diversas formas de regime político, inclusive o regime militar. Vale a pena lembrar que elas só foram formalmente suspensas durante o Estado Novo, de 1937 a 1945.

Ou seja, democracia e voto não coincidem, principalmente se a igualarmos a justiça social. O fato é que nossas inúmeras eleições não impediram que o Brasil se tornasse um dos países mais injustos do mundo. O direito ao voto é sagrado, mas está muito longe de ser suficiente. Isolado, ele mais serve que ameaça os interesses dos poderosos.

Leia também: Democracia e redução da jornada de trabalho

29 de agosto de 2012

Índio demais, atrapalha. De menos, não tem direitos

“Num país mestiço como o nosso, onde todo mundo é misturado, os índios não podem ser misturados. Uma hora ele é índio demais e atrapalha, outra hora ele é índio de menos, e não tem direitos”, diz Lucia Helena Rangel, em entrevista concedida à IHU On-Line, em 24/08.

A antropóloga se refere à imagem que o senso comum tem do indígena brasileiro. Índio de verdade tem que andar nu, pintado, usar cocares, morar em ocas, sem tecnologia e o mais isolado possível. A ideologia racista aproveita-se desse preconceito e o reforça.

Para os índios, nem o mito da “democracia racial” serve. Estamos falando da ideologia branca que alega não haver racismo entre nós. O conceito é de Florestan Fernandes e pode se resumido assim: no Brasil, os negros são tratados como iguais, desde que fiquem em seu lugar.

Um dos pilares dessa ideologia racista é a miscigenação. A louvável mistura de etnias é usada para disfarçar as condições sociais escandalosamente desfavoráveis aos não brancos. Para os índios, no entanto, o recado é claro: fiquem em suas tribos e não atrapalhem o progresso, dizem os poderosos.

Em suas terras, o progresso e o desenvolvimento abrem enormes clareiras. Derrubam crenças e costumes milenares. Condenam culturas e vidas à morte lenta e a massacres fulminantes. Tudo para construir elefantes brancos e lucrativos nas selvas brasileiras.

Felizmente, a resistência cresce entre os povos indígenas de todo o Brasil. E sua presença aumenta nas cidades, diz o último censo. Ótimo. Mais lutadores contra a democracia racista que ajuda a sustentar uma das sociedades mais desiguais do planeta.

28 de agosto de 2012

Mensalão e eleição em picadeiros diferentes

Alberto Carlos Almeida é sociólogo, tucano e escreve para o jornal Valor. Apesar disso, sabe argumentar de forma muito lógica. É o que faz em seu artigo “Julgamento do mensalão e eleições”, de 24/08. O texto afirma que o julgamento em andamento no Supremo não terá impacto significativo nas eleições municipais.

A afirmação baseia-se em uma pesquisa nacional realizada pelo Instituto Análise. Ela teria mostrado “que 82% do eleitorado nacional acham que a corrupção é igual em todos os partidos”. Apenas 9% considerariam “que os políticos do PT são mais corruptos do que os políticos dos outros partidos”.

Diante disso, apresenta o seguinte raciocínio:

Se a grande maioria dos eleitores acha que todos os políticos são corruptos, então também acreditam que será uma injustiça se políticos do PT forem condenados por causa do escândalo do mensalão, porque todos os políticos de todos os partidos são corruptos e não são condenados.

De fato, diz Almeida, “58% dos eleitores concordam com essa afirmação”, contra os 28% que discordam. E lembra “que a proporção de 58% está muito próxima dos 56% de votos válidos que Dilma teve na eleição de 2010”.

Como se não bastasse, Almeida diz, ainda, que 64% dos eleitores de todo o Brasil concordam com a seguinte afirmação: “pode até ser que haja corrupção, mas os políticos do PT são os que mais melhoram a vida da população”.

Nada a comemorar nisso tudo. Só mostra que o picadeiro eleitoral continua tomado por aqueles que “roubam, mas fazem”. E não serão os rituais circenses do Supremo que mudarão isso.

27 de agosto de 2012

A saúde pública atropelada

“Saúde não é linha de montagem de automóveis” diz o título de artigo de Paulo Romano, membro do Conselho Nacional de Saúde, publicado no Valor em 23/08. O título se refere a uma propaganda que compara a eficiência de uma grande rede hospitalar privada à produção automobilística.

O texto traz vários números impressionantes. Por exemplo, as famílias brasileiras gastam metade de seu orçamento com saúde. Algo que só ocorre em outras 30 nações, a maioria pobre. A média mundial de gastos públicos no setor é de 14,3%, mas no Brasil, só 5,9%. Inferior, diz o texto, à “média do continente africano, de 9,6%”.

