Doses maiores

30 de abril de 2013

Delegado de polícia defende legalização das drogas

É isso mesmo. Ele se chama Orlando Zaccone, trabalha na Polícia Civil do Rio de Janeiro e seu depoimento foi publicado pela página virtual da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio.
Zaccone explica sua posição:

No Brasil, de acordo com dados da Anistia Internacional, em 2011, só nas cidades do Rio de Janeiro e São Paulo, se matou mais do que em todos os países que têm pena de morte autorizada. Todas essas mortes provocadas por ações policiais pelo sistema penal têm como marca de legitimidade a condição do morto como traficante. Então, esta guerra produz letalidade, encarceramento em massa de pessoas que são as mais vulneráveis do extrato social. É uma guerra injusta e há muito tempo incentivada, apoiada e produzida pelo Estado brasileiro.

Com razão, ele diz que pobre preso com droga é traficante. Rico, é usuário. Mas diz que a atual política carioca de pacificação também não é solução:

Pacificação vem desde Duque de Caxias, que foi o grande pacificador, passa pelo Marechal Rondon com os índios, depois, Canudos, com a pacificação dos seguidores de Antônio Conselheiro, e no Araguaia até chegarmos ao modelo de hoje das UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora) no Rio de Janeiro. Temos que ter uma visão mais crítica de como vai se estabelecendo o paradigma bélico de uma pacificação como forma de construção do Estado brasileiro. E a guerra às drogas está nesse contexto.

Zaccone acredita na democratização das polícias. Mas não será isso que acabará com a vocação sanguinária delas. Só o seu desmantelamento pode começar a mudar realmente as coisas.

Leia a entrevista, clicando aqui.

Leia também: O pior efeito do crack

29 de abril de 2013

Microempreendedores do terrorismo solitário

“Ameaça de indivíduos radicais supera a de redes organizadas, dificultando trabalho da Inteligência”, diz matéria do Globo, em 28/04. A reportagem faz parte da cobertura das investigações dos recentes atentados da Maratona de Boston.

Mas a preocupação teria sido manifestada em 2011, pelo Departamento de Defesa Interna estadunidense. O órgão alertava para a crescente ameaça de ações terroristas por parte de indivíduos ou pequenos grupos.

A avaliação certamente foi influenciada pela paranoia imperialista que justifica medidas cada vez mais restritivas a liberdades civis. E sua divulgação agora pode ajudar a justificar a suspeitíssima tese de que dois estrangeiros muçulmanos foram os responsáveis pelas mortes em Boston.

Mas é bastante provável que ações terroristas isoladas comecem a ocorrer mais frequentemente. Seria o produto do clima de ódio, intolerância e violência que a Guerra ao Terror de Bush criou e Obama vem mantendo.

A partir do 11/09, o governo americano elegeu como grande inimigo a Al-Qaeda. No entanto, especialistas sempre alertaram para as adesões informais à organização. Seriam pessoas ou pequenos coletivos agindo em nome da Al-Qaeda, sem verdadeiramente pertencerem à organização.

Parece que o imperialismo criou um ambiente propício ao terrorismo solitário. Usando a linguagem neoliberal para o mercado de trabalho, seriam microempreendedores do terror que adotaram uma famosa franquia muçulmana do ramo.

Mas, tal como na concorrência capitalista, neste caso também os monopólios dominam. Os aparelhos de estado nacionais não deixam muito espaço para os pequenos negócios do terror. E a dominar o mercado está a poderosa e eficiente máquina de destruição estadunidense.

26 de abril de 2013

Na China, ovos piratas e melancias que explodem

No final dos anos 1980, os ideólogos do capitalismo começaram a dizer que a história tinha acabado. A queda do Muro de Berlim e a decadência soviética seriam as maiores provas. Só restava o capitalismo, diziam. Era a vitória do pós-modernismo.

Nessa mesma época, a China dava os primeiros passos para tornar-se potência econômica no século 21. Mas poucos viriam a atribuir o sucesso chinês a sua “economia comunista”. Afinal, o que não faltam lá são empresas capitalistas bombeando lucros para o ocidente. Seu comunismo não passa de capitalismo de estado disfarçado de socialismo.

Apesar disso, a China acabou desmentindo muitas lendas pós-modernas. Uma delas era a de que a classe operária está desaparecendo. Há mais operários chineses hoje que em toda a história do capitalismo. Outra lenda: a indústria não era mais a locomotiva da economia mundial. Basta que a imensa linha de montagem chinesa desacelere para que todo o planeta fique à beira da recessão.

