Dois artigos sobre um possível processo de desglobalização em andamento. Primeiro, o de Paolo Gerbaudo, professor do King’s College London.
Segundo ele, muitos esperavam que a recuperação iniciada no final dos anos 2010 marcaria um retorno às glórias da globalização. Mas o início dos anos 2020 marcou dois novos choques que, embora considerados exógenos, revelaram problemas essencialmente endógenos, ou seja, próprios da globalização e seus desequilíbrios.
Com a crise do coronavírus, prossegue, muitos países se viram forçados a fechar suas fronteiras. Além disso, houve interrupções e desacelerações nas cadeias de fornecimento, o que fez empresas e governos reavaliarem os riscos associados à sua integração global.
O segundo acontecimento traumático foi a invasão russa à Ucrânia, que contribuiu para romper as últimas ilusões sobre a estabilidade da globalização. As medidas adotadas pelos países da OTAN e as tensões entre o Ocidente e a China seriam “sinais do fim da globalização da forma como a conhecíamos”.
O outro artigo é de Eleutério F. S. Prado, professor do Departamento de Economia da USP.
Os períodos de globalização ocorrem sob hegemonia pouco contestada de uma potência imperialista, diz ele. O primeiro deles acontece sob a supremacia inglesa e os dois seguintes sob a preeminência norte-americana. A desglobalização ocorrida no século XX adveio do acirramento do conflito entre as potências imperialistas (...) e, por isso mesmo, se inicia e termina com a Primeira e a Segunda Guerra Mundial, respectivamente. Assume-se aqui que o ano de 2008 marca o início de um processo de desglobalização que se estenderá pelos próximos anos.
Ou seja, sinais muito preocupantes no horizonte. Ainda que nada surpreendentes.
Leia também: Coronavírus-19: os maiores transmissores