Romano diz ainda que existem no País “26 leitos para cada grupo de 10 mil pessoas”. A média mundial é de 30 por 10 mil. Na Europa e Estados Unidos, esse número é três vezes maior. E é aí que poderia entrar uma comparação que o autor do artigo não fez, mas também envolve automóveis.

Edição do Estadão de abril de 2012 diz que o País tem um automóvel para cada cinco brasileiros. Mas São Paulo, por exemplo, tem um veículo para cada 1,8 habitante. Ao mesmo tempo, a redução de IPI para carros deve ser mantida por mais dois meses, afirmam os jornais.

Mais automóveis nas ruas significam mais acidentes e níveis de poluição que causam doenças graves. Portanto, mais pressão sobre o sistema público de saúde. E o que fazem os governantes? Investem pouco no setor e cortam impostos para aumentar a venda de veículos.

É assim o desenvolvimento econômico: atropela a saúde pública, com omissão de socorro.

Leia também: “Revolução permanente” contra o SUS

24 de agosto de 2012

A crise mundial e o escorpião nazista

Antonio Martins publicou no blog “Outras Palavras” artigo sobre uma “tempestade perfeita” em 2013. A expressão é do economista Nouriel Roubini, referindo-se a um aprofundamento da recessão mundial.

Roubini ficou famoso por prever o estouro da bolha imobiliária estadunidense. Ele acha que uma catástrofe só pode ser evitada através de decisões políticas. E estas envolvem romper com três fórmulas desastrosas.

A primeira é a insistência dos governantes europeus em impor medidas que eliminam direitos sociais e reduzem a atividade econômica. A segunda é o conservadorismo da política econômica nos Estados Unidos. A última é a extrema dependência da economia chinesa em relação ao mercado externo.

Se nada disso mudar, Roubini espera o pior para 2013. E também alerta para o risco de uma guerra entre Israel e Irã que faria disparar os preços do petróleo, aumentando o caos econômico. O problema é que não há como confiar na sensatez política dos que mandam no mundo.

É como a fábula do escorpião que pede carona a um sapo para atravessar um rio. O sapo responde ao escorpião que teme ser picado durante a travessia. Mas o escorpião garante que não faria isso, pois morreria afogado. Mas durante o trajeto aferroa o pobre sapo. Este, agonizante, quer saber o motivo de um ato tão estúpido. O escorpião responde: “Não posso evitar. É da minha natureza”.

O mesmo vale para o capitalismo. A última crise parecida com a atual aconteceu em 1929. Os capitalistas e seus governos preferiram confiar no ferrão nazista a perder privilégios. Afogaram a humanidade no banho de sangue da Segunda Guerra Mundial.

23 de agosto de 2012

A China pode tornar-se um buraco negro

Andrew Sheng e Xiao Geng publicaram um artigo chamado “A próxima transformação da China” no jornal Valor de 21/08. Segundo o texto, a China transformou-se na “fábrica do mundo” a partir de quatro pilares.

O primeiro deles teria sido a presença maciça de “empresas multinacionais estrangeiras e seus fornecedores”. O segundo pilar, a "rede de infraestrutura chinesa" fortemente baseada em “planejamento, investimento fixo em larga escala e controles administrativos”.

O terceiro é a "cadeia de suprimento financeiro chinesa", possibilitada “pela predominância de bancos estatais, poupança interna elevada” e “mercados financeiros relativamente subdesenvolvidos”, entre outros fatores.

A "cadeia de suprimento de serviços governamentais" seria o último pilar. Um sistema, diz o texto, que “conseguiu (...) proteger os direitos de propriedade, reduzir custos de transações e minimizar riscos, alinhando os serviços governamentais com interesses do mercado”.

Como se vê, a China não tem nada de comunista. Trata-se de um Estado autoritário que vem viabilizando a acumulação capitalista em enorme escala há décadas. Por isso, ela vem salvando a economia mundial desde que começou a crise, em 2008. Mas o próprio artigo diz que os tais “pilares” estão sob forte estresse.

Mesmo com todo seu tamanho e poder, a China faz parte de um sistema que está em crise. E concentra contradições em proporções astronômicas. Se sofrer um colapso, pode se comportar como uma grande estrela quando morre. Se ela é muito grande, torna-se um buraco negro. Engole tudo o que está a sua volta.

