Doses maiores

31 de agosto de 2023

Entendendo direitinho o mercado de crédito de carbono

O mercado de crédito de carbono costuma ser apontado como solução importante para a diminuição dos terríveis gases de efeito estufa. Mas é um negócio difícil de entender.

Talvez, um trecho de uma dissertação de mestrado sobre o tema possa ser útil. Trata-se de “A Financeirização do Meio Ambiente: o Caso do Mercado de Créditos de Carbono”, defendida por Ana Paula Salviatti, em 2013, pelo programa de História Econômica da FFLCH, USP.

Segundo o estudo, no início do atual século, a Alemanha assumiu o compromisso de até 2050 diminuir suas emissões de CO2 em 95%. Mas só conseguiria cumprir essa meta se desativasse suas usinas termoelétricas de carvão linhito, o mais sujo e poluente de todos os combustíveis fósseis, ou adquirisse créditos de carbono.

Uma dessas usinas era operada pela RWE e lançava 30 milhões de toneladas de CO
2 na atmosfera anualmente. A empresa criou, então, alguns projetos de compra de crédito de carbono em regiões pobres do mundo. Um deles em Lusaka, no Zâmbia, consistia em vender a preços subsidiados fogareiros para famílias pobres da capital zambiana. Nesses fogareiros só poderia ser utilizada a lenha fornecida pela própria empresa a partir de seus campos de reflorestamento.

Para o pagamento das parcelas dos fogareiros, diz o texto, a RWE criou um sistema de recebimento eletrônico, em uma cidade onde mal havia eletricidade para fazer funcionar os semáforos de trânsito.

Por um ano, os fogareiros da RWE instalados na Zâmbia economizaram 130 mil toneladas de CO2, quantidade que apenas uma usina alemã emite em um único dia.

Deu pra entender, agora? Capitalismo verde é isso aí. Pilantragem!

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30 de agosto de 2023

O poder paralelo de Elon Musk e outros magnatas

Em 21/08/2023, a edição digital da revista New Yorker publicou o artigo “O governo paralelo de Elon Musk”, em tradução livre. Refere-se à grande sombra que o bilionário projeta sobre a administração da mais poderosa nação do mundo.

Para começar, a SpaceX, fábrica de foguetes de Musk, é atualmente o único meio pelo qual a Nasa faz seus voos para o espaço. Já os planos do governo estadunidense de priorizar a indústria de carros elétricos demandam estações de recarga, muitas das quais pertencem a outra empresa do bilionário, a Tesla. Enquanto isso, os militares ucranianos contam com os terminais de internete da Starlink, também de Musk, para comunicações na guerra contra a Rússia. “Estamos vivendo das boas graças dele”, disse um funcionário do Pentágono. "E isso é péssimo."

Nos últimos 20 anos, diz a matéria, Musk buscou oportunidades de negócios em áreas cruciais onde, após décadas de privatizações, o Estado retrocedeu. O governo agora depende dele. Funcionários atuais e antigos da NASA, dos departamentos de Defesa, Transportes, Administração Federal de Aviação e Administração de Segurança e Saúde Ocupacional disseram que a influência de Musk havia se tornado inevitável em seu trabalho e agora o tratam como uma espécie de autoridade não-eleita. Um porta-voz do Pentágono procurado pela reportagem, respondeu que só poderia falar sobre a presença da Starlink na Ucrânia com a permissão de Musk.

A publicação considera essa situação um produto do “capitalismo extremo”. Não é. É só capitalismo mesmo. E não é apenas Musk, mas uma longa linhagem de magnatas: Carnegie, Rockfeller, Gould, Morgan, Gates, Bezos. Todos sob a sombra do governo de plantão.

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29 de agosto de 2023

Engels e o trem suicida do progresso

Nós nos lisonjeamos demais por causa de nossas vitórias sobre a natureza. Para cada uma dessas vitórias, a natureza se vinga de nós. É verdade que cada vitória traz, em primeiro lugar, os resultados esperados, mas, no segundo e terceiro lugares, produz efeitos imprevisíveis e bastante diferentes, que muitas vezes anulam o primeiro. Assim, a cada passo, somos lembrados de que não dominamos a natureza como um conquistador sobre um povo estrangeiro, como alguém que está fora da natureza – mas que nós, com carne, sangue e cérebro, pertencemos à natureza e existimos em seu meio...

