Doses maiores

16 de dezembro de 2015

Rápidas e tristes considerações sobre a COP-21

A COP 21 foi encerrada sob o aplauso de seus participantes e da grande mídia. Nada mais enganoso.

O estadunidense James Hansen é considerado o pai dos alertas sobre as mudanças climáticas. Já em 1988, na condição de cientista da Nasa, ele já defendia a necessidade de reduzir radicalmente a poluição do ar. Quase 40 anos depois, Hansen considerou as negociações de Paris “uma fraude”.

A jornalista e ativista canadense Naomi Klein afirmou que as manifestações de protesto na capital francesa, fechando “ao tráfego uma rua cheia de lojas em um sábado à tarde antes do Natal, fez mais pela redução das emissões” de gases poluentes do que os participantes da Conferência.

Cabe destacar ainda algumas considerações feitas pelo ambientalista britânico George Monbiot em seu texto “Aquecimento global: um estranho evento em Paris“:

A Cúpula do Clima foi, ao mesmo tempo, avanço e desastre. Formou-se consenso inédito sobre gravidade da ameaça. Mas lobbies bloquearam as medidas indispensáveis para enfrentá-la. Comparado com aquilo que poderia ter sido, é um milagre. Comparado com o que deveria ter sido, é um desastre.
            (...)
A extração de combustíveis fósseis é um fato duro. Mas não faltam fatos suaves ao acordo de Paris: promessas escorregadias e que podem ser desfeitas. Até que resolvam manter os combustíveis no solo, os governos continuarão a sabotar o acordo que acabam de fazer.

Por fim, Monbiot não mede as palavras: “...deixe que os delegados se congratulem por um acordo melhor do que poderia ser esperado. E que o temperem com um pedido de desculpas a todos aqueles a quem a conferência irá trair”.

A PM que mata e a PM que morre

A Agência Pública publicou “396 mortes pela PM paulista: as histórias por trás dos BOs”. A reportagem de Ciro Barros, Iuri Barcelos e José Cícero da Silva analisou 330 boletins de ocorrência relacionados a 396 mortes por intervenção policial em São Paulo, em 2014.

Os resultados mostraram o que já se sabe. A grande maioria das vítimas dos policiais eram jovens negros, entre 15 e 29 anos. Além disso, os dez bairros mais ricos de São Paulo registraram uma mortalidade policial 27 vezes menor que nas outras regiões. Portanto, os dados voltam a confirmar que as vítimas da polícia têm idade, cor e endereço bem definidos.

Mas há uma informação que merece atenção. Enquanto 396 vítimas civis foram mortas, nenhum PM morreu e apenas 17 ficaram feridos. Por outro lado, no ano passado, oito policiais militares morreram em serviço e outros 129 ficaram feridos. Mas “a maioria desses casos não ocorreu em situações envolvendo mortes de civis pela PM”, diz a matéria.

Esses números desmentiriam a ideia de que a alta letalidade policial resulta de ações contra bandidos fortemente armados e violentos. Além disso, mostrariam que há alguns setores da PM encarregados de executar criminosos ou suspeitos e outros, abandonados à sua própria sorte.

Em comum entre os que morrem e os que matam, salários baixos e origem pobre. A diferenciá-los o apoio que os últimos recebem da alta hierarquia, desde o governador aos coronéis. Para estes, só importa que os mortos, civis ou militares, continuem a ser os mais pobres e pretos.

Como alertou o jurista Eugenio Zaffaroni, à criminalização da pobreza, corresponde sua “policização”.

Leia também: A criminalização da pobreza e sua “policização”

15 de dezembro de 2015

Pior do que tá, fica sim!

Um deputado federal, campeão de votos, em sua campanha eleitoral usava o seguinte bordão: “Pior que tá, não fica. Vote em Tiririca!”. Não é bem assim, Vossa Excelência.

Em 11/12, o portal Outras Palavras publicou artigo de Joseph Kishore intitulado “Assim se prepara uma nova Guerra Mundial”. O texto alerta para a ampliação da intervenção militar de Estados Unidos, Grã-Bretanha, França e Alemanha na Guerra da Síria.

Segundo Kishore, trata-se de um movimento de “recolonização do mundo” em que “as velhas potências tentam participar do ‘neobutim’”. O agravante, diz ele, é que o conflito “já se vai convertendo em ‘guerra por procuração’ contra a Rússia”.

Kishore afirma ainda que:

A situação geopolítica é hoje mais explosiva que em qualquer outro momento anterior, desde as vésperas da 2ª Guerra Mundial. Acossada por crise econômica e social para a qual a classe das elites governantes não tem resposta progressista a oferecer, aquela classe das sempre mesmas elites cada vez mais recorre à guerra e ao saque, como a única resposta que conhecem para quaisquer das suas dificuldades.