Leia também: Crise: muita escuridão à vista

22 de agosto de 2012

Metalúrgicos do ABC ressuscitam proposta tucana

Acordo Coletivo Especial (ACE). Este é o nome da proposta do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC para mudanças na legislação trabalhista. Basicamente, ela permite negociações entre trabalhadores e patrões por empresa. Algo que divide as categorias e abandona os setores menos mobilizados à própria sorte.

Em 20/08, a socióloga Graça Druck, professora da Universidade Federal da Bahia, foi entrevistada pelo IHU On-Line sobre o tema. Ela considera que a proposta se rende à concepção empresarial sobre relações de trabalho.

Segunda a professora, o ACE converge com o que defendia o governo FHC nos anos 1990. Ela cita palavras de um projeto de lei proposto pelo presidente tucano. O texto defendia que as condições de trabalho fossem “ajustadas mediante convenção coletiva ou acordo coletivo” que prevalecessem “sobre o dispositivo em lei”.

Graça também considera que a argumentação da entidade do ABC tem a mesma perspectiva da Confederação Nacional da Indústria. Menciona texto da organização patronal que defendia o “exercício permanente e dinâmico da livre negociação entre os atores sociais”.

Na época, a resistência dos trabalhadores impediu a aprovação desse projeto, que tornaria superior o “negociado sobre o legislado”. À frente dessa resistência estava a CUT, central que tem nos metalúrgicos do ABC sua entidade mais respeitada. Agora, sob um governo cheio de dirigentes cutistas, a entidade trai sua própria trajetória combativa.

A proposta é tão ruim que Dilma quer enviá-la ao Congresso para ser transformada em lei. A consequência seria uma fragilização ainda maior do poder de mobilização dos trabalhadores. Bastante coerente com o que vem fazendo o governo petista diante das greves do funcionalismo.


Agosto de 2012

21 de agosto de 2012

As tetas do BNDES (2)

“Lucro líquido do BNDES no 1º semestre cai quase pela metade, para R$ 2,7 bi” diz manchete do UOL Economia de 20/08. Segundo a matéria, o banco alega que:

...o período foi marcado pela instabilidade dos mercados financeiros e pelo fraco desempenho das Bolsas de Valores. De acordo com o BNDES, a crise financeira internacional e seus reflexos no mercado doméstico afetaram a performance das empresas, aumentando a instabilidade do mercado de ações.

Pode até ser verdade. Mas o fato é que o BNDES é responsável pela Bolsa-Milionários. O Bolsa Família não chega a custar 1% do PIB. Enquanto isso, ninguém sabe ao certo quanto o banco estatal empresta pra algumas poucas e gigantescas empresas. Com certeza, são dezenas de bilhões de reais por ano.

A taxa utilizada para corrigir os empréstimos é a chamada TJLP (Taxa de Juros de Longo Prazo). Ela equivale a metade das taxas cobradas pelo mercado. E, como o nome diz, seus financiamentos são pagos em prazos mais longos.

Isso acarreta uma enorme diferença entre o que o dinheiro que o banco empresta e o que ele compra no mercado. E quem cobre essa diferença é o Tesouro da União. Ou seja, o prejuízo entra na conta da já imensa dívida pública que retira ainda mais recursos dos serviços públicos.

Se um novo surto da crise vier como muitos especialistas acreditam, aí sim, haverá sérios problemas de inadimplência. Não com Casas Bahia ou Lojas Americanas. Os caloteiros, mesmo, serão os de sempre. Grandes empresários, acostumados a mamar nas tetas estatais. Se elas secarem, eles já terão enchido a pança.

Leia também: As tetas do BNDES

20 de agosto de 2012

Dilma é o lulismo sem a barba que Lula aposentou

Dilma Roussef tem estilo e ideias próprios. Mas ambos estão a serviço do projeto de seu padrinho político. Foi Lula quem deu a ela um mandato tampão. Um intervalo que deve possibilitar a volta do “líder das multidões” em 2014.

Em 17/08, Cristiano Romero publicou no jornal Valor a matéria “Crise econômica mundial mudou convicções de Dilma”. O texto alega que a crise levou a presidenta a fazer uma opção diferente em relação ao governo Lula: “a partir de agora, os investimentos serão liderados pelo setor privado e não mais pelo Estado”.

Na verdade, a opção entre mais Estado ou mais setor privado continua excluindo os movimentos sociais da arena política. E esta é uma característica essencial do lulismo. Os “setores organizados” servem para apoiar as medidas dos governos petistas. E só. Há muito, o MST limita-se a lamentar. E quanto ao recente pacote de privatizações, a CUT apoiou com críticas superficiais.