As palavras acima são de Engels e estão no livro “Os camisas negras e a esquerda radical: fascismo racional e a derrubada do comunismo” do historiador e economista estadunidense Michael Parenti.

Parenti as utiliza para mostrar que desde muito tempo o capitalismo apresenta suas tendências ambientais destrutivas. Com sua ênfase incessante na exploração e na expansão, e a sua indiferença aos custos ambientais, diz ele, a essência do capitalismo, sua razão de ser, é converter a natureza em mercadorias e as mercadorias em capital, transformando a terra viva em riqueza inanimada. Por isso, conclui, a “ecologia é profundamente subversiva em relação ao capitalismo”.

O livro foi publicado em 1997, quando já tínhamos muitos sinais de que era urgente subverter o capitalismo também do ponto de vista ecológico. Quase trinta anos depois, o “trem do progresso” a que se referiu Walter Benjamin, lá em 1940, continua carregando a humanidade para o abismo. Mas a advertência de Engels é de 1876. Para ele já estava claro que o trem tomara o rumo errado.

Leia também: Os índios e o anjo desesperado

28 de agosto de 2023

A teoria do caos e o caos na prática

O bater de asas de uma borboleta numa parte do mundo pode causar um tufão no outro lado do planeta. Essa metáfora costuma ser utilizada para ilustrar a teoria do caos. Aquele pequeno movimento do inseto dispararia uma sequência de acontecimentos cujo resultado ninguém pode prever.

Mas ela também é útil para mostrar que situações caóticas são muito complexas, mas não são resultado de fatores aleatórios. Relacionar o surgimento de um tufão ao voo de uma borboleta é impossível. Isso, porém, não significa negar que, em muitos casos, um encadeamento causal efetivamente exista, mesmo que ele jamais possa ser comprovado.

Essa mesma teoria também pode ser usada para abordar as diversas crises do mundo atual. Aquecimento global, desequilíbrios ambientais, inúmeras guerras regionais, enorme injustiça social, elevada criminalidade, fome, miséria, epidemias, déficits habitacionais gigantescos, transporte público em colapso, crise alimentar, relações sociais tóxicas, redes de comunicação envenenadas, cidades, campos, rios e mares empesteados. Tudo isso ocorrendo de forma sincrônica, sistemática e disseminada pelo planeta. Um caos generalizado.

Mas ao contrário do caso da borboleta, não é difícil encontrar a origem dessa sequência causal. A mariposa atende pelo nome de capitalismo. E ainda que as consequências sejam as mais variadas, o bater das asas é a crescente mercantilização da vida e sua subordinação quase absoluta aos circuitos de trocas mercantis. É a escravização da maioria pela ditadura minoritária dos donos dos meios de produção em sua busca insana por lucros.

Precisamos interromper urgentemente essa cadeia catastrófica de eventos. É a única forma de salvar grande parte da humanidade e outras formas de vida. Incluindo várias espécies de borboletas.

Leia também: Borboletas, caos e capitalismo

25 de agosto de 2023

Uma porteira na foz do Amazonas

Uma justificativa utilizada para as enormes contradições dos governos petistas é seu caráter de governos em disputa. Pode ser. Mas que setores da sociedade realmente disputam os rumos dos governos petistas?

A questão da exploração de petróleo no Amapá é um exemplo claro de troca de fogo amigo nas disputas entre as forças que compõem o governo Lula. Em meio a esse tiroteio estão indígenas, populações locais e trabalhadores da área, como os petroleiros. Partiu destes últimos um documento aprovado no 36º Congresso Regional dos Petroleiros do Sindipetro PA/AM/MA/AP, em junho passado.

Nele, os representantes da categoria manifestam-se em defesa da “fase de exploração do Projeto Amapá Águas Profundas”. Entendem que o país “deve conhecer as reservas de seus recursos naturais estratégicos, numa perspectiva geopolítica e de soberania energética”. E caso elas existam seja criado um “marco legislativo” no qual estariam previstas várias ações para diminuir o impacto da exploração, prioridade do retorno financeiro para as populações locais, assim como a destinação de metade dos recursos obtidos para a transição energética para fontes sustentáveis, projetos de sustentabilidade e desenvolvimento científico.

O posicionamento reflete um esforço de intervenção por parte de um importante setor, diretamente envolvido na questão. Vale a leitura atenta.

Mas acontece que neste, como nos governos petistas anteriores, a verdadeira disputa de seus rumos ocorre entre diferentes alas do grande capital. No caso, opõem-se o desenvolvimentismo predador do século passado a um “identitarismo ecológico” que denuncia a destruição ambiental capitalista sem responsabilizar o capitalismo.