Enquanto isso, no artigo “O lado negro da internet das coisas”, publicado na Folha em 14/12, Ronaldo Lemos anunciava uma tecnologia chamada “Pavlok”, relacionada a “correções de comportamento”. Segundo o texto, um de seus aplicativos:

... se chama Wake Up, um despertador na base do choque. Outro tem o nome de Productive e monitora seus hábitos na rede, dando um choque quando você se desvia do trabalho. Há também o Fit, que acompanha sua alimentação e exercícios, punindo o usuário se ele fugir das suas metas.

Socorro, Tiririca!

14 de dezembro de 2015

Para bom entendedor, meia palavra bas...

Política e lustra-móveis

Fim de semana passado, houve eleições municipais na Arábia Saudita. Pela primeira vez mulheres puderam votar e ser votadas. Mas nenhum candidato, homem ou mulher, pode exibir suas fotos em cartazes ou propagandas. A medida foi adotada para evitar que a exposição de rostos femininos atraísse a ira dos fundamentalistas islâmicos.

Não pelos mesmos motivos, bem que poderíamos adotar a mesma medida por aqui. Afinal, quem vê cara, não vê proposta. Até porque a grande maioria dos políticos profissionais anda usando lustra-móveis como creme de barbear.

A ciência a serviço da doença

Deu no Globo, em 11/12: integrantes de uma ONG no Reino Unido fingiram ser representantes de uma companhia de petróleo e encomendaram ao cientista William Happer, da universidade de Princeton, um relatório sobre os benefícios do petróleo e do gás. A US$ 250 por hora, o especialista topou o trabalho e aceitou não revelar quem se propôs a pagar pelo estudo.

Nos anos 1950, estudos já demonstravam que fumar provoca câncer e muitas outras doenças. A indústria do tabaco contra-atacava com pesquisas patrocinadas secretamente junto a cientistas dispostos a dizer o contrário por generosas quantias. Médicos apareciam fumando em anúncios.

Neste último caso, as vítimas eram milhões de pessoas. No anterior, podem ser vários bilhões.

No Google, Papai Noel não existe

Levantamento mostra que 52% das crianças brasileiras descobrem que Papai Noel não existe consultando sites de busca, diz matéria do Jornal do Brasil de 09/12.

Pesquisa semelhante poderia descobrir a enorme quantidade de adultos que acreditam nos mitos que são criados pelas redes virtuais, não desmentidos por elas.

10 de dezembro de 2015

A COP-21 e seus patrocinadores sujos

O grande objetivo da 21ª Convenção da ONU sobre Mudança Climática (COP-21) é reduzir o ritmo de aumento da temperatura média global diminuindo a emissão dos gases resultantes da atividade industrial.

Os primeiros países a fazer isso deveriam ser os altamente poluentes. Pelo menos, é o que ficou determinado na Eco-92, no Rio de Janeiro. Mas nenhum deles cumpriu suas metas de redução.

Agora, os países altamente industrializados estão dizendo que o mundo mudou muito desde 1992. Países como Brasil, Índia, China também se tornaram grandes poluidores. Deveriam ser responsabilizados na mesma medida.

O que ninguém diz é que grande parte dos lucros resultantes dessa industrialização tardia continua a beneficiar os grandes poluidores desde sempre. Eles exportaram a poluição para longe de seus territórios, mas continuam recebendo seus benefícios através de suas multinacionais.

Os governos em geral dizem que reduzir a atividade industrial causaria desemprego e sofrimento econômico. Pode ser, mas, o maior temor mesmo é diminuir os lucros dos que financiam a eleição de praticamente todos os participantes da COP 21.

Também foi aprovado em 1992 a ajuda financeira dos países industrializados para a redução de emissões nos países menos poluidores. Mas poucos recursos chegaram a estes últimos. E o maior debate da COP-21 continua sendo sobre financiamento.

Nem tudo é polêmica, porém. Quem vai pagar mais no combate à crise climática, não se sabe. Mas é fácil descobrir quem financia a própria crise climática. A começar pela COP-21. EDF, Renault, Air France, BNP Paribas, entre outras grandes empresas produtoras e consumidoras de petróleo e carvão, são os principais patrocinadores do evento.

9 de dezembro de 2015

Rio: cidade olímpica, cidade para poucos

O Comitê Popular da Copa e das Olimpíadas do Rio de Janeiro acaba de lançar o Dossiê Megaeventos e Direitos Humanos no Rio de Janeiro. Trata-se de um levantamento detalhado das violações dos direitos humanos causadas pelos megaeventos, desde a Copa do Mundo de 2014.

O foco agora são as Olimpíadas 2016, envolvendo moradia, transportes, trabalho, esporte e segurança pública, entre outras questões.

O irônico é que uma das primeiras vítimas dos Jogos foi o próprio esporte. O estádio de atletismo Célio de Barros, pertencente ao complexo do Maracanã, por exemplo, foi fechado em 2013.

Desde então, as cerca de 800 pessoas que frequentavam suas instalações diariamente estão sem onde treinar e competir. A grande maioria formada por atletas sem dinheiro para acessar clubes e academias.