A reportagem cita algumas medidas duras tomadas por Dilma: aumento do superávit primário, fim da aposentadoria integral dos servidores federais, privatização dos três maiores aeroportos do país e o congelamento dos salários do funcionalismo. Diz que ela tirou tais medidas da gaveta em que Lula as esqueceu.

É verdade. Mas a amnésia de Lula foi proposital. As medidas ficaram esquecidas para que sua sucessora assumisse o desgaste de implementá-las. Lula deve voltar em 2014 como titular da posição. Mas não nos enganemos. Dilma limpou o caminho. Lula pode voltar sem usar o disfarce da barba de sindicalista e com ainda menos vergonha na cara.

17 de agosto de 2012

Um maestro negro e revolucionário

Há biografias tão incríveis que parecem obra de ficção. É o caso de Joseph Bologne de Saint-George. Trata-se de um músico nascido no século 18, em Guadalupe, possessão francesa situada no Caribe. Filho de um nobre francês com a escrava Nanon, Bologne receberia educação de primeira na terra natal de seu pai.

Entre seus maiores talentos estavam a esgrima e a música. No manejo da espada, chegou a ser citado como exemplo em manuais do esporte. Na arte musical, ganhou fama como violinista virtuose. Aos 27 anos, já dirigia a Concert des Amateurs, importante orquestra de Paris.

Alcançou sucesso e prestígio rapidamente, inclusive como conquistador de corações. Mas, aos 45 anos, abandonou a vida luxuosa. Juntou-se à Revolução Francesa, no comando de um batalhão de negros e mestiços. Apesar de sua bravura, acabou injustamente condenado pelos tribunais jacobinos. Escapou da guilhotina por pouco. Chegou a participar da revolução haitiana, mas se decepcionou com as tentativas de restaurar a ordem escravista.

A obra musical de Bologne inclui sinfonias, concertos e comédias musicais. Foi ele que encomendou as “sinfonias parisienses” de Haydn. Alguns especialistas sentem a influência de seu estilo na obra de Mozart. Morreu distante da fama, mas sua morte foi lamentada pelos grandes jornais da época.

A partir do século 19, Joseph Bologne foi sendo esquecido pela história da música. Sua origem mestiça certamente colaborou para essa injustiça. Somente nos anos 1970, suas obras começaram a ser lembradas.

Leia também: Mais talentos negros da música clássica

16 de agosto de 2012

Felicidade não se vende. Privatiza-se

O número de queixas sobre planos de saúde dobrou em um ano, segundo a Agência Nacional de Saúde Suplementar. Recentemente, operadoras de celular foram proibidas de vender novas linhas.

As empresas telefônicas punidas controlam 70% do mercado. Os planos de saúde atendem uma minoria, mas movimentam mais dinheiro que o SUS, voltado para a grande maioria. Ou seja, o “Estado ineficiente” foi substituído por monopólios privados estelionatários. Tudo graças às privatizações tucanas.

Apesar disso, o governo petista anuncia um plano de concessões de rodovias e ferrovias de R$ 133 bilhões. Na cerimônia de lançamento, Dilma disse que “o governo continuará induzindo o desenvolvimento do país, com a busca da melhoria da infraestrutura, para reduzir o chamado custo Brasil e tornar a economia mais competitiva”. FHC assinaria embaixo.

Aos servidores federais em greve, Dilma diz que não tem alguns bilhões para reajustar salários. Ignora o fato de que grande parte desses trabalhadores vem apoiando governos petistas há mais de uma década. Afinal, muito mais importante é o apoio do empresariado. 

Eike Batista chamou o programa de “kit felicidade” para empresários. É que o governo vai construir e vender ao setor privado com promessa de uma certa demanda. Se esta não vier “o governo paga a diferença", disse o ministro dos Transportes, Paulo Passos.

Qual é o problema? O povão já não está acostumado com as filas do SUS? E daí se elas vão dar nos cemitérios? Chamada a 25 centavos é uma pechincha. Ainda quer que a ligação não caia? Não sejamos mesquinhos. Dinheiro não compra felicidade. Manda privatizar.

15 de agosto de 2012

No ar, o Jornal Impossível

Boa noite! Eu sou Roque.

E eu sou Hudson.

(Juntos) Um casal que traz pra você as notícias que realmente importam!

Esta noite, boletins sobre as greves que estão acontecendo em todo o País. As reivindicações, a adesão, como vão as negociações, os próximos passos.

Sim, Hudson, e não perca também nossas reportagens sobre as principais atividades comunitárias de seu bairro. É só localizar com seu controle remoto a região que você quer consultar. Toda a agenda de lazer, diversão, e formação cultural e política para você participar. 

Você também pode se informar sobre os horários de ônibus e trens em seu bairro. Não é Hudson?

