A
busca pelas possíveis causas de nossa imensa derrota certamente terá que passar por
entender a “psicologia das massas”.
Nessa
direção, uma entrevista de Clarisse Gurgel para a Carta Capital,
ainda em 2017, fornece pistas importantes.
Formada
em Artes Cênicas e doutora em Ciência Política pela UERJ, Clarisse diz que um grande
problema de nossa esquerda é a utilização da “ação performática” como “tática
preferencial”.
E
o que seria isso? Basicamente, diz ela:
... é você simular que está sendo espontâneo e atuar
de forma efêmera, ou seja, sem continuidade. É priorizar eventos, como atos, marchas,
passeatas, abraços a monumentos etc.
O
problema, continua Clarisse, é que:
Quando a esquerda parte da ação da rua, ela está
invertendo o processo. Ir para a rua é o ápice. A esquerda precisa recuperar a
ação que fazia nos locais de trabalho, nas associações de moradores, nos
núcleos partidários, nos movimentos sociais.
Além
disso, a arena da ação performática seria aquela em que os conservadores mais
se sentem à vontade. Encontram nela condições ideais para fazer valer o “significante
mestre” de sua preferência.
Significante
mestre, explica, é qualquer declaração que tenha o efeito de uma mãe dizer a
uma criança: “é porque é”.
Por exemplo, a afirmação “não queremos que o Brasil se torne uma Venezuela” ganha caráter
de grave ameaça devido à campanha da grande mídia contra o regime chavista.
Também
temos nossos significantes mestres, nossas palavras de ordem. O problema é
estarmos reduzidos a eles em um meio hostil a nossos valores. Dissemos muitos “porque
sim” e grande parte da sociedade contestou: “porque sim não é resposta”.
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