Mais de 22 mil famílias já foram removidas de maneira autoritária e injusta. Deslocadas para abrir espaço a projetos imobiliários de alto luxo ou centros comerciais e empresariais.

Segundo o documento, o orçamento da Olimpíada alcançaria RS 38,7 bilhões de reais. Mais de R$ 10 bilhões acima do orçamento da Copa do Mundo, que construiu 12 arenas superfaturadas e voltadas para a elite.

O dossiê também mostra que o poder público entra com a maior parte desses recursos. De fato, como aconteceu em outras sedes olímpicas, os Jogos são um pretexto para privatizar os espaços públicos e expulsar os mais pobres de áreas posteriormente entregues à especulação imobiliária.

Talvez inspirados no Olimpo dos deuses gregos, os três níveis de governo tentam tornar a cidade do Rio de Janeiro um lugar confortável apenas para alguns poucos poderosos.

Baixe o dossiê aqui.

Leia também: Olimpíadas e nazismo marchando juntos

8 de dezembro de 2015

Para bom entendedor, meia palavra bas...

Objetos sexuais

Em 07/12, a Folha publicou “Robôs que fazem sexo ficam mais reais e até já respondem a carícias”, de André Zara.

Segundo a matéria, a companhia americana True Companion seria a primeira do mundo a fornecer robôs sexuais. Seus modelos Roxxxy são vendidos desde 2010, “podem ter aparência customizada” e “cinco opções de personalidade pré-programadas”, da mais comportada à ousada. O preço? US$ 7.000.

Fazendo o contraponto, Kathleen Richardson, pesquisadora de ética em robótica da Universidade De Montfort (Reino Unido), lançou a campanha "Não Faça Sexo com Robôs".

Para ela, “as máquinas reforçam os estereótipos e transformam as próprias pessoas em objetos”. Kathleen tem toda razão. Não é a tecnologia que se humaniza. São as relações sociais que regridem, reduzindo-se a aparências e funcionalidades.
        
Meteorologistas que são mandachuvas

“Processo de impeachment causará megatempestade na economia, dizem analistas internacionais”. Este é o título da reportagem que Fernando Duarte publicou na BBC Brasil em 03/12.

Para Angela Bouzanis, economista da Focus Economics, o processo poderá representar “o pior momento para o Brasil”. Jill Hedges, vice-diretora da consultoria Oxford Analytica, prevê “um novo rebaixamento da economia brasileira pelas agências de classificação de risco”. Já Robert Ward, da Economist Intelligence Unit, acha que “as discussões sobre o afastamento de Dilma prometem causar danos que aprofundarão a crise econômica”.

O problema com essas avaliações é que são feitas por meteorologistas que também são mandachuvas. Suas antecipações estão mais para ameaças que para previsões.

Leia também: Para bom entendedor, meia palavra bas...

7 de dezembro de 2015

Impeachment: entre o terror e o terror

“Antes um fim com terror que um terror sem fim”, diz a famosa frase de Marx em “O 18 Brumário”. E é assim que o governo Dilma parece ter recebido a aprovação do pedido de impeachment.

Diante de todas as incertezas que vêm se arrastando por meses, a definição quanto à possibilidade de deposição da presidenta seria a melhor saída, desde que derrotada a abertura do processo de impeachment.

Admitido o processo, no entanto, um novo período com ainda mais e maiores incertezas deve começar.

Afinal, foram necessários quatro meses para derrubar um presidente completamente desmoralizado e abandonado como Collor. Não é o caso do governo petista, que ainda conta com relativo apoio parlamentar e entre os movimentos sociais.

Além disso, a acusação que pesa sobre Dilma não tem nada a ver com corrupção. As chamadas “pedaladas fiscais” possivelmente nem tenham relação direta com as funções presidenciais. Daí, o caráter golpista do pedido de impeachment.

Por outro lado, um julgamento feito pelo Senado teria um forte caráter político, podendo simplesmente ignorar os fundamentos jurídicos envolvidos.

Portanto, nos muitos meses em que se arrastaria o processo, a pressão popular seria decisiva. Mas se ela será mais favorável ou contrária a Dilma, depende muito do cenário econômico. E este se deteriora rapidamente.

Porém, o que realmente importa destacar é que, na batalha do impeachment, as principais forças políticas institucionais em choque concordam apenas sobre uma questão. Querem tranquilidade para fazer o ajuste neoliberal exigido pelo grande capital.

Ou seja, terror sem fim ou fim com terror podem significar a mesma coisa para a grande maioria da população.

Leia também:
O governo petista e a dieta das onças


4 de dezembro de 2015

O governo petista e a dieta das onças

“Cutucando onças com vara curta”. É assim que André Singer, ex-porta voz do presidente Lula, definiu a situação de Dilma Roussef em uma entrevista publicada pelo El País, em 10/10. Bem antes da atual confusão, portanto.

Segundo Singer, o governo Lula teria conseguido montar uma aliança entre “a classe trabalhadora organizada e o setor industrial”, em 2010. O acordo teria dado origem a um documento assinado por Fiesp, CUT e Força Sindical, em maio de 2011.