Claro, Roque! E para ficar sabendo sobre o atendimento de seus amigos e parentes no SUS, entre em nosso sistema e coloque o nome e CPF do paciente. Em poucos segundos, você conseguirá todos os detalhes.

Tem mais: como montar sua própria rádio ou TV comunitária. Onde comprar os equipamentos. Todos os detalhes técnicos e dicas para uma boa programação. E o melhor é que você monta sua emissora agora, começa a transmitir e legaliza depois.

Na seção de esportes, cobertura especial dos campeonatos de seu bairro. Do futebol ao atletismo, são dezenas de modalidades a sua disposição. Basta clicar na aba “esportes” de sua TV digital para escolher o local a ser consultado.

E não perca nossa reportagem especial de hoje. Mais um capítulo do dossiê sobre irregularidades cometidas por grandes empresários. E nosso editorial vai explicar porque não aceitamos patrocínio de monopólios privados.

Eu sou Hudson.
E eu sou Roque.

(Juntos) E este jornal é impossível!

14 de agosto de 2012

De Collor a Dilma, herança neoliberal segue firme

Há um massacre da grande mídia contra o funcionalismo em greve. Um dos argumentos usados é o número excessivo de servidores. Não é o que constata artigo de Carlos Eduardo Martins publicado no blog da Boitempo. Trata-se de “Hora de abandonar a herança maldita: O governo Dilma e as greves no Serviço Público”.

O texto cita recente estudo do Ipea que mostra a diminuição e precarização do emprego no setor público: “em 1993 havia 680 mil servidores ativos na administração federal e em 2002 apenas 550 mil”. Em 2010, o número subiu para 630 mil servidores. Abaixo dos níveis de 1992, quando os ataques de Collor inauguraram o neoliberalismo no País.

Ainda segundo Martins, os servidores continuam a representar uma pequena parcela “no conjunto do emprego da população brasileira: em 2003 correspondiam a apenas 2,5% dos trabalhadores e em 2010, a 2,2%”. Quanto ao volume salarial da administração pública federal, “em 2002 representou 5% do PIB, em 2010 apenas 4%”.

O texto acaba por concluir que o governo do PT precisa derrubar:

...o muro da Guerra Fria que preserva as oligarquias e impede o estabelecimento de políticas que ultrapassem o combate à extrema pobreza e atendam às demandas de formação massiva de um proletariado qualificado.

Na verdade, não há uma guerra fria. Há ataques cada vez mais quentes por parte da burguesia contra as lutas dos trabalhadores. É a herança maldita que vem de Collor e FCH, à qual se juntou aquela deixada por Lula e foi aceita por Dilma.

13 de agosto de 2012

Como Lula, Dilma sacrifica os trabalhadores

A greve do funcionalismo federal já atinge cerca de 350 mil servidores. Muitos atribuem a força do movimento à inabilidade de Dilma. Não é bem assim. São os resultados das escolhas políticas do lulismo.

Ao se deparar com um protesto de servidores em Minas Gerais, Dilma respondeu:

O que o meu governo vai fazer é assegurar empregos para aquela parte da população que é a mais frágil, que não tem direito à estabilidade...

Lembra uma frase que Lula disse pouco depois de ser eleito. Em 26 de novembro de 2002, em uma reunião com cerca de 500 sindicalistas, ele declarou:

Nessa sala aqui (...) não tem representação dos excluídos, sabe? Dos milhões e milhões que não tem acesso a nada, (...) porque nós somos a parte organizada da sociedade. Só que é essa parte organizada que precisa começar a ter responsabilidade de ajudar a organizar a outra. É muito mais revolucionário do que pedir 5% de aumento...

O recado era claro e nada revolucionário. A prioridade do governo seria atender aos miseráveis. Os que têm pouco teriam que se sacrificar para ajudar os que não têm quase nada. Enquanto isso, aqueles que já têm demais foram deixados em paz.

E entre os setores mais sacrificados está o funcionalismo público, cujas perdas salariais foram se acumulando. O resultado é a atual onda de greves num momento em que a crise econômica é ameaça real porque a essência do modelo continua neoliberal.

A resposta dos trabalhadores, públicos ou não, só pode ser uma: que os patrões, públicos ou não, paguem pela crise.

10 de agosto de 2012

Crise: muita escuridão à vista

“Aproveitem os Jogos enquanto podem. As perspectivas econômicas indicam que vem aí uma ressaca verdadeiramente mundial”. Esta frase é de Rupert Murdoch, poderoso magnata da mídia inglesa. Foi citada por Alex Callinicos no artigo “A longa depressão vai de mal a pior” publicado no jornal Socialist Worker, em 07/08.

