São 10 milhões, aproximadamente, as pessoas encarceradas no mundo. Os campeões são Estados Unidos (2,2 milhões de pessoas presas), China
(1,6 milhões), Rússia (731 mil) e Brasil (514 mil).
Mas 60 anos atrás, em seu livro “Tristes Trópicos”, o antropólogo Lévi-Strauss já se preocupava com os “costumes judiciários e penitenciários” de nossa civilização ponderando o seguinte:
Mas 60 anos atrás, em seu livro “Tristes Trópicos”, o antropólogo Lévi-Strauss já se preocupava com os “costumes judiciários e penitenciários” de nossa civilização ponderando o seguinte:
Estudando-os do exterior, seriamos tentados a opor-lhes
dois tipos de sociedades: as que praticam a antropofagia, isto é, as que veem
na absorção de certos indivíduos detentores de forças temíveis, o único meio de
neutralizá-las e mesmo de aproveitá-las; e as que, como a nossa, adotam o que
se poderia chamar a “antropoemia” (do grego “emein”, vomitar); postas diante do
mesmo problema, escolheram a solução inversa, que consiste em expulsar esses
seres temíveis para fora do corpo social, mantendo-os temporária ou
definitivamente isolados, sem contato com a humanidade, em estabelecimentos destinados
a esse fim. À maioria das sociedades que chamamos "primitivas", esse
costume inspiraria um horror profundo; ele nos marcaria aos seus olhos da mesma
barbárie que seríamos levados a imputar-lhes devido aos seus costumes
simétricos. Sociedades que, sob certos aspectos, nos parecem ferozes, sabem ser
humanas e benevolentes quando as encaramos por outro.
Como se vê, o país que ocupa o quarto lugar em encarceramento no mundo supera a oposição apontada por Lévi-Strauss chegando a uma síntese muito indigesta. Vomitamos homens e também os fazemos devorarem-se.
Leia também: Quando a inocência não compensa