Entre as reivindicações, “redução dos juros, desvalorização do real, favorecimento do produto nacional, combate ao capital especulativo, política industrial, desoneração da folha de pagamento...”. Exigências que teriam desagradado os banqueiros, diz o entrevistado.

Mas no final de 2012, diz Singer, “a burguesia industrial começa a se afastar, apesar de todas as reivindicações terem sido atendidas” pelo governo Dilma. Teriam voltado a se aliar ao setor financeiro, exigindo a “disciplina fiscal” que faz a alegria dos especuladores. A isso, o governo petista viria a responder com um vergonhoso recuo, uma vez reeleito.

Singer levanta hipóteses sobre as razões da mudança de posição dos empresários, mas deixa de lado o principal. Com onças não se deve fazer alianças e muito menos cutucá-las, sob o risco não desprezível de que acabem jantando o provocador.

Agora, o governo petista pede socorro aos movimentos sociais e muitos outros setores explorados não incluídos na aliança de 2011. Mas continua a reafirmar sua intenção de manter a dieta exigida pelos felinos que começam a devorá-lo.


3 de dezembro de 2015

COP-21: clima pesado para quem luta pelo planeta

Começou a 21ª Convenção da ONU sobre Mudança Climática (COP-21). São mais de 150 chefes de Estado em Paris. Portanto, as chances de confusão são grandes.

Mas confusão, realmente, é a que reina entre a grande maioria da população. O maior problema ambiental atual é o aquecimento global. No entanto, há muita imprecisão quanto ao que esse fenômeno significa.

Por exemplo, o aumento médio da temperatura do planeta não impede que ocorram variações radicais de temperatura, em que ondas de forte calor podem se alternar com ondas de frio extremo. Esta alternância costuma ser explorada pelos que negam a elevação da temperatura global.

Ocorre que há uma confusão entre clima e tempo. O primeiro pode variar bastante em períodos curtos, como dias e semanas. Já o acompanhamento do tempo, tem mostrado uma elevação constante das temperaturas desde a Revolução Industrial, revelando suas causas humanas e a impressão digital do capitalismo.

Mas surgiu uma outra confusão na COP-21. Esta bem menos sutil. Segundo reportagem de Laurent Borredon e Adrien Pécout, publicada no Portal Uol, em 01/12, dias antes da abertura do evento, “várias buscas e prisões domiciliares foram feitas contra ativistas de ocupações e ambientalistas em toda a França”.

As detenções foram feitas com base na nova legislação sobre “estado de emergência”, aprovada sob o pretexto de combater o terrorismo.

Às costumeiras confusões que favorecem o grande capital poluidor, acrescente-se, agora, a muito conveniente falta de distinção entre manifestantes e terroristas. Ou seja, o que se pode prever com alguma exatidão é que as nuvens escuras e pesadas do fascismo de Estado se acumulam no horizonte.

2 de dezembro de 2015

Pedagogia da bala e do cassetete

Praça do Conhecimento, Nova Brasília, Complexo do Alemão, Rio de Janeiro. É lá que fica a escola Theophilo de Souza Pinto. Dentro da escola, uma Unidade de Policiamento Pacificadora (UPP). São cerca de 70 buracos de balas nas paredes do prédio, segundo reportagem da agência Pública, publicada em 30/11.

Pavuna, Rio de Janeiro, Colégio Estadual Jornalista Rodolfo Fernandes. Inaugurado em março de 2014, conta com 796 alunos. “Desde maio deste ano, cinco deles morreram baleados, quatro por tiros disparados pela Polícia Militar”, diz reportagem do Globo, em 02/12. Entre eles, Carlos Eduardo da Silva de Souza, de 16 anos, um dos cinco jovens fuzilados pela PM com mais de 100 tiros dentro de um automóvel, em 28/11.

“A gente já está acostumado com isso”, disse um aluno de 17 anos, colega de turma de “Carlinhos”, à mesma reportagem.

Desde novembro, estudantes paulistas iniciaram uma onda de ocupações em escolas da rede estadual pública contra o fechamento de 93 delas.

Madrugada de 02/12, escolas estaduais República do Suriname, no Itaim Paulista, e Coronel Sampaio, em Osasco. Na primeira, diz o Diário do Centro do Mundo:

... o marido da diretora da escola junto com um grupo de pessoas encapuzadas invadiu a ocupação e tomou a escola. Em Osasco, a invasão foi comandada por grande número de policiais e na manhã de hoje a escola foi aberta para a imprensa completamente destruída. Até fogo foi ateado e a culpa, obviamente, atribuída aos alunos.

Segundo Michel Foucault, a escola moderna é produto da mesma lógica que criou prisões, hospitais, quartéis...

Foucault é para os fracos, diriam nossos governantes.