Callinicos também menciona um economista neoliberal estadunidense. É John Taylor, que considera o quadro da economia americana desastroso com fortes tendências a piorar.

Há alguns dias, artigo do economista mexicano Alejandro Nadal trazia o título “Banco JP Morgan, presságio de novo Apocalipse”. Nadal referia-se ao recente anúncio de prejuízos de 2 bilhões do banco estadunidense.

Outro texto nada otimista é do economista Edmilson Costa, membro do Comitê Central do PCB. Trata-se de “A terceira onda da crise: o capitalismo no olho do furacão”, publicado pelo site http://resistir.info. Longo e bem fundamentado, o artigo faz uma análise bastante pertinente.

Basicamente, o autor considera que a crise que começou em 2008 será a mais terrível da história do capitalismo. A mais completa delas porque acontece quando o capitalismo está espalhado e consolidado no mundo todo. Muito mais que nas crises de 1929 e 1973. Em suas palavras, atualmente, as contradições do sistema envolvem:

...todo o arcabouço econômico e social do sistema capitalista – a esfera da produção, da circulação, do crédito, das dívidas públicas e privadas, o sistema social, o meio ambiente e os valores neoliberais.

Tudo indica que tempos anda mais escuros se aproximam. Cabe à luta dos explorados e ofendidos abrir caminho em busca de luz. Pois os senhores do mundo não cessam de produzir trevas.

9 de agosto de 2012

O governo petista, seus pelegos e capachos

Em meio às raras notícias da grande imprensa sobre as greves do funcionalismo, se destaca uma frase:

O PT patrão parece não ter aprendido com sua própria história. O PT patrão apenas aprimora as táticas de pressão psicológica e negociação questionável daqueles com os quais negociou na época em que a greve era sua (Folha de S. Paulo, 08/08/2012).

É de César Augusto de Azambuja Brod, coordenador de Inovação Tecnológica do Ministério do Planejamento. Foi dita logo após Brod ter pedido exoneração do cargo por se recusar a cortar o ponto de funcionários em greve.

É uma postura cheia de dignidade. Mas não é preciso ser revolucionário para chegar a tanto. No jargão sindicalista, pelegos são dirigentes que procuram facilitar a vida dos patrões em seus conflitos com os trabalhadores.

Hoje, muitos deles estão no governo petista. Antes, desempenharam papel importante nas lutas dos trabalhadores e da população em geral. Nem por isso escondiam sua crença no paz entre exploradores e explorados. Portanto, não surpreende sua rendição aos encantos do poder.

O problema é que as traições do lulismo já ultrapassaram até os elásticos limites dos pelegos. Não se trata apenas da recente ordem para cortar o ponto de grevistas. Nem do apelo a obrigações legais que sempre denunciaram como injustas.

O lulismo renega não somente as greves que liderou. Também faz coro com o Judiciário e a grande imprensa que só lhe têm desprezo. Sem dúvida, alcança um novo nível de baixeza. O grande capital já pode usá-lo para limpar a lama de suas botas.

8 de agosto de 2012

Dívida pública é pretexto para roubar a poupança popular

Desde 12 de julho, o rendimento da poupança ficou menor para depósitos feitos a partir de maio. O motivo foi a queda da Taxa Selic para 8,5%. Mas o que tem a ver uma coisa com outra?

Rodrigo Vieira de Ávila, economista da Auditoria Cidadã da Dívida, ajuda a entender. Em matéria para o Jornal dos Economistas, publicada em junho passado, ele explica que a queda da Selic tornaria a poupança mais rentável que a dívida pública.

Assim, para atrair compradores dos títulos do Tesouro, o governo teria que voltar a subir os juros pagos por eles. O problema, diz o economista, é que o custo da dívida continua “em mais de 12%, ou seja, bem acima da Taxa Selic”.

Rodrigo diz que, em abril de 2012, apenas 27% da dívida interna estavam indexados à Selic. Portanto, afirma, a queda da selic não tem influenciado na diminuição do custo da dívida pública. Ao contrário.

Enquanto, o governo federal emite centenas de bilhões em títulos da dívida interna pagando as maiores taxas de juros do mundo, o BNDES empresta a juros muito mais baixos para grandes empresas.

Essa jogatina leva embora quase metade do orçamento federal. São mais de 47% dos recursos remunerando empresários e banqueiros. Já Saúde e Educação, juntas, ficam com pouco mais de 7% do bolo.