Mais uma: a exploração brutal de trabalhadores deu lugar à atividade criativa de “colaboradores” assalariados. Mas a economia mundial vive da superexploração da força de trabalho chinesa. Uma exploração que torna as matérias-primas tão baratas que permite piratear ovos.

É isso mesmo. O caso está na matéria “Ovo made in China”, de Janaína Silveira, publicada na revista Superinteressante de março passado. Além dos ovos, também são pirateados melancias e leite em pó. Seu consumo pode matar e causar doenças e mutilações. As melancias são tão carregadas de química que chegam a explodir.

A China mostra até onde pode chegar o capitalismo. E é monstruoso.

Leia também: China: potência ou bomba-relógio?

25 de abril de 2013

MEC ajuda a criar gigantes privados da educação

“Fusão cria grupo gigante de educação” anuncia a matéria de Beth Koike, publicada pelo jornal Valor, em 23/04. Trata-se da união entre Anhanguera e Kroton, duas grandes empresas privadas do ramo.

As duas companhias juntas são avaliadas em cerca de R$ 12 bilhões - cifra que representa o dobro da segunda colocada, a chinesa New Oriental. É o maior negócio do setor no mundo, com “faturamento anual de R$ 4,3 bilhões e 1 milhão de alunos”, diz a matéria.

No mesmo dia, o Estadão destacava: “Só 7% dos alunos de escola pública entraram na USP” no último vestibular. Com isso, o percentual total de alunos vindos da rede pública na USP representa 28,5%. Mas o País tem 85% dos estudantes de ensino médio em escolas públicas.

A pró-reitora de Graduação da USP, Telma Zorn, acha que as causas podem ser várias, mas “o ProUni não pode ser desvinculado". Para ela, o aumento das bolsas federais em faculdades privadas afastaria o estudante de escola pública do vestibular da Fuvest.

Voltando à recém-criada “gigante da educação”, destaquemos um depoimento de Rodrigo Galindo, atual presidente da Kroton. De acordo com Marcela Ayres, do Portal “Exame”, Galindo afirma que seu grupo é o “maior parceiro do Ministério da Educação, com 120 mil alunos” financiados por dinheiro público.

Ou seja, para o governo Dilma não basta ajudar os grupos privados da saúde. Também precisa favorecer a educação empresarial. As verbas que faltam na escola pública ajudam a financiar a mercantilização do ensino brasileiro por imensos monopólios privados. Parabéns, MEC!

Leia também: O BNDES e a vaca no brejo

24 de abril de 2013

A exceção, a regra e as revoluções

Em 17/04, Rafael Franzini e Amerigo Incalcaterra publicaram o artigo “Por que a exceção não deve ser a regra” na Folha de S. Paulo. O texto argumenta que a internação à força de dependentes de drogas só se justificaria em casos muito pontuais. Mas, no caso dos usuários de crack, tornou-se regra.

Isso não nos deveria espantar. Na atual sociedade adotamos as exceções como objetivo maior. Por exemplo, a beleza segundo padrões impostos pela grande mídia é muito rara. No entanto, é esse modelo que a grande maioria procura imitar sem sucesso. O automóvel mais luxuoso e potente é também o mais caro. Apesar disso, quase todo mundo sonha possuir um. Ser vitorioso é o sonho de quase todos, mesmo que para cada vencedor sejam necessários milhões de perdedores.

Esta é um das lógicas mais poderosas da sociedade capitalista. Em busca de um triunfo quase impossível, somos mantidos em constante competição. Derrotamos a nós mesmos ao abandonar as possibilidades de união para lutar contra uma ordem injusta para a maior parte da sociedade.

Essa lógica tem implicações autoritárias, também. Por exemplo, o que está por trás da popular frase “Por causa de alguns, todos pagam”? É a justificativa de uma ordem que trata a maioria como culpada em potencial. E é isto que ajuda a explicar a aceitação popular de propostas como a redução da maioridade penal.

Mas essa unanimidade burra foi radicalmente desmentida muitas vezes. Foram momentos em que os explorados e oprimidos se levantaram. Trataram a submissão como exceção e quebraram as regras com suas revoluções.

22 de abril de 2013

Dia do Índio: pouco a comemorar

Três dias antes de sua data comemorativa, indígenas ocuparam o Plenário da Câmara dos Deputados, em Brasília. As imagens foram vergonhosas: vários deputados e deputadas fugiram do recinto, deixando para trás computadores, agendas, bolsas e celulares.

