“O nosso povoado infértil morria à
míngua e mais e mais a nossa vida passou a desesperançar”, diz o conto “Ayoluwa,
a alegria do nosso povo”, do livro “Olhos d'água”, de Conceição Evaristo.
Mas, continua a narrativa:
...em uma dessas noites de
macambúzia fala, de um estado tal de banzo, como se a dor nunca mais fosse se
apartar de nós, uma mulher, a mais jovem da desfalcada roda, trouxe uma boa
fala. Bamidele, a esperança, anunciou que ia ter um filho. A partir daquele
momento, não houve quem não fosse fecundado pela esperança, dom que Bamidele
trazia no sentido de seu nome.
(...)
E todas nós sentimos, no instante em
que Ayoluwa nascia, todas nós sentimos algo se contorcer em nossos ventres, os
homens também. Ninguém se assustou. Sabíamos que estávamos parindo em nós mesmo
uma nova vida. E foi bonito o primeiro choro daquela que veio para trazer a
alegria para o nosso povo. O seu inicial grito, comprovando que nascia viva,
acordou todos nós. E partir daí tudo mudou. Tomamos novamente a vida com as
nossas mãos.
Ayoluwa, alegria de nosso povo,
continua entre nós, ela veio não com a promessa da salvação, mas também não
veio para morrer na cruz. Não digo que esse mundo desconsertado já se
consertou. Mas Ayoluwa, alegria de nosso povo, e sua mãe, Bamidele, a
esperança, continuam fermentando o pão nosso de cada dia. E quando a dor vem
encostar-se a nós, enquanto um olho chora, o outro espia o tempo procurando a
solução.
Que Bamidele e Ayolwa não saiam de
nosso lado, em 2018. Até lá!
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