Resumo da sacanagem: a poupança, investimento da grande maioria do povo, teve seus rendimentos diminuídos. Mas os papéis da dívida, investimento de uma minoria rica, continuam rendendo muito mais e à custa dos serviços públicos.

E este governo ainda diz que governa para os pobres!

Leia também: A festa dos bancos continua

7 de agosto de 2012

Rota, JP Morgan e apocalipse

O site de Caros Amigos entrevistou Ângela Mendes de Almeida, do Observatório das Violências Policiais da PUC-SP. Sobre a recente onda de ações violentas da Rota paulistana, ela diz:

... não excluo uma operação eleitoral visando insuflar a população de classe média e alta contra “os bandidos”, isto é, contra os pobres. Espalhando o medo e o sentimento de ameaça à propriedade privada, alguns políticos esperam ganhar eleitores com a proposta de “tolerância zero”, isto é, aumentar o extermínio.

A advertência mostra que a barbárie na cidade mais rica da América do Sul deve se intensificar. Para isso conta com o ódio tucano aos pobres.

O JP Morgan entra nessa conversa com um trecho do artigo “Banco JP Morgan, presságio de novo Apocalipse”, do economista mexicano Alejandro Nadal:

A economia mundial enfrenta o risco de uma nova queda. A crise atual poderá ser apenas o preâmbulo de novo Apocalipse. O exemplo mais recente é o das perdas de mais de 2 bilhões de dólares do JP Morgan em maio, por ter cometido erros flagrantes, segundo as palavras do seu arrogante chefe Jamie Dimon.

Nadal diz que a situação é resultado da enorme especulação. E que esta “não cumpre qualquer função social ou econômica”. Licença para discordar. A especulação tem como função aumentar a concentração econômica. E com ela, o poderio político de uma minoria.

O economista mexicano fala sobre um novo apocalipse. Estamos no mês em que se completam os 67 anos da bomba de Hiroshima. Algo que deveria nos lembrar de que crise econômica e barbárie social se combinam muito perigosamente.


6 de agosto de 2012

Falem mal, mas falem da greve

“Falem mal, mas falem de mim”. Os movimentos populares estão reduzidos a essa situação há muito tempo. Principalmente, no caso das greves. Mas não só. Os caminhoneiros e os motoboys foram parar nas manchetes dos jornais semana passada.

Os primeiros bloquearam estradas, paralisaram o tráfego e provocaram algum desabastecimento. Os motociclistas fizeram manifestações em grandes cidades, aumentando o já costumeiro caos do trânsito. As duas categorias protestavam contra mudanças na legislação que lhes trariam prejuízo.

Alguns profissionais da grande imprensa chegaram a dar razão aos manifestantes. Mas reclamaram do “método”. Não deveriam ter atrapalhado a vida daqueles que nada tinha a ver com as medidas. O fato é que os atingidos só foram ouvidos depois de partir para a ação. Antes disso, ficou tudo restrito aos gabinetes dos parlamentos e governos.

A grande mídia faz sua parte silenciando sobre questões como estas. É o que ocorre com as greves. Elas praticamente só aparecem nos boletins de trânsito, ao promoverem passeatas e manifestações. E o tom é sempre o de condenação: “atrapalham a vida do cidadão comum”, dizem. Pouco ou nenhum detalhe sobre as reivindicações, os problemas profissionais, a realidade salarial dos grevistas.

Isso tudo é produto de uma imprensa monopolizada e a serviço dos patrões. As greves no setor público, por exemplo, são apontadas como resultado de um “Estado ineficiente” que “paga altos salários a gente incompetente”. Discurso que os vários governos, do federal aos municipais, de oposição ou não, aceitam docilmente.

Bem feito pra nós. Continuamos sem um projeto de comunicação popular, rendidos à lógica da grande mídia e com as orelhas a queimar.

Leia também: As greves nos manuais da grande mídia

3 de agosto de 2012

A impossível delicadeza da MPB

Recente pesquisa divulgada pelo jornal Valor revela que a venda de poesia corresponde a 1,8% da indústria editorial. Previsível. Principalmente, quando decifrar versos é sinônimo de tempo roubado à produção e ao desempenho profissional.

Serve de alívio que, entre nós, grande parte da poesia venha embalada pela tradição cancioneira de nossa cultura. São muitas as belas rimas que costumam nos chegar envolvidas por ritmos e harmonias.

A MPB já foi um grande manancial poético. Em belo texto publicado no Globo de 01/08, Francisco Bosco explica o motivo. É que essa corrente musical “simboliza justamente uma ideia — ou ideologia — de conciliação entre as classes e ‘raças’”.