A ocupação aconteceu em protesto contra o Projeto de Emenda à Constituição 215. A proposta quer transferir para um Congresso dominado por ruralistas as decisões sobre as terras indígenas.

Mas não faltam outros motivos para a indignação indígena. Na véspera do Dia do Índio, a organização “Survival International” cobrou do governo brasileiro ação em defesa dos índios da etnia Awá, no Maranhão. Eles pertencem ao grupo populacional mais ameaçado de extinção no mundo. Um juiz federal determinou a retirada de madeireiros e outros invasores de suas terras até o final de março passado. A decisão foi simplesmente ignorada e nada foi feito.

No próprio Dia do Índio, reportagem de Daniela Chiaretti, publicada pelo jornal Valor, informava que “152 terras indígenas na Amazônia estão potencialmente ameaçadas por projetos de mineração”. Enquanto isso, o “Movimento Xingu Vivo para Sempre” permanece em luta contra a construção da usina de Belo Monte no rio Xingu. E uma Força Nacional cerca os índios mundurukus no Rio Tapajós, onde outra usina deve ser construída.

Motivos para comemorar? Apenas o crescimento da organização dos indígenas e a radicalização de suas lutas. São mais de 400 organizações indígenas no Brasil, hoje. Que continuem a ocupar ruas e gabinetes em defesa das terras a que sempre tiveram direito. Que coloquem para correr os verdadeiros invasores e sua ação destruidora.

Leia também: A militarização da questão indígena e ambiental

19 de abril de 2013

Ficha suja para empresas? Nem pensar

Em 17 de abril de 1996, acontecia o massacre de Eldorado dos Carajás, no Pará. Nessa data, foram mortos 21 trabalhadores sem-terra que participavam de uma manifestação pela Reforma Agrária. As mortes foram obra da polícia em operação financiada pela mineradora Vale do Rio Doce, que teve a circulação de seus caminhões dificultada pela manifestação.

A culpa da Vale está documentada na papelada do processo judicial sobre as mortes, segundo a reportagem “Financiadora do massacre de Carajás, Vale é repudiada no Rio”. A matéria de Vivian Virissimo foi publicada pelo jornal Brasil de Fato, em 17/04.

Dezessete anos depois, a Vale não continua apenas impune. Também é uma das clientes preferenciais do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). E ampliou seu raio de ação. Faz vítimas em outros lugares do mundo. É o que diz a reportagem “Polícia dispersa protesto contra a Vale em Moçambique “, publicada pela BBC Brasil, em 17/04.

A matéria afirma que policiais dispersaram um protesto de moradores que foram desalojados devido à instalação de uma mina de carvão da Vale no país africano. “Os manifestantes bloqueavam desde a tarde de terça-feira a ferrovia pela qual a empresa escoa sua produção”,diz o texto.

A Vale atropela populações pobres e trabalhadores com apoio e financiamento de um banco estatal. Não seria o caso de bloquear dinheiro público para uma empresa com uma ficha corrida dessas? Claro que não. Parlamentares e governantes, com ficha suja ou não, não permitiriam. A grande maioria deles está em seus postos graças ao financiamento dessas corporações poderosas.

18 de abril de 2013

Maioridade penal: basta de impunidade para a grande imprensa

A Folha de S. Paulo afirma que “93% dos paulistanos querem redução da maioridade penal”, referindo-se a pesquisa feita pelo Datafolha, em 15/04. O jornal diz que o debate “voltou à tona” com o assassinato do universitário Victor Deppman, em 09/04, em São Paulo. O suspeito pelo crime é um jovem de 17 anos.

Mas o debate “voltou à tona” devido à idade do criminoso ou por escolha da grande imprensa? Afinal, devem acontecer dezenas de crimes semelhantes por semana nas grandes cidades brasileiras. Mas poucos envolvem vítimas de classe média e se prestam tão bem à pauta conservadora da mídia comercial.

Por exemplo, apenas 1% dos “adolescentes infratores” da Fundação Casa (antiga Febem), cometeu crimes contra a vida. Divulgada este mês, a estatística recebeu divulgação bem mais discreta.

Na verdade, há uma opção clara pelo exagero dramático dos crimes de menores pobres, em prejuízo de números que desmentem sua suposta sanha assassina. Para a imprensa comercial, os 99% formados por adolescentes que jamais mataram são representados por uma minoria cruel, mas insignificante.

É desse modo que a mídia grande influencia a realidade. Apresenta um fato com grande destaque e, sob seu impacto, colhe dados apenas para confirmar as teses que defende subterraneamente. É péssimo jornalismo, sociologia vulgar e conservadorismo enrustido.