Diante dessa situação, o risco maior é a famosa boiada do Ricardo Salles. Melhor não abrir novas porteiras.

Leia também: Lula: três canoas e um iceberg

24 de agosto de 2023

No pós-apocalipse, sob orientação indígena

Segundo dados do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), da ONU, o número de indígenas no mundo é maior que o da população estadunidense, terceira maior do planeta.

São cerca de 370 a 500 milhões de indígenas, espalhados por 90 países. Eles vivem em todas as regiões geográficas e representam 5 mil culturas diferentes.

Quase 70 milhões de mulheres e homens indígenas dependem das florestas para sua subsistência, e muitos outros são agricultores, caçadores ou pastores.

As florestas onde vivem armazenam pelo menos um quarto de todo o carbono das florestas tropicais. Isso equivalia a quatro vezes o total de emissões globais de carbono em 2014.

Seus valores de respeito à natureza, solidariedade comunitária e práticas sustentáveis contrastam fortemente com os modos de vida da grande maioria da humanidade. Também se revelam muito mais adequados para fazer frente à crise não só ambiental, como social, cultural e até espiritual que castiga o mundo contemporâneo.

Diante dos desastres climáticos, envenenamento ambiental, esgotamento de recursos, injustiça social deveríamos olhar para eles como modelos. Ao invés disso, não paramos de desalojá-los, humilhá-los, matá-los.

Tornou-se costume dizer que é mais fácil imaginar o fim do mundo que o fim do capitalismo. Os indígenas não têm esse problema. O apocalipse para eles chegou há séculos. Agora, assistem o capitalismo arrastar grande parte da humanidade para o abismo.

Se não conseguirmos impedir o pior, alguns de nós sobreviverão entre os escombros de uma civilização suicida. E, quem sabe, as várias nações indígenas espalhadas pelo mundo nos ensinarão como superar o apocalipse com dignidade, sabedoria e esperança.

Leia também: Vidas indígenas também importam

23 de agosto de 2023

Antropologia anarquista antifascista

A antropologia anarquista reúne um conjunto de pesquisas científicas e teorias antropológicas que, por um lado, tem ligações com as teses anarquistas e, por outro lado, implementam os princípios explicativos relevantes ao pensamento anti-autoritário...

A definição acima pode ser encontrada na Wikipedia. Uma das referências dessa corrente acadêmica e política é Alfredo González-Ruibal, do Instituto de Ciências do Patrimônio, da Espanha.

Mas o trabalho dele concentra-se na arqueologia do passado contemporâneo. Mais especificamente, nos aspectos mais obscuros dos séculos 20 e 21, envolvendo guerras, colonialismo, totalitarismo, entre outros. Muitos restos mortais foram exumados nos últimos anos por arqueólogos e antropólogos dessa área de conhecimento.

Um dos livros de González-Ruibal é “Uma arqueologia da era contemporânea”, ainda sem edição brasileira. Nele, o autor cita lugares como o parque de La Carcavilla em Palência, Espanha. Até 2011, o lugar era apenas um parque infantil. Graças a escavações arqueológicas descobriu-se que foi usado para enterrar mais de 500 pessoas executadas pelos franquistas, durante a Guerra Civil Espanhola.

Este, no entanto, é apenas um exemplo desse importante trabalho que procura literalmente desenterrar evidências e provas. Indícios de crimes que estavam destinados a ficar, de novo literalmente, soterrados sob o negacionismo de ditaduras e regimes fascistas.

Trata-se, segundo o autor, de resgatar memórias dos crimes contra humanidade. Isso significa, diz ele:

...que, na ausência de material de arquivo e com memórias evanescentes, a arqueologia terá um papel cada vez mais importante na revelação das atrocidades coloniais. Casos como campos de concentração e extermínio, centros clandestinos de detenção e valas comuns.

Voltaremos com mais informações sobre essa importante frente da luta antifascista.

Leia também: Doi-Codi: escavando as trevas

22 de agosto de 2023

Livros: todo respeito é pouco

Chegou a hora de encerrar os comentários sobre o belo livro “O infinito num junco”, de Irene Vallejo. Nas linhas abaixo a autora revela um otimismo meio raro nos dias atuais, em que a tecnologia atropela quase tudo impiedosamente.

