Doses maiores

4 de novembro de 2024

A única maneira de um nazista ser bom

“O crime do bom nazista”, de Samir Machado de Machado é um dos semifinalistas do Prêmio Jabuti na categoria romance de entretenimento. Trata-se de uma trama policial em que se destaca a homoafetividade dos personagens principais.

Mas para além do fascinante desafio de desvendar a autoria de um crime, o leitor ou leitora ficam sabendo da terrível perseguição a que eram submetidos os homossexuais sob o regime nazista. Por exemplo, no seguinte trecho:

E Rudolf então lhe contou da carga de trabalhos exaustivos a que os prisioneiros homossexuais como eles eram submetidos, muito maior do que a de qualquer outro prisioneiro, pois era crença corrente que o trabalho duro os curaria. Contou dos estupros que ele e outros homossexuais estavam sofrendo, das surras, de ter os testículos mergulhados em água fervente, as unhas arrancadas, contou das coisas que lhes introduziam no ânus para divertimento dos guardas, algumas tão compridas que perfuravam seus intestinos e os faziam sangrar até a morte, contou daqueles que foram simplesmente espancados até morrer, enfim, de como eram tratados como a mais baixa das criaturas. Pois, aos olhos nazis, que cultuavam sobretudo a própria masculinidade, eles eram mais baixos até mesmo do que ciganos ou judeus.

Também somos informados de que o primeiro movimento homossexual de que se tem notícia surgiu na Alemanha no final do século 19, com a fundação do Comitê Científico-Humanitário, pioneiro mundial na organização dos homossexuais, resistindo até a ascensão nazista, em 1933.

Por fim, o livro nos obriga a concordar quando um de seus personagens afirma que o único bom nazista possível é o que está morto.

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