A imprensa empresarial fala muito de impunidade, mas é ela que impunemente usa suas estatísticas tortas para criar o clima de medo que alimenta o conservadorismo. Ajuda a justificar a violência policial responsável pelo verdadeiro massacre de jovens negros e pobres nas grandes cidades.

17 de abril de 2013

Reforma Agrária: nem aos bispos adianta reclamar

“Bispos vetam projeto sobre questão agrária”, diz o título de reportagem de José Maria Mayrink, publicada pelo Estadão em 16/04. A matéria refere-se a votação realizada em assembleia da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).

A reportagem cita o bispo de Ipameri (GO): "Os bispos sugeriram, numa enxurrada de emendas, que se reconheça o avanço alcançado na questão agrária nos últimos 33 anos, desde 1980, quando a CNBB publicou seu último documento oficial sobre o tema".

A CNBB nunca foi um exemplo de radicalismo, mas costumava ter posições avançadas na questão da terra. Ainda segundo Mayrink, “o conceito de latifúndio também deverá ser revisto, para evitar uma condenação generalizada, como se toda propriedade de terra fosse sinônimo de injustiça”. Perfeito para livrar a cara dos latifundiários do agronegócio.

Mas os bispos não estão sozinhos. A Justiça Federal acaba de conceder liminar de reintegração de posse para o fazendeiro Orlandino Carneiro Gonçalves. Ele é assassino confesso de Denilson Barbosa, indígena Guarani-Kaiowá, de 15 anos.

E o PT também faz das suas. O deputado federal Padre Ton (PT-RO) denunciou o líder de seu partido, José Guimarães (PT-CE), por ter assinado proposta para criação de comissão que vai examinar a PEC 215. 

Articulada pela bancada ruralista, a proposta transfere do Poder Executivo para o Congresso Nacional a demarcação e homologação de terras indígenas e quilombolas, além de rever os territórios já concedidos. Guimarães retirou a assinatura, mas ficou a suspeita.

Como se vê, se depender dessa turma toda, a Reforma Agrária será sepultada junto com indígenas, quilombolas e trabalhadores rurais. E nem aos bispos adianta reclamar.

Leia também: A prosa dos petistas e o pau dos latifundiários

16 de abril de 2013

O BNDES e a vaca no brejo

O artigo “O empurrão do Governo”, que Chico Santos publicou no Valor em 12/04, traz algumas informações importantes sobre o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

Por exemplo, governo e grande imprensa dizem que a crise que mundial não chegou ao Brasil. Mas isso não impediu que um pacote de bondades fosse ofertado aos empresários através do banco estatal. O pior é que desde o primeiro estouro da crise, em 2008, o dinheiro para empréstimos do BNDES “passou a sair majoritariamente dos cofres do Tesouro Nacional”.

Com a desculpa de evitar contaminação da economia interna pela crise mundial, o BNDES já sugou quase R$ 300 bilhões do Tesouro desde 2009. Os financiamentos a particulares passaram “de R$ 37,4 bilhões em 2002, último ano de governo do Fernando Henrique, para R$ 168,4 bilhões em 2010 ou R$ 156 bilhões no ano passado”.

O resultado é uma montanha de créditos a receber pelo BNDES que encerrou 2012 em R$ 700 bilhões. Diante disso, a agência de classificação de risco americana Moody"s rebaixou a nota de confiança do banco. Alega que a instituição distribuiu um volume exagerado de créditos em relação ao tamanho de seu capital. Com clientes como Eike Batista, fica difícil discordar. 

Santos encerra o artigo com a seguinte pérola: “Quem sabe a avenida Chile [onde fica o BNDES, no Rio] não venha a exibir também a estátua de um touro, como a que figura no coração do capitalismo privado mundial”. Exagero, claro. Mas não estamos livres de ver a vaca afundar no brejo, levando junto muito dinheiro público.

Leia também: E o capital avança sob o governo petista

15 de abril de 2013

Quem disse que parlamentar não trabalha?

A grande imprensa gosta de reproduzir a ideia de que vereadores, deputados, senadores não trabalham. E costuma denunciar as constantes faltas dos parlamentares às votações. Por exemplo, em 2012, deputados federais faltaram em média 74 dias de um total de 91 sessões obrigatórias.

Mas quem disse que os faltosos não estão trabalhando? A grande maioria deles está em suas “bases eleitorais”. Com os pobres, fazem politicagem com pequenos favores e promessas falsas. Com os ricos, acertam a apresentação de projetos que atendam a seus interesses. Só aparecem pra votar o que combinaram com seus patrocinadores.