Quando comparamos algo velho e algo novo – como um livro e um tablet, ou uma freira sentada ao pé de uma adolescente que está a falar num chat no metrô –, acreditamos que o novo tem mais futuro. Na verdade, acontece o contrário. Quantos mais anos leva um objeto ou um hábito entre nós, mais futuro tem. O mais novo, em média, perece antes. É mais provável que no século 22 existam freiras e livros do que WhatsApp e tablets. No futuro haverá cadeiras e mesas, mas telas de plasma ou celulares talvez não. Continuaremos a celebrar com festas o solstício de inverno quando já tivermos deixado de torrar com os raios ultravioletas. (...) Muitas tendências que nos parecem inquestionáveis – desde o consumismo desenfreado até às redes sociais – abrandarão. E velhas tradições que nos acompanham há muitos anos – desde a música até à procura da espiritualidade
– nunca partirão


(...)

Não subsistem tantos artefatos milenares entre nós. São sobreviventes difíceis de desalojar (a roda, a cadeira, a colher, a tesoura, o copo, o martelo, o livro…). Há algo no seu design básico e na sua depurada simplicidade que já não admite melhorias radicais.

(...)

Por isso, perante a catarata de previsões apocalípticas sobre o futuro do livro, eu digo: um pouco de respeito.

Só uma observação. Um pouco, não. Muito. Porque respeito aos livros nunca é demais.

Leia também: Bibliotecárias a cavalo nos rincões estadunidenses

21 de agosto de 2023

Antônio Bispo dos Santos e a cosmofobia eurocristã

Liderança nacional dos quilombolas, Antônio Bispo dos Santos se considera um tradutor. Um tradutor da esfera da escrita colonialista para o mundo da oralidade dos povos tradicionais.

Para ele, não se trata de “decolonizar” a sociedade, mas de “contracolonizar”:

Nós estabelecemos uma fronteira entre o nosso mundo e o mundo colonizador. Até aqui os colonizadores chegaram, daqui não passarão. Podemos até negociar, mas não vamos ceder mais território do que já nos tiraram. E seria bem melhor para vocês, do mundo colonialista, aprenderem com a gente. Aprenderem a se integrar com a natureza, ao invés de querer conquistá-la e esgotar suas forças e energia. Porque isso está se voltando contra vocês.

Bispo foi buscar na Bíblia o entendimento do que é o mundo “eurocristão”. Quando Deus expulsa a humanidade do Éden, diz ele, cometeu o primeiro ato terrorista. Trata-se de uma “cosmofobia” baseada no pânico e na violência. Difícil discordar dele diante do recente assassinato de Mãe Bernadete.

No Paraíso ficaram as outras criaturas. Para Bispo, esse rompimento de nosso relacionamento com os outros animais é um pilar do colonialismo e explica a perseguição aos povos tradicionais, que se veem como parte da natureza.

Ele faz afirmações provocativas. Entende que Estado, partidos e sindicatos carregam o colonialismo em suas estruturas. Por isso, os governos reproduzem essa lógica, sejam de direita, sejam de esquerda.

Admite que Bolsonaro e Lula são muito diferentes. Mas representariam graus distintos da mesma dominação colonialista.

Essas e outras declarações estão em entrevista concedida por ele ao podcast da Ilustríssima. Vale a pena submeter nossas certezas a essa outra tradução do mundo.

Leia também: A maldição do nerd branco

18 de agosto de 2023

José Paulo Paes e as cascas que o diabo espalhou

Mais poemas de José Paulo Paes, retirados do livro “Socráticas”, escrito às vésperas de seu falecimento. A obra inspira-se nos ensinamentos do filósofo Sócrates sobre a morte com dignidade. A ingestão voluntária de cicuta evitando a sentença que pretendia dar-lhe um fim humilhante.

Os crimes atribuídos ao filósofo foram ateísmo e corrupção dos jovens com seus ensinamentos. O poema “Promissória ao bom Deus” faz sutis provocações às relações com as divindades. Alguns trechos:

NÃO TE AMAREI sobre todas as coisas, mas em cada uma delas,
por mínima que seja. É o que compete aos poetas fazer.

NÃO TOMAREI teu nome em vão, mesmo porque nome é coisa séria. Inclusive os feios, que, ditos por dá cá aquela palha, perdem muito da sua eficácia.

GUARDAREI os domingos e quantos dias de festa houver, que ninguém é de ferro, como descobriste no sexto dia da Criação.

(...)

