Era 1977. Belchior lançava o LP “Coração Selvagem”. A ditadura
já havia matado o jornalista Vladimir Herzog e ainda mataria o operário Santo
Dias. Entre as músicas do álbum, uma que falava de um cão. O cantor cearense
chamava o bicho de “Populus”.
Populus, meu cão...
O escravo, indiferente, que trabalha
Naquela época, se dizia que era preciso fazer crescer o
bolo econômico primeiro, para só depois reparti-lo. Mas de certo mesmo,
Populus:
...por presente, tem migalhas sobre o
chão.
E não apenas ele:
Primeiro, foi seu pai,
segundo, seu irmão;
terceiro, agora, é ele... agora é ele,
de geração, em geração, em geração.
“No congresso do medo internacional”, diz a canção,
referindo-se a um poema de Carlos Drummond, ouve-se “o segredo do enredo final sobre
Populus, meu cão”. Em “documento oficial” e em “testamento especial”, “a morte,
sem razão”. De Populus, o cão.
Um desfecho que, em meio a “delírios sanguíneos” e “espumas
nos teus lábios”, parece mesmo muito “em vão”.
Populus, está “roto no esgoto do porão”. Lá onde governo e
capital jogavam os que ousavam desafiá-los. E destes restavam apenas “seu olhar
de quase gente” e “as fileiras dos seus dentes”.
A música agoniza em direção a um pedido de ajuda final, em sílabas alongadas: “SOS
é só, SOS é só”.
Populus quer dizer “povo” em latim. O que torna tudo
ainda mais compreensível. E atual.
Mas como diz aquele poema de Drummond citado por Belchior:
“Provisoriamente não cantaremos o amor”. Ele está refugiado “mais abaixo dos
subterrâneos”.
A música do Belchior está sempre atualizadíssima, atemporal que é, o que muda são só os governantes, mas a patifaria é a mesma de sempre.
ResponderExcluirVerdade. Populus continua a sofrer.
ResponderExcluirAbraço
Populos é povo em latim
ResponderExcluirPor causa dessa música, em 1988, pus o nome de Populus em um filhote de husky siberiano que ganhei.
ResponderExcluirLegal!
ExcluirAbraço
de cão populos só tinha a vida. O Populos do belchior é a população.
ResponderExcluirIsso
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