Quando o falecido PT começou a disputar eleições, a proposta não era eleger campeões de presença em plenário. Ao contrário, esperava-se que os parlamentares ficassem em suas bases sociais a maior parte do tempo. Apoiando greves, ocupações, campanhas e as lutas populares em geral.

O aparecimento de petistas na lista de parlamentares exemplares foi um dos primeiros sintomas do que o PT se tornaria: um partido comportadinho, que só se mantém próximo das lutas populares para manter suas bancadas e governos. Em nome disso, engolem sem queixas a aprovação de leis contrárias aos interesses da maioria da população.

A direita já não precisa trabalhar tão duro para acabar com os direitos trabalhistas, por exemplo. A base parlamentar do governo Dilma faz questão de ajudar. Ameaçam apresentar um projeto criando o chamado "Acordo Coletivo Especial", que propõe “flexibilizar” as leis trabalhistas. Na prática, cortar direitos dos trabalhadores.

Mas nem todos os trabalhadores serão atingidos. O projeto não inclui os engravatados de Brasília que não param de trabalhar contra nós.

Leia também: Metalúrgicos do ABC ressuscitam proposta tucana

12 de abril de 2013

Quando sete minutos são uma eternidade

Nos anos 70, fez sucesso um romance chamado “Os sete minutos”, de Irving Wallace. Basicamente, o livro era sobre outro livro, em que uma mulher descrevia suas experiências sexuais. Os minutos em questão seriam o tempo médio para se alcançar o orgasmo feminino.

Mas este intervalo de tempo também é considerado o período aproximado em que a média das pessoas consegue manter-se concentrada em algum assunto. Segundo o livro “Convite à Filosofia”, de Marilena Chauí :

Para atender aos interesses econômicos dos patrocinadores, a mídia divide a programação em blocos que duram de sete a dez minutos, cada bloco sendo interrompido pelos comerciais.

Pouco a pouco, isso se tornou um padrão para nossa atenção. Professores notavam que seus alunos não conseguiam se concentrar na aula por tempo superior a dez minutos. Artistas de teatro teriam notado o mesmo em relação a seu público durante cenas longas.

Mas a popularização da internete parece ter encurtado ainda mais esses intervalos. Principalmente, com o crescente uso de imagens e sons no lugar de textos. Agora, chegou o Vine, lançado em janeiro passado pelo Twitter. A nova ferramenta só permite criar vídeos com até seis segundos de duração.

O aplicativo é mais um elemento a reforçar o império da comunicação instantânea e volátil. A grande maioria fica com conteúdo raso que leva a reações virtuais com poucos resultados concretos. Já a elaboração cuidadosa e profunda, vai tornando-se monopólio de quem tem dinheiro, poder e tempo.

Nesse ritmo, sete minutos para alcançar um orgasmo serão um luxo de que só os mais velhos lembrarão.


11 de abril de 2013

Querem controlar até os sonhos. Que pesadelo!

Em 28/10/2011 o portal G1 divulgou o artigo “Cientistas conseguem ‘ler’ sonhos em estudo alemão”. Pesquisa do Instituto Max Planck de Psiquiatria teria identificado áreas do cérebro que são acionadas quando sonhamos.

Mas o estudo analisou apenas pessoas que são capazes de reconhecer que estão sonhando e controlar o que acontece no sonho. O problema, dizem os pesquisadores, é que os sonhos são incontroláveis para a maioria das pessoas.

Ainda no campo das investigações oníricas, a France Presse publicou a reportagem “Cientistas japoneses decifram parcialmente conteúdo dos sonhos”, em 05/04. Trata-se da criação de um “dispositivo para decodificar as imagens observadas em sonhos”. Depois de repetir a operação mais de 200 vezes por pessoa, teria sido possível criar:

...uma tabela de correspondências entre a atividade cerebral e objetos ou temas de diversas categorias (alimentos, livros, personalidades, móveis, veículos, etc.) observados nos sonhos: uma espécie de léxico que associa um sinal cerebral a uma imagem.

O tal léxico possibilitaria decifrar o conteúdo dos sonhos.

Por fim, a AFP publicou matéria em 11/04, com o título “Cientista desenvolve software de controle dos sonhos”. Desta vez, são estudiosos da universidade britânica de Hertfordshire. O programa ainda está em fase de testes. O objetivo seria “melhorar” os sonhos de pessoas com depressão.  