NÃO LEVANTAREI falso testemunho de ninguém, muito menos de ti, que hás por certo de preferir um agnóstico fora do teu templo a um vendilhão dentro dele.

NÃO COBIÇAREI coisas alheias. Deixo-as todas para os filisteus do meu país, fascinados pelas quinquilharias do que, enchendo a boca, eles chamam de primeiro mundo.

NÃO DESEJAREI a mulher do próximo nem a do remoto. Como sabes, jamais tive paciência de esperar na fila.

(...)

EM SUMA , Senhor, vou fazer o humanamente possível para seguir teus
mandamentos. Mas desculpa, agora e na hora de nossa morte, qualquer
eventual escorregão nas cascas que o Diabo espalhou a mancheias pelo
nosso caminho depois de ter comido todas as frutas do teu, para sempre
perdido, Paraíso.


Leia também:  Aprendendo a morrer com José Paulo Paes

17 de agosto de 2023

Apagão e Eletrobrás: o petróleo é deles

“Os dados são o novo petróleo do mundo”. Esta frase ficou famosa alguns anos atrás. Refere-se às informações que a grande maioria de nós fornece à internete diariamente. Quase sempre por obrigação profissional e para ter acesso a muitos serviços essenciais.

Longe de serem meros elementos de intermediação, os dados cibernéticos transformaram-se em instrumentos que, entre outras coisas, aceleram a troca de mercadorias, localizam e cativam o público consumidor, distorcem o debate político, fomentam o fanatismo conservador e fizeram surgir novos e ainda mais poderosos monopólios.

Mas como mostrou o recente apagão da Eletrobrás, esse intenso fluxo de informações que viaja na velocidade da luz empaca se faltar energia elétrica. A leveza e agilidade dos elétrons e partículas subatômicas dependem de imensas redes, pesados cabos, grandes torres, enormes bobinas, hélices monstruosas e turbinas gigantes.

Ou seja, sem o “petróleo” da eletricidade, o motor dos dados fica parado. Os donos do grande capital sabem disso. Não à toa, no Brasil, se apoderaram do controle acionário da Eletrobrás na criminosa privatização promovida durante o governo Bolsonaro.

Na verdade, o que foi feito, sem muito alarde, equivale à privatização de uma Petrobrás. Para piorar, a gestão da estatal foi entregue ao fundo 3G Radar, pertencente a nada mais, nada menos que Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira. O mesmo trio acusado de ser responsável pelo rombo na rede varejista Americanas.

A gestão de uma empresa altamente estratégica para o País submetida aos caprichos de especuladores que não têm outro objetivo que não seja aumentar seus próprios lucros. Esse “petróleo”, por enquanto, é deles. Dos canalhas.

Leia também: Eletrobrás: privatização foi sacanagem, sim

16 de agosto de 2023

Bibliotecárias a cavalo pelos rincões estadunidenses

Um pequeno exército de cavalos e mulas aventurava-se todos os dias pelas encostas e desfiladeiros dos montes Apalaches, com os alforjes carregados de livros. A maioria das montarias carregavam mulheres. Eram bibliotecárias a cavalo. Amazonas das letras. Circulavam por lugares como o interior do Kentucky, com seus vales isolados, habitados por famílias pobres.

Elas participavam de um projeto federal que era parte do New Deal, programa criado pelo governo Roosevelt, em 1933. O objetivo era combater o desemprego e outras mazelas econômicas causadas pela quebra das bolsas de 1929. Mas entre as prioridades do programa estava a diminuição do analfabetismo através de amplas doses de cultura financiada pelo Estado.

Era um serviço público que buscava favorecer a leitura nas regiões mais remotas do país. Obras clássicas puseram leitores novatos em contato com um tipo de magia que sempre lhes tinha sido negado. Os estudantes liam-nos aos seus pais analfabetos. Um jovem disse a uma das bibliotecárias: “Os livros que nos trouxeste salvaram nossa vida”. O programa empregou quase mil bibliotecárias durante uma década. O financiamento terminou em 1943, quando o programa foi encerrado e a Guerra Mundial substituiu a cultura como antídoto face ao desemprego.

As informações acima são do livro “O infinito num junco”, de Irene Vallejo. Com certeza, um relato bonito. Mas que também mostra o tamanho do impacto da crise econômica dos anos 1930 nos Estados Unidos e a ameaçadora sombra da Revolução Russa, que, quase duas décadas depois de sua eclosão, ainda apavorava as burguesias no mundo todo.