Leia também: Ocupar as escolas, educar para a liberdade

1 de dezembro de 2015

Ocupar as escolas, educar para a liberdade

Publicada em abril de 2014, a pílula Escolas públicas, só para minorias disciplinadas tinha como tema um estudo da Fundação Lemann que atribuía grande parte dos problemas do sistema escolar nacional à indisciplina reinante entre a maioria dos alunos.

Segundo aquela pesquisa, a escola pública estaria muito bem se a grande maioria de seus alunos não atrapalhasse. Mas, na verdade, dizia o texto, é exatamente o comportamento dessa maioria que atesta a falência do modelo educacional moderno, inspirado em quartéis, mosteiros e hospícios.

Afirmava, ainda, que a saída para esta situação viria da rebeldia que o próprio sistema provoca. Não a revolta cega, mas aquela que liberta a criatividade necessária a qualquer verdadeiro processo de aprendizado.

Desde o início de novembro passado, os estudantes da rede pública estadual de São Paulo vêm ocupando suas escolas. O objetivo imediato era impedir o fechamento de 93 unidades programado pelo governo Alckmin. Mas o número de escolas ocupadas já chega a quase 200.

Diante do ataque a suas comunidades escolares, os estudantes se descobrem questionadores de um modelo educacional autoritário. Inventam atividades didáticas, organizam debates, descobrem material e equipamentos abandonados e mofando em salas trancadas.

Em resposta, o governo tucano utiliza a violência policial, única política que conhece para os mais pobres.

Infelizmente, é provável que essa saudável onda de rebeldia seja esmagada pela truculência policial combinada às mentiras e traições em que se especializou a política institucional. Mas, mais uma vez, nossas escolas públicas terão provado que podem superar os limites que o poder tenta lhes impor e podem educar para a liberdade.

29 de novembro de 2015

O Estado como instrumento de terror

Em 24/11, Sylvia Colombo publicou a matéria “Em livro, professor de Yale reconstrói história da Comuna de Paris”, na Folha S. Paulo. A reportagem é sobre o livro "A Comuna de Paris", de John Merriman, recém-lançado no Brasil.

Segundo a jornalista, o título em português não “traduz o tom dramático do relato”. Realmente, a obra em inglês chama-se “Massacre”, título mais preciso em relação ao que aconteceu em Paris, em 1871. Após 72 dias de poder popular foram mortas cerca de 15 mil pessoas, enquanto os “communards” executaram 68 prisioneiros. Por isso, Merriman, conclui:

Os assassinatos cometidos pelos que integravam a comuna são deploráveis, mas a repressão foi tão brutal que ficou evidente a desproporção que a violência pode tomar quando é o Estado quem se prontifica a matar. Por isso, creio que o episódio oferece chaves para entender vários massacres do século 20.

Difícil discordar. Dos “holocaustos coloniais” e a escravidão negra às matanças promovidas pelo nazifascismo. Dos genocídios indígenas nas Américas à bomba de Hiroshima. Das grandes fomes chinesa e soviética à mortandade africana. Por trás dessas e de muitas outras carnificinas estavam as garras do Estado.

Não à toa, a mais recente e estúpida manifestação de terrorismo, a dos “jihadistas”, quer construir seu próprio estado. Tão carniceiro quanto os de seus inimigos europeus, asiáticos e norte-americanos.

O Estado é uma necessidade histórica criada pela opressão de classe. Mas a humanidade só precisou dele em cerca de 10% de sua existência. Enquanto não nos livrarmos de toda e qualquer dominação social e seu principal instrumento, continuaremos a afogar nossa espécie em seu próprio sangue.

26 de novembro de 2015

Das prisões ocidentais para o Estado Islâmico

Jovens, entre os subúrbios e o radicalismo” é o nome da entrevista feita com o sociólogo iraniano Farhad Khosrokhavar. Publicada pelo “Il Manifesto”, em 22/11, o depoimento procura esclarecer como o Estado Islâmico recruta seus soldados.

O entrevistado lembra que se completaram 10 anos da grande revolta de jovens nos subúrbios parisienses. Em outubro de 2005, durante 19 noites consecutivas, jovens pobres da periferia de Paris se revoltaram contra a violência policial. Queimaram quase 9 mil carros e entraram em confrontos com a polícia francesa.

Desde então, nada foi feito para melhorar a situação deste setor da população, formado principalmente por descendentes de árabes e muçulmanos. Ao contrário, muitos deles continuam a ser jogados nas prisões. E, como diz Khosrokhavar:

... é justamente na prisão que muitas vezes eles entram em contato com autodenominados pregadores que os aproximam de uma versão integralista da religião muçulmana, viagens de iniciação, primeiro ao Afeganistão, Paquistão ou ao Iêmen e, nos últimos anos, especialmente para a Síria e, por fim, uma vontade de ruptura com a sociedade em que cresceram, que se realiza em nome da Guerra Santa. Por exemplo, esse é o perfil dos autores, particularmente jovens, dos massacres do dia 13 de novembro, assim como de todos os atentados jihadistas cometidos na França nos últimos 15 anos. Esse primeiro grupo de jovens provenientes das cité periféricas ou dos bairros populares, da França assim como da Bélgica, já constituem uma espécie de exército de reserva jihadista na Europa.