O que pensar quando a ciência começa a preocupar-se com o controle e a “melhoria” dos sonhos? Aceitar suas mais que duvidosas pretensões curativas? Melhor nos prepararmos para novos e aterrorizantes pesadelos.

10 de abril de 2013

China: potência ou bomba-relógio?

Como publicação séria e comprometida com os interesses do grande capital, o jornal Valor não tira os olhos da China. Desta vez, trouxe a longa reportagem “É hora da transição”, de Claudia Safatle, publicada em 05/04.

O texto focaliza os primeiros pronunciamentos dos novos presidente e primeiro-ministro do país. São Li Keqiang e Xi Jinping, respectivamente. Ambos confirmaram a intenção de mudar o perfil da economia chinesa. O atual modelo fortemente exportador cederia espaço à expansão do mercado interno.

Tal mudança incluiria ainda duas outras transições. A economia sob pesado planejamento central se abriria mais ao mercado. E a preponderância rural de sua distribuição populacional daria lugar a uma sociedade urbana e industrializada.

As mudanças devem ser lentas e seguras. É o que espera não só o governo chinês, mas todos os governos do mundo. Não estamos falando apenas da fábrica do planeta, em que qualquer alteração na produção mexe com toda economia mundial. Trata-se também de um país com 1,3 bilhão de habitantes. Destes, 130 milhões vivendo abaixo da linha de pobreza e 800 milhões pouco acima dela.

O jornal ouviu Zhang Yuyan, diretor do Instituto de Economia e Política Mundial da Academia Chinesa de Ciências Sociais. Ele afirma que a China está em plena “transição do planejamento central para uma economia de mercado socialista”.

Mesmo que não fique claro o que seria uma “economia de mercado socialista”, o mais provável é que signifique um aprofundamento das relações capitalistas e suas contradições. A potência demográfica também pode se tornar uma bomba-relógio social.

Leia também: O capitalismo chinês começou com Mao

9 de abril de 2013

O destino das almas de Thatcher, Reagan e João Paulo 2º

Margaret Thatcher morreu ontem, 08/04. Ela foi a primeira e única mulher a se tornar primeira-ministra da Grã-Bretanha. No período em que governou tornou-se campeã do neoliberalismo ao lado de Ronald Reagan, no comando dos Estados Unidos. Mas outro nome merece ser citado como parte da gangue. João Paulo 2º, paladino do conservadorismo católico, completa a trindade do mal que volta a se reunir.

Sem querer, Michael Löwy escreveu um artigo que serviria para ilustrar parte dessa situação. Trata-se de “A verdadeira Igreja dos pobres” publicado no jornal Le Monde, em 31/03 e traduzido por Moisés Sbardelotto para o site da IHU On-Line. Um trecho do texto comenta a relação que alguns teólogos desenvolveram com o pensamento de Marx para criticar o capitalismo neoliberal. Este seria:

 ...uma falsa religião, fundamentada na idolatria do mercado e do deus Mammon. Para esses teólogos, como Hugo Assmann ou Franz Hinkelammert, os novos ídolos capitalistas que são o lucro, o dinheiro, a dívida externa, como aqueles denunciados pelos profetas do Antigo Testamento, são Molochs que exigem sacrifícios humanos, uma imagem usada pelo próprio Marx em O Capital.

Adotando toda essa simbologia, esperemos que Thatcher, Reagan e Wojtila estejam vagando em profundezas subterrâneas bastante quentes. Que conheçam de perto as criaturas a quem serviram com tanta dedicação. Recebam em dobro tudo o que fizeram durante seus reinados sangrentos.

8 de abril de 2013

Um desenho animado para lutadores populares

“Meus heróis nunca viraram estátua. Morreram lutando contra os caras que viraram”. Esta frase é do personagem principal do filme de animação "Uma História de Amor e Fúria", de Luiz Bolognesi. Uma produção que procura despertar os mais jovens para a bela aventura de lutar por justiça social.

O herói do filme tem 600 anos. Ele nasce como um guerreiro tupinambá, em 1566 e morre na luta contra colonizadores europeus. Mais tarde, ressuscita para ser morto como um dos líderes da revolta da Balaiada. Depois, participa da resistência armada à ditadura militar. Acaba executado numa favela, enquanto apoiava as ações de criminosos politizados.

Suas aventuras derradeiras acontecem no Rio de Janeiro do final do século 21. A cidade é considerada uma das mais seguras do mundo porque é protegida por milícias privadas que matam livremente. A água pura é a mais cara das mercadorias. As belezas naturais cariocas são banhadas por esgotos.

