O mercado de crédito de carbono costuma ser apontado como solução importante para a diminuição dos terríveis gases de efeito estufa. Mas é um negócio difícil de entender.
Talvez, um trecho de uma dissertação de mestrado sobre o tema possa ser útil. Trata-se de “A Financeirização do Meio Ambiente: o Caso do Mercado de Créditos de Carbono”, defendida por Ana Paula Salviatti, em 2013, pelo programa de História Econômica da FFLCH, USP.
Segundo o estudo, no início do atual século, a Alemanha assumiu o compromisso de até 2050 diminuir suas emissões de CO2 em 95%. Mas só conseguiria cumprir essa meta se desativasse suas usinas termoelétricas de carvão linhito, o mais sujo e poluente de todos os combustíveis fósseis, ou adquirisse créditos de carbono.
Uma dessas usinas era operada pela RWE e lançava 30 milhões de toneladas de CO2 na atmosfera anualmente. A empresa criou, então, alguns projetos de compra de crédito de carbono em regiões pobres do mundo. Um deles em Lusaka, no Zâmbia, consistia em vender a preços subsidiados fogareiros para famílias pobres da capital zambiana. Nesses fogareiros só poderia ser utilizada a lenha fornecida pela própria empresa a partir de seus campos de reflorestamento.
Para o pagamento das parcelas dos fogareiros, diz o texto, a RWE criou um sistema de recebimento eletrônico, em uma cidade onde mal havia eletricidade para fazer funcionar os semáforos de trânsito.
Por um ano, os fogareiros da RWE instalados na Zâmbia economizaram 130 mil toneladas de CO2, quantidade que apenas uma usina alemã emite em um único dia.
Deu pra entender, agora? Capitalismo verde é isso aí. Pilantragem!
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