Segundo o filho do grande João Bosco, a geração que criou a MPB foi formada por “universitários, na maioria brancos (ou brancos simbólicos), que aprofundavam relações a um tempo com o Brasil popular e com o que havia de mais contemporâneo no mundo”.

Mas os conflitos de classe, tingidos fortemente pelo racismo, vêm desmentindo essa “utopia” há décadas, diz ele. Poder econômico e preconceito de cor inviabilizam a leveza de quase toda a poesia. Daí, Bosco lembrar a importância das rimas ásperas dos Racionais.

Afinal, a poesia está presente na própria definição do rap, sigla para “rhythm and poetry”. É que, em tempos de combate, a poética precisa se subordinar ao ritmo. Os manos e minas das periferias e morros não podem dar-se o luxo do canto suave.

Enquanto isso, precisamos manter a busca por “todo o sentimento” e pelo “tempo da delicadeza” de que fala a canção de Chico Buarque e Cristóvão Bastos.

2 de agosto de 2012

Doping, genética? Não. Dinheiro, mesmo

“Supernadadora assombra mundo e desperta debate sobre doping. Genética é o novo caminho?” este é o título de reportagem de Bob Fernandes publicada no Terra Magazine, em 31/07.

Refere-se à chinesa Ye Shiwen, que destruiu os recordes olímpicos de 200 e 400 metros medley. Foi o bastante para que comentaristas americanos falassem em doping.

Chen Zhanghao, médico da equipe chinesa, rebate: “Phelps quebrou sete recordes mundiais… ele é normal?” Segundo Zhanghao, foram feitos mais de 100 testes antidoping em sua atleta. Todos negativos.

Mas as suspeitas, agora, recaem sobre a genética. Fernandes cita o italiano Mauro Giacca, respeitado especialista nesse assunto. Segundo Giacca:

Camundongos tratados com a terapia genética foram submetidos a esforços sem sentir cansaço. Houve aumento da massa muscular, hiperatividade e não restou nenhum traço no sangue nem na urina.

Fernandes conclui: “Essa briga, genética natural x doping, não tem hora para acabar”. Talvez, tenha sim. Vejamos o que diz o artigo “Uma prova constante”, de Simon Kuper, publicado pelo Valor em 28/07:

A partir do momento em que o esporte se torna importante e lucrativo, os atletas começam a usar drogas que trazem risco de morte para poder correr milésimos de segundo mais rápido. Pode-se dizer com exatidão o dia em que o público deixou de acreditar que o atletismo era puro: 27 de setembro de 1988, quando Ben Johnson, recém-coroado campeão olímpico e recordista mundial nos 100 metros rasos, viu seu teste de doping dar positivo em Seul.

Ou seja, se deixar de funcionar como um negócio bilionário, o esporte poderá impor derrotas aos métodos antiesportivos.

Leia também: Olimpíadas e machismo

1 de agosto de 2012

Mensalão, jornalões e politiquinha

O julgamento do Mensalão deve começar em 02/08. Os jornalões esperam gulosos pelo início do espetáculo. Estão salivando pela condenação dos réus. Tem razão o jornalista Jânio de Freitas. Em artigo publicado na Folha em 31/07, ele diz:

O julgamento do mensalão pelo Supremo Tribunal Federal é desnecessário. Entre a insinuação mal disfarçada e a condenação explícita, a massa de reportagens e comentários lançados agora, sobre o mensalão, contém uma evidência condenatória que equivale à dispensa dos magistrados e das leis a que devem servir os seus saberes.

O caso se arrasta há sete anos. Quando estourou o escândalo, a oposição de direita queria propor o impeachment de Lula. Não conseguiu, claro. Que moral teria um julgamento feito por um Congresso que tinha Collor, Sarney, Maluf, ACM, Demóstenes e outros de igual e ordinária qualidade? Seria o mesmo que transformar Ali Babá em juiz de seus ladrões.

Tudo indica que o “mensalão” jamais existiu Na verdade, trata-se do famoso “caixa 2”, admitido até por Lula. Sobras não oficializadas da campanha que o PT repassou aos partidos aliados para pagarem suas dívidas eleitorais. A grande imprensa não quer admitir essa hipótese porque caixa 2 é regra quase sem exceção entre os partidos.

Os petistas reclamam com razão dessa estratégia da grande mídia. Mas a exigência de julgamento para todos mal esconde a intenção de que não haja punição para ninguém. São desculpas de malandro acossado por pilantras. É a politiquinha a que o PT se rebaixou há um bom tempo. Duro é aguentar os jornalões. Mais um servicinho rasteiro que nos presta o lulismo.