Nessa trajetória de seis séculos, ele sempre reencontra seu eterno amor. É Janaína, guerreira corajosa como ele. No início do filme, ele a salva transformando-se em um pássaro que a carrega para longe do perigo.

O personagem principal nasce índio, torna-se negro e morre branco. Aparentemente, sua capacidade de luta vai diminuindo. No final, é um jornalista crítico, mas conformista. Aí, são as asas da determinação de Janaína que o carregam de volta à luta.

Infelizmente, o filme não deve alcançar grande sucesso. Principalmente, numa época em que as lutas andam tão desprezadas sem deixar de ser reprimidas. Mas quem compartilha as paixões e fúrias das lutas populares deve assistir e fazer propaganda.

Veja o trailer aqui.

5 de abril de 2013

E o capital avança sob o governo petista

Os jornais de hoje confirmam. O governo Dilma realmente pretende conceder benefícios ao setor privado de saúde. Outro pacote de bondades para os patrões.

Enquanto isso, a atividade industrial do País teve uma queda de 2,5% na produção de janeiro para fevereiro. É a maior desde dezembro de 2008, auge da atual crise mundial. Ou seja, as isenções fiscais para o capital só estão tendo um efeito concreto: retirar recursos dos já precários serviços públicos.

Ao mesmo tempo, o queridinho do projeto lulista de desenvolvimento anda mal das pernas. Eike Batista acaba de se rebaixado pela agência de risco Standard & Poors. Passou para o nível B-, “equivalente ao de um pré-calote”, dizem os especialistas. O dono do “império X” deve mais de R$ 10 bilhões só ao BNDES. Mas é devedor de outros bilhões a bancos privados.

Dizem que Eike Batista pediu socorro a Dilma e levou um sonoro “não” da presidenta. Mas não nos enganemos. Dilma é a continuidade de Lula, com apenas algumas diferenças. Os constantes agrados aos grandes empresários fazem parte do projeto petista de governo.

Há muitas divergências na equipe governamental, mas não quanto ao essencial. Este foi definido há muito tempo: apostar nos capitalistas para melhorar a vida de seus empregados. Algo que tem tudo para dar errado porque sempre deu errado. Eike Batista está aí para mostrar. Se suas empresas quebrarem, o prejuízo será arcado pelos cofres públicos e por seus trabalhadores.

4 de abril de 2013

O que atrai as moscas petistas

As presenças de Marco Feliciano (PSC-SP) na Comissão de Direitos Humanos e de Blairo Maggi (PR-MT) na Comissão de Meio-Ambiente no Congresso Nacional causam indignação. Mas são justificadas pelo governo para garantir suas maiorias parlamentares. São os petistas tentando manter seu controle sobre os aparelhos de Estado.

Alguns dos que defendem essa conduta, costumam se basear numa vaga e distorcida leitura da obra de Antônio Gramsci. Seria a “guerra de posição” defendida pelo revolucionário marxista italiano. No entanto, Gramsci também defendia a necessidade da “guerra de movimento”. Aquela que deve evoluir da conquista de posições para a destruição do Estado burguês.  

Um trecho da própria obra de Gramsci esclarece melhor. No artigo “A intransigência de classe e a história italiana”, de 1918, ele diz:

O Proletariado só pode reconhecer no Estado, conjunto da classe burguesa, o seu direto antagonista. Não pode entrar em concorrência para a conquista do Estado, nem direta nem indiretamente, sem se suicidar, sem se desnaturar e transformar em puro setor político, fora da atividade histórica do proletariado, e se transformar num enxame de moscas de cavalariça em busca dos doces a que se agarrar, morrendo ingloriosamente.

O que vem acontecendo no Congresso Nacional realmente transformou o governo petista e seus aliados em moscas. Mas não são exatamente doces as massas pastosas e fedorentas que os vêm atraindo.

Leia também: A subordinação petista ao grande capital

3 de abril de 2013

O pior efeito do crack

O pesquisador André Antunes publicou o artigo “Crack, desinformação e sensacionalismo”, na revista Poli, da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio. O texto mostra que há muito espetáculo interessado e pouca preocupação social envolvendo a questão.

Entre outros estudos, ele cita o “II Levantamento Domiciliar sobre o Uso de Drogas Psicotrópicas no Brasil”, feito em 2005 pelo Centro Brasileiro de Informações Sobre Drogas Psicotrópicas da Universidade Federal de São Paulo.