Livros salvam vidas, sem dúvida. Mas, neste caso, ajudaram a salvar o capitalismo também.

Leia também: Os fios de Penélope, Ariadne, Xerazade, Irene...

15 de agosto de 2023

Doi-Codi: escavando as trevas

“Escavação no DOI-Codi acha inscrições nas paredes, objetos antigos e vestígios de sangue”, diz título de matéria publicada na Folha em 13/08/2023. O material foi encontrado durante escavações iniciadas em agosto e organizadas por arqueólogos reunidos em projeto envolvendo Unifesp, Unicamp e UFMG.

“Além de solas de sapato, botões, vidros e papéis de bala, foi encontrado material biológico que pode ser sangue no chão de algumas salas do prédio”, explica a reportagem.

O lugar ficou tragicamente famoso pelos inúmeros casos de tortura cometidos em suas dependências durante a ditadura militar. As vítimas eram homens, mulheres e até crianças, considerados terroristas por lutarem por democracia.

Como parte da iniciativa foram recolhidos depoimentos de sobreviventes daquele terrível período. Um deles foi Emílio Ivo Ulrich, segundo o qual, a tortura que sofreu “nunca teve fim”.

A atividade faz parte da arqueologia forense, voltada para o levantamento de elementos em investigações criminais. Mas há uma área de estudos chamada Arqueologia do Passado Contemporâneo, que se concentra em momentos mais recentes, aplicando suas técnicas ao período que abrange os séculos 20 e 21.

Uma dos mais respeitados estudiosos dessa área é Alfredo González-Ruibal, arqueólogo espanhol. Um de seus livros é “Uma arqueologia da era contemporânea”, ainda sem edição brasileira.  Nele, Gonzalez-Ruibal afirma que:

...os séculos 20 e 21, caracterizados por uma forma de modernidade excessiva e altamente destrutiva, são únicos na história da humanidade e essa singularidade deve ser concretizada em termos materiais.

De acordo com o arqueólogo, muitas vezes suas pesquisas transformam-se numa “viagem ao lado escuro do mundo contemporâneo”. Em nosso caso, as trevas nunca tiveram fim.

Leia também: DOI-Codi: uma vovó rejuvenescida

14 de agosto de 2023

Precarização por aplicativos: evolução e revolução

“A engenharia social que a Justiça do Trabalho tem pretendido realizar não passa de uma tentativa inócua de frustrar a evolução dos meios de produção". A frase é de Gilmar Mendes e foi citada em recente matéria da Folha sobre decisões de juízes trabalhistas que “defendem a carteira assinada, enquanto ministros do Supremo derrubam decisões contra as terceirizações, pejotizações e uberização”.

O que Gilmar chama de “evolução dos meios de produção" não passa de novas formas de precarizar as relações trabalhistas e derrubar o valor dos salários e remunerações.

Mas, infelizmente, ele tem razão. As tentativas são inócuas porque o fato é que a CLT foi extinta pelo governo Temer e não há sinais de que seja restaurada. Por um lado, o governo Lula não vai comprar essa briga. Por outro, entre muitos dos próprios trabalhadores não há essa expectativa.

É o que mostra, por exemplo, recente pesquisa realizada pelo Grupo de Pesquisa Mundo do Trabalho e Teoria Social, da UnB, junto aos entregadores de aplicativos, um dos setores que melhor exemplificam os novos tipos de precarização.

Segundo o levantamento, 60,3% deles preferem ser reconhecidos como “autônomos/as ou por conta-própria” ou “microempreendedor individual”, com 23,9% das escolhas.

Ao mesmo tempo, 78,14% querem o fim das corridas duplas ou triplas e 60,32% a instalação de pontos de apoio. Também aparecem como reivindicações adicional de periculosidade (57,49%), auxílio-doença e auxílio-acidente (55,06%).

Ora, assegurar tudo isso equivaleria a criar uma nova CLT. Uma que correspondesse não à “evolução dos meios de produção”, mas fosse consequência de uma grande reviravolta nas relações de produção. Também conhecida por revolução social.

Leia também: Os entregadores e a política das ruas

11 de agosto de 2023

Inteligência artificial: o mundo ao deus-dará

"Oppenheimer virou símbolo contra inteligência artificial". Com este título Martim Vasques da Cunha publicou interessante artigo na Folha, em 22/07/2023. Ele mostra como o paralelo entre aquele que é considerado o pai da bomba atômica e os criadores da inteligência artificial foi traçado por estes últimos com intenções escusas.