Do PCC ao Estado Islâmico, o crime e o terrorismo agradecem pelo encarceramento racista da pobreza promovido por estados laicos.

Leia também:

25 de novembro de 2015

Para bom entendedor, meia palavra bas...

Estado islâmico e hatianos

Em 22/11, o Globo publicou “Segurança da Rio 2016 quer preparar até taxistas contra terrorismo”. A matéria aborda o medo de que aconteça nas Olimpíadas de 2016 algo semelhante à ação terrorista conhecida como “Setembro Negro” nos jogos de 1972, responsável pela morte de 11 integrantes da delegação de Israel.

O diretor de Inteligência da Secretaria Extraordinária de Grandes Eventos, William Murad, por exemplo, diz que os 70 mil voluntários que participarão do evento devem “receber algum tipo de treinamento para detectar movimentos suspeitos“. Além disso, haverá uma campanha para “treinar funcionários de hotéis, de aeroportos e até taxistas para que essas pessoas possam ser capazes de identificar possíveis ameaças”.

Poderíamos imaginar o que seria considerado “possível ameaça” em uma cidade que está entre as que mais matam jovens negros no mundo. Mas o “especialista em contraterrorismo”, André Luís Woloszyn, não deixou muito espaço para a imaginação. Referindo-se ao Estado Islâmico, ele teria dito à reportagem que “o grande trunfo da organização para atacar o Brasil é a incapacidade de monitoramento da movimentação de pessoas pelo território brasileiro, em especial do fluxo migratório, por exemplo, de haitianos”.


O senador preso

De Gilberto Kalil, no Facebook:

Acaba de ser preso um dos senadores mais reacionários do Parlamento, integrante da bancada do agronegócio, violento opositor dos direitos das comunidades indígenas e defensor dos interesses das transnacionais do petróleo.

Acaba de ser preso um senador do PT, líder do governo Dilma no Senado.

Um e outro são o mesmo homem e não foi detido nem pela primeira nem pela segunda condição.

24 de novembro de 2015

Vende-se um planeta usado...

Em dezembro, acontece a 21ª Conferência das Partes da Convenção das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP-21). Será em Paris e tem por objetivo assinar um novo compromisso entre os chefes de estado pela redução da emissão dos gases que causam o aquecimento global. O documento deverá substituir o Protocolo de Kyoto, cuja validade termina em 2020.

Mas a péssima vontade política que os governos têm demonstrado em relação ao meio ambiente é diretamente proporcional ao apoio financeiro que recebem das grandes empresas poluidoras do planeta. Portanto, melhor pensar em uma trilha sonora adequada ao momento. Que tal a música “Classificados”, de Daniel Carezzato, Luciana Bugni e Marcos Mesquita?

Vende-se um planeta usado
 7 bilhões de únicos donos
 Em médio estado, mas sem as calotas

 Com o teto cheio de buracos
 O radiador enguiçado
 E água salgada no tanque de gasolina

 Zilhões e zilhões de quilômetros rodados
 Injeção só na testa a essas alturas
 Aceita-se troca por um planeta mesmo que avermelhado

 Vende-se um planeta usado
 No porta-luvas, duas guerras guardadas
 Com furos no estepe e o eixo inclinado

 Com o porta-malas repleto de fome
 Ar condicionado invertido
 Desgraças no rádio e painel com ruído

 Sem direção, hidráulica seca
 Os cintos já não seguram mais nada
 Aceita-se troca por um planeta sem pneus em órbita

 A Estrela D'Alva é a luz do freio...

 Vende-se um planeta seminovo
 Garantia estendida até o fim de 2014
 Aceita-se troca...

A canção foi gravada por Tom Zé, Daniel Carezzato e Lia Bernardes e faz parte do CD “O fim está próspero”, da banda “1/2 Dúzia de 3 ou 4”.

Leia também:
A crise ambiental, a cota do xixi e a cota de merda
COP-19: uma comédia que provoca choro

23 de novembro de 2015

Em Mariana, poesia que dói

 Amarildo
Circula na internete um poema de Carlos Drummond considerado profético em relação ao crime ambiental cometido pela Vale, em Mariana, Minas Gerais. Trata-se de “Lira Itabirana”, cujos primeiros versos dizem: “O Rio? É doce/ A Vale? Amarga/ Ai, antes fosse/ Mais leve a carga”.

Muito da justa revolta em relação à poderosa mineradora costuma lembrar que se trata de uma empresa privatizada. Mas o poema de Drummond é de 1984, bem anterior à entrega da companhia a preço de banana estragada ao mercado. Além disso, a estrofe II deixa bem claro que “Entre estatais/ E multinacionais,/ Quantos ais!”.

Portanto, não se trata apenas da costumeira irresponsabilidade de um mercado dominado por enormes monopólios privados. É a própria atividade que tem caráter destrutivo.

