Em tempos em que realidade
e pesadelo se confundem, pode ser inspirador ler o ótimo livro “O oráculo da
noite”, do neurocientista Sidarta Ribeiro.
A obra oferece um atualizado
panorama científico sobre os sonhos. E o autor acredita que entre os potenciais
desprezados dessa esfera importante de nossa vida psíquica, estaria sua
capacidade antecipatória.
Não se trata de sonhos
“proféticos”, claro. Seu potencial divinatório seria:
...meramente
uma combinação antecipada de probabilidades que podem coincidir com o
comportamento real das coisas, mas não precisam necessariamente concordar em
todos os detalhes.
A partir disso, a
experiência onírica permitiria:
...
imaginar os futuros em potencial através de um mecanismo capaz de prospectar a
experiência pregressa e formar novos conglomerados psíquicos, juntando ideias
antigas de forma nova.
Nesse aspecto, o
pesadelo teria uma função muito importante. Esta experiência onírica nos permitiria
“enfrentar os perigos do dia seguinte, treinando roteiros de ação ou
simplesmente aumentando o alerta”.
Seria uma espécie de
simulador virtual que aumentaria nossa capacidade de enfrentar situações hostis.
Uma vantagem evolutiva mais pronunciada nos mamíferos e aperfeiçoada em primatas
como nós.
Os primeiros pesadelos
de nossa espécie muito provavelmente relacionavam-se a dificuldades cotidianas tão
elementares quanto as de comer e não ser comido.
A crescente complexidade
da vida social acrescentou muitos outros elementos perturbadores aos sonhos contemporâneos.
Mesmo que, infelizmente, ainda haja grandes parcelas da população mundial cujos
pesadelos continuam a envolver coisas tão básicas como manter-se vivo.
De qualquer maneira, é
animador saber que mesmo sonhos ruins podem ser bons. Que em 2020 nossos atuais
pesadelos nos inspirem a conquistar uma realidade menos assustadora e
paralisante.
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Vendem
nosso ar, roubam nosso sonoQuerem controlar até os sonhos. Que pesadelo!