É o caso de Sam Altman, um dos responsáveis pela OpenAI. Segundo ele, a criação da bomba atômica mostrou que o avanço da tecnologia é inevitável.

O que Altman e outros da área não dizem é que Oppenheimer defendeu a transparência e o compartilhamento do conhecimento sobre a fissão nuclear. O objetivo era impedir que uma nação ou um bloco delas ficassem tão à frente no domínio da nova tecnologia que se sentiriam seguros para atacar sem temer retaliações.

Ora, diz Cunha, “isso é o exato oposto do que nossos cientistas e intelectuais querem fazer com a inteligência artificial”. Lembrando a proposta de moratória do desenvolvimento da IA que partiu dos próprios especialistas, o autor afirma que a ideia é “suspender tudo, somente para manter o avanço tecnológico em segredo e deixar a sociedade civil no escuro”.

Oppenheimer temia que o “controle do apocalipse” ficasse nas mãos dos políticos e militares. Já a meia dúzia de desenvolvedores da inteligência artificial não presta contas a ninguém. Tornaram-se imensos monopólios graças a dinheiro público e à destruição de empregos, ocupações e negócios em vários setores da economia. De jornalistas e publicitários aos pequenos varejistas e prestadores de serviços. Mas, como diz Cunha, “querem desviar este novo tipo de conhecimento apenas para si mesmos e abandonar o mundo ao deus-dará”.    

Leia também: Barbenheimer ou Missão Oppenheimer?

10 de agosto de 2023

Aprendendo a morrer com José Paulo Paes

Paulista de Taquaritinga, José Paulo Paes foi um dos mais importantes poetas brasileiros da segunda metade do século passado. Também foi tradutor e crítico literário. Morreu aos 72 anos, em 1998.

“Socráticas” é uma obra póstuma do poeta. Foi editada por Alfredo Bosi, para quem o livro soa “como um recado joco-sério” sobre aprender a morrer com a mesma dignidade do grande filósofo grego.

Esta e outras pílulas trarão alguns dos curtos, céticos e "jocosos" poemas que estão presentes na obra:



Teologia


A minhoca cavoca que cavoca.
Ouvira falar da grande luz, o Sol.
Mas quando põe a cabeça de fora,
a Mão a segura e a enfia no anzol



Auto-epitáfio n
o 2

para quem pediu sempre tão pouco
o nada é positivamente um exagero



Fenomenologia da humildade

Se queres te sentir gigante, fica perto de um anão.
Se queres te sentir anão, fica perto de um gigante.
Se queres te sentir alguém, fica perto de ninguém.
Se queres te sentir ninguém, fica perto de ti mesmo



Dúvida

Não há nada mais triste
do que um cão em guarda
ao cadáver do seu dono.

Eu não tenho cão.
Será que ainda estou vivo?


Este último poema foi encontrado no computador de Paes com data de gravação de 08/10/98. Véspera da morte do poeta.

Leia também: Um pouco do bom humor poético de José Paulo Paes (1926-1998)

9 de agosto de 2023

Alexandre, o paladino da democracia tutelada

Ele tem uma… uma vantagem em relação a todos os ministros… ele tem uma experiência enorme, efetiva, com segurança pública. E segurança pública do estado de São Paulo (...). E tem muito diálogo, tem diálogo com os militares, tem diálogo com a polícia. Ele consegue entender a lógica e a linguagem militar, nós não teríamos ninguém aqui, … afeito a esse tipo de compreensão. Então, de fato, como eu já disse, também no TSE, ele foi o homem certo, no lugar certo, na hora certa.

As palavras acima são do ministro do STF, Gilmar Mendes. Referem-se a Alexandre de Moraes. Estão no podcast da Radio Piauí intitulado “Alexandre”, apresentado e roteirizado por Thais Bilenky.

O depoimento de Mendes dá uma ideia do personagem que se tornou o paladino da resistência institucional ao golpismo bolsonarista. Diante das ameaças de uma intervenção armada pela deposição de um presidente eleito pelo voto popular, o “homem certo” foi aquele que tem “diálogo com os militares” e entende sua “linguagem”.

De fato, Alexandre foi titular da Secretaria da Segurança de São Paulo em 2015. Nesse período ocorreu uma onda de ocupações das escolas públicas paulistas por estudantes secundaristas. E Alexandre mostrou que, mais que entender a linguagem dos militares, sabia colocar em prática a metodologia truculenta deles. Houve vários casos de estudantes menores de idade retirados com violência das escolas ocupadas.