Os dados mostram que 0,7% dentre 8 mil entrevistados já havia feito uso de crack na vida. Mas o consumo de álcool obteve 74,6% das respostas e o de tabaco, 44%. E entre as drogas ilegais, a maconha aparece com 8,8%, e a cocaína, com 2,9%.

É verdade que consumidores de crack morrem mais. Mas segundo o estudo “Causa mortis em usuários de crack”, do Departamento de Psiquiatria da Unifesp, de 2006, os óbitos estavam muito mais relacionados “à violência e à vulnerabilidade às doenças infectocontagiosas do que propriamente ao consumo da substância”.

Segundo Sergio Alarcon, psiquiatra e doutor em Saúde Pública pela Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca, o crack incomoda porque “desnuda a miséria humana para muitos daqueles que certamente prefeririam mantê-la na invisibilidade”.

Devolver essa miséria às sombras é um dos objetivos da atual campanha de captura brutal dos usuários de crack. Outro é “limpar” os centros urbanos decaídos para viabilizar grandes empreendimentos imobiliários. Tudo com o apoio venenoso da grande imprensa.

O crack é uma praga, mas o pior de seus efeitos são as soluções adotadas pelas autoridades.

2 de abril de 2013

Os imperialistas nanicos dos BRICS

Os chamados BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) criaram seu próprio fundo de emergência. São US$ 100 bilhões para eventuais situações de crise econômica. Seria uma alternativa ao Fundo Monetário Internacional, dominado por Estados Unidos e Europa.

A palavra “alternativa” não significa necessariamente algo oposto em relação àquilo de que pretende se diferenciar. Neste caso, está mais para imitação com ares de farsa. É o que se deduz de matéria da BBC Brasil sobre o evento. Com o título “ONGs criticam 'postura imperialista' dos BRICS”, o texto foi publicado por Ruth Costas, em 27/03.

O encontro aconteceu no Centro de Conferência Internacional de Durban, África do Sul. Os líderes políticos e empresários dos chamados “emergentes” se reuniram sob um esquema de proteção digno de imperialistas de primeiro time, com direito a barreiras, muros de ferro e tropas numerosas de policiais.

Mas não é só nisso que os líderes dos BRICS imitam governantes europeus e americanos. O avanço da China sobre a África, por exemplo, não deve nada aos colonialistas de séculos passados. Logo atrás, vêm as empresas brasileiras, tentando dar sua contribuição na exploração social e destruição ambiental do continente.

O encontro conseguiu criar até um evento paralelo, como nos eventos do imperialismo tradicional. Cerca de 40 ONGS, sindicatos e outros movimentos criaram o "BRICS a partir de baixo".

O pior é ver boa parte da esquerda justificando essa espécie de colonialismo júnior. Apoiando esses dirigentes politicamente nanicos, que disputam lugar na mesa sangrenta do imperialismo sênior.

1 de abril de 2013

A militarização da questão indígena e ambiental

Agora é oficial. A resistência indígena e a preservação ambiental serão tratadas como questão militar. É o que se deduz da criação das Tropas da Companhia de Operações Ambientais da Força Nacional de Segurança Pública por decreto presidencial publicado em 12/03.

Sua primeira missão é a “Operação Tapajós”, com início marcado para 28/03. Suas primeiras vítimas, os integrantes do povo Munduruku, que vivem em Itaituba, no Pará. As novas tropas seriam responsáveis por garantir a realização dos estudos de impacto do Complexo Hidrelétrico do Tapajós.

São cerca de 250 homens fortemente armados, entre agentes da Polícia Federal, Força Nacional, Polícia Rodoviária Federal e Força Aérea. O que demonstra o caráter pesadamente bélico de toda a operação. E não poderia ser diferente. Afinal, os interesses de poderosas empreiteiras e indústrias sedentas por recursos naturais estão bem representados no governo e nos parlamentos. Indígenas e populações locais não podem ousar contrariá-los.

O licenciamento ambiental da usina está suspenso pela Justiça por falta das consultas prévias aos índios. Mas isso parece não importar muito para os comandantes da operação. E, na melhor das hipóteses, uma consulta poderá ser feita nos moldes de sempre. De um lado, um exército de advogados e técnicos pagos a peso de ouro por grandes empresas. De outro, índios cansados por horas de deslocamento e obrigados a seguir complicados procedimentos burocráticos.

Se no Maracanã, em plena capital carioca, o peso da repressão caiu sobre os indígenas sem qualquer vacilação, o que esperar da movimentação de tropas no interior do Pará? Provavelmente, o contrário do que defendia o Marechal Rondon: "Morrer, se preciso. Matar, nunca!"

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