“O Infinito num Junco” é um ótimo livro de Irene Vallejo. Conta a história dos livros e os primeiros deles de que se tem registro eram feitos de papiro, um junco vegetal que nascia nas margens do Nilo, no Egito Antigo.
Em certo momento, Irene cita um conto de Jorge Luis Borges chamado “A Biblioteca de Babel”. Nele, diz a autora, existe uma biblioteca que conta com um catálogo verdadeiro, mas muitos milhares de catálogos falsos. Seus frequentadores dominam apenas um par de línguas e seu tempo de vida é breve. Portanto, as probabilidades de que alguém localize na imensidão do acervo o livro que procura, ou simplesmente um livro compreensível para si, são muito pequenas.
Desse modo, afirma ela, ninguém consegue ler realmente. Entre a esgotante abundância de páginas ao acaso, extingue-se o prazer da leitura. Todas as energias se consomem na procura e na decifração.
Aos leitores de hoje, afirma nossa autora, a biblioteca de Babel fascina como uma alegoria profética do mundo virtual, do excesso da internete. Dessa gigante rede de informações e textos, filtrada pelos algoritmos dos motores de pesquisa, onde nos perdemos como fantasmas num labirinto.
Timothy John Berners-Lee, cientista que idealizou a Web, inspirou-se no espaço ordenado e ágil das bibliotecas públicas, lembra Irene. Cada documento virtual tem um endereço único que pode ser alcançado de outro computador. A internete é uma emanação das bibliotecas, diz ela.
Berners-Lee viria a lamentar que sua inovação tivesse se transformado nesse emaranhado de caminhos sem saída. Mas é pior que isso. Tais labirintos passaram a abrigar criaturas mais terríveis que o mitológico Minotauro.
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