É o que mostra Marcos Paulo de Souza Miranda, coordenador da Promotoria Estadual de Defesa do Patrimônio Cultural e Turístico de Minas Gerais. Em outro texto que vem circulando na rede, ele lembra:

Em novembro de 1867, na Mina de Morro Velho, em Nova Lima, um desabamento matou 17 escravos e um trabalhador inglês. Em novembro de 1886, novo desastre no mesmo lugar.

Mais recentemente, rompimentos de barragens nas minas de Fernandinho (1986) e Herculano (2014), em Itabirito; Rio Verde (2001), em Nova Lima; e Rio Pomba (2008), em Miraí. Todas com dezenas de mortes e prejuízos irreversíveis ao meio ambiente.

A mineração, tal como praticada no modo de produção capitalista, estatal ou não, gera poucos empregos e vicia as economias que dela dependem. Destrói cidades, pessoas, matas, bichos. Só a poesia escapa. Mas pergunta, dolorida, quanto tempo ainda disfarçaremos as lágrimas “sem berro?”

O berço do conhecimento universal é africano


 Imhotep 
“África: lugar das primeiras descobertas, invenções e instituições humanas” é o título de artigo de Dagoberto José Fonseca, de julho de 2009, e republicado pelo portal Geledés em 19/11.

O professor da Unesp-Araraquara revela informações surpreendentes sobre as contribuições dos povos africanos para o conhecimento universal.

Por exemplo, a agricultura africana, surgida no vale do rio Nilo, tem cerca de 18 mil anos, sendo duas vezes mais antiga do que no sudoeste asiático. A pecuária apareceu 15 mil anos atrás, no atual Quênia.

Já ficou comprovado que Sócrates, Platão, Tales de Mileto, Anaxágoras e Aristóteles estudaram com sábios africanos.

Dizer que Hipócrates foi o pai da medicina deixou de ser verdade desde que foi provado que o cientista clínico egípcio Imhotep já praticava medicina mais ou menos 3 mil anos antes de Cristo. Uns 2.500 anos antes do grego.

Onde é hoje Uganda, na África Central, os Banyoro já faziam a cirurgia de cesariana. Muito antes da primeira intervenção desse tipo ser feita na Inglaterra, em 1879.

A remoção de cataratas foi registrada no Mali e no Egito, por volta de 4.600 anos atrás. Sendo que, nessa mesma época, os egípcios já faziam cirurgias para retirar tumores cerebrais.

Há cerca de 6 séculos, o povo Dogon, no Mali, já conhecia o sistema solar, a Via Láctea, as luas de Júpiter e os anéis de Saturno. Também deduziu que o universo é habitado por milhões de estrelas e que a lua era deserta e inabitada, sendo refletida pelo sol à noite

Claro que tudo isso continua soterrado por camadas de preconceitos e racismo. Inclusive, nas universidades.

Leia também: Quando o berço da história faz história

19 de novembro de 2015

As maiores vítimas do fanatismo islâmico

“Europeus e americanos são vítimas colaterais da guerra interna do Islã”, afirma Alfredo Valladão em artigo publicado no site da Rádio França Internacional, em 20/01. Segundo ele:

...a guerra atual não é a da civilização islâmica contra a civilização ocidental, mas é um conflito absoluto no seio do Islã. Xiitas contra sunitas e, dentro do sunismo, uma miríade de correntes que vão desde os cortadores de cabeça do dito “Estado Islâmico” até os partidos muçulmanos moderados, passando pelos tradicionalistas da Irmandade muçulmana, os salafistas, os adeptos da Al-Qaeda, etc. O prêmio dessa guerra de todos contra todos é a liderança do mundo muçulmano.

Entre os 129 mortos nos recentes atentados em Paris, estavam, pelo menos, sete muçulmanos.

No mesmo dia do ataque ao tabloide Charles Hebdo, um carro bomba matou 33 pessoas e deixou 62 feridas no Iêmen, país muçulmano. Em janeiro deste ano, o grupo fundamentalista Boko Haram, que se afirma muçulmano, promoveu matou cerca de 2 mil na cidade nigeriana de Baga. Entre as vítimas, muitos islamitas.

Iniciado no dia 3 de janeiro e concluída no dia do atentado de Paris (7), a chacina provocou um número de mortos que pode chegar a 2.000, algo sem precedentes mesmo no universo de uma organização que supera o Estado Islâmico em crueldade e habita um subterrâneo bizarro no qual a violência não tem limites.

Como diz Reza Aslan, em seu livro “No god but God”, é dentro do Islã que a batalha decisiva vem sendo travada. E, nessa batalha, são as forças islâmicas anticapitalistas que serão capazes de derrotar o fanatismo muçulmano, jamais o fundamentalismo imperialista.

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17 de novembro de 2015

Terrorismo e causalidade seletiva

Na internete, a polêmica: quem merece mais o apoio popular, as vítimas da Samarco em Minas Gerais ou os atingidos pelo terrorismo em Paris? Um lado acusa o outro de praticar “solidariedade seletiva”. Na verdade, “lamentação seletiva”, uma vez que a grande maioria dos envolvidos não fazem mais do que postar textos, imagens e comentários em ambientes virtuais.

Toda essa disposição para se envolver nesse tipo de debate estéril é alimentada pela grande mídia. Não faltam matérias e reportagens recheadas de casos comoventes. Gente que perdeu parentes, amigos, casa, patrimônio, sustento, esperanças. Muito triste, é verdade.

Mais triste, no entanto, é a ausência de qualquer aprofundamento sobre as causas das tragédias. Faltam apurações sobre os enormes interesses econômicos da mineração no Brasil e do controle das áreas petrolíferas no Oriente Médio. Sobram closes em rostos e perguntas na medida para fazer o entrevistado chorar.

Ao mesmo tempo, cria um clima de revolta que tem como alvo apenas os políticos, ignorando aqueles que os controlam. As verdadeiras causas das tragédias são criteriosamente selecionadas para esconderem os interesses poderosos que estão por trás delas.

Há terrorismos e terrorismos

Noam Chomsky é um respeitado linguista. Mas não precisa utilizar teorias complexas para mostrar que o conceito de “terrorismo” não é utilizado da mesma maneira em todas as situações pela grande imprensa e governos em geral.

As ações que partem de organizações islâmicas, por exemplo, são sempre terroristas. Já as mortes de centenas de civis inocentes causadas pelos drones estadunidenses são "danos colaterais". Enquanto isso, a França executou 20 bombardeios na Síria, matando mais de cem civis, incluindo crianças.

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O Estado Islâmico e o Ebola

Em epidemiologia, é comum afirmar que doenças mais letais tendem a se espalhar menos. Afinal, se um vírus ou bactéria mata rápido demais, suas vítimas têm menos tempo de contagiar outros organismos.

O Estado Islâmico (EI) pode ser comparado a uma dessas doenças com letalidade acelerada. Seus soldados matam e barbarizam demais e fazem inimigos por toda a parte. Inclusive, entre os próprios muçulmanos. E os recentes ataques que promoveram fora de seu território só aumentaram a hostilidade contra a organização.

Desse modo, o destino do EI deveria ser o mesmo que o de um vírus como o Ebola, que mata em velocidade semelhante àquela em que pode ser isolado. Mas para que isso aconteça, é preciso diminuir também os focos que alimentam a “doença”.

No caso do Estado Islâmico, são vários os focos. A começar pelo pesado armamento que recebeu dos Estados Unidos, interessados na queda da ditadura síria. Há também o forte apoio financeiro das monarquias árabes e do governo turco. Já a resistência popular curda, que vem impondo derrotas ao EI, é constantemente sabotada pelos governos da região.

Não bastasse toda essa ajuda, o EI continua a ganhar seguidores nos países europeus, graças aos governos que mantêm políticas de perseguição aos muçulmanos dentro de suas fronteiras. É o que François Hollande está fazendo, agora, por exemplo, ao adotar uma postura nacionalista conservadora que deve empurrar mais gente para as fileiras dos “jihadistas”.

Ainda não se sabe ao certo qual é a origem do Ebola. Mas o fundamentalismo terrorista do Estado Islâmico, certamente, surgiu e continua a ser fortalecido pelo fanatismo imperialista ocidental.

15 de novembro de 2015

Para bom entendedor, meia palavra bas...

Faltaram alguns mandamentos

Diz a Bíblia, em Mateus 22:40, que um fariseu perguntou a Jesus qual seria o maior dos mandamentos. Obteve como resposta: “Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu pensamento”. Mas Jesus acrescentou um segundo mandamento, que seria semelhante ao primeiro: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo”.

Como se vê, seria possível dizer que entre os principais mandamentos cristãos estaria aquele que condena discriminações, como o racismo. Afinal, devemos amar o próximo esperando que ele nos ame do mesmo modo, sem preconceitos e prevenções injustas.

A novela “Os dez mandamentos”, da Record não teria obrigação de citar esses mandamentos, já que não fazem parte do decálogo revelado por Moisés. Mas poderia evitar apresentar um elenco formado quase inteiramente por brancos. Em especial, os reis e nobres egípcios. Fato agravado por vários estudos arqueológicos e históricos que dão conta de que os egípcios eram muito mais negros que brancos.

Escafandristas

Recente estudo conhecido como “Brasil 2040”, da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência, afirma que a elevação do nível do mar pode levar à inundação de várias regiões do Rio de Janeiro nos próximos 25 anos.

Em sua bela canção “Futuros Amantes”, Chico Buarque diz:

E quem sabe, então
O Rio será
Alguma cidade submersa
Os escafandristas virão
Explorar sua casa
Seu quarto, suas coisas
Sua alma, desvãos

Quem sabe esses mergulhadores encontrem também muitos sinais de violência contra as mulheres. Inclusive, em residências mais nobres, como as de secretários municipais.

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