Tudo isso durante o governo de Geraldo Alckmin, outro a se tornar integrante do dispositivo de segurança da democracia nacional. Uma democracia ameaçada por golpistas 
numa ponta e sob tutela autoritária, na outra. Todos, mais ou menos, do mesmo lado.


Leia também: Primeiros ensaios para a repressão aos movimentos sociais

8 de agosto de 2023

Os fios de Penélope, Ariadne, Xerazade, Irene...

Por mais de 20 anos, Penélope esperou Ulisses voltar de Troia. Nunca duvidou de que seu marido retornaria. Quando seu pai pediu que se casasse novamente, ela concordou, mas somente após acabar de tecer uma manta. Ela passava os dias trabalhando no tear e, à noite, desmanchava o que havia feito.

Segundo Irene Vallejo, em seu livro “O infinito num junco”, a artimanha de Penélope não é só uma metáfora da fidelidade amorosa. Segundo ela, “a mente é um grande tear de palavras” e “desde tempos remotos, as mulheres foram as primeiras a expressar o Universo como malha e como redes. Seguravam com nós as suas alegrias, ilusões, angústias, terrores e crenças mais íntimas. Tingiam a monotonia de cores. Entrelaçavam verbos, lã, adjetivos e seda. É por isso que os textos e os tecidos partilham tantas palavras: a trama do relato, o nó do argumento, o fio de uma história, o desenlace da narração; puxar o fio da meada, alinhavar uma história, urdir uma intriga. É por isso que os velhos mitos nos falam da mortalha de Penélope, das túnicas de Nausíca, dos bordados de Aracne, do fio de Ariadne, da linha da vida que as moiras fiavam, da tela dos destinos que as nornas cosiam, do tapete mágico de Xerazade”.

“Escrevo porque não sei coser, nem fazer malha; nunca aprendi a bordar, mas fascina-me a delicada urdidura das palavras. Conto as minhas fantasias enoveladas com sonhos e recordações. Sinto-me herdeira dessas mulheres que, desde sempre, fizeram e desfizeram histórias. Escrevo para que não se quebre o velho fio de voz”, arremata nossa talentosa tecelã.

Leia também: A escrita, os livros e outros apêndices humanos

7 de agosto de 2023

Allende e o embrião de uma internete socialista

Era outubro de 1972. Salvador Allende governava o Chile desde 1970, tentando implantar medidas radicais. Entre elas, reforma agrária e estatização de setores industriais. Foi o que bastou para ser alvo de ataques e sabotagens promovidos pela direita local com apoio do governo estadunidense.

Naquele mês, uma greve apoiada pela CIA paralisou 40 mil caminhoneiros, isolando Santiago. O movimento atingiu principalmente o abastecimento de alimentos para a população. Mas o governo conseguiu enviar cerca de 200 caminhões com mantimentos para a cidade, derrotando a greve. Essa operação só foi possível graças a uma rede de comunicação formada por máquinas de telex chamada Cybersyn.

Mas o objetivo original desse sistema era outro. Tratava-se de proporcionar um planejamento econômico controlado em tempo real pelo poder público. Como havia 500 máquinas de teletipo adquiridas pelo governo anterior que estavam ociosas, cada fábrica recebeu uma delas. Os dados da produção eram enviados diariamente para um centro de controle, permitindo aos órgãos governamentais fazer previsões, recomendações e tomar decisões estratégicas. Graças à cibernética, começava a tomar forma um planejamento econômico capaz de atender as necessidades da maioria, bandeira histórica do movimento socialista.

Além disso, o projeto pretendia criar uma rede de comunicação que possibilitasse aos chilenos opinar, votar e fazer propostas a partir de seus bairros e locais de trabalho.

Para muitos, o Cybersyn mostrou a possibilidade de criar uma internete orientada por valores democráticos e socialistas. Infelizmente, este foi mais um projeto destruído pelo golpe de setembro de 1973 por Pinochet e seus carrascos, apoiados e financiados pelo imperialismo estadunidense.

De Santiago do Chile ao Vale do Silício, pioramos muito.

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4 de agosto de 2023

A escrita, os livros e outros apêndices humanos

Na obra “Fedro”, Platão cita Sócrates:

A palavra escrita parece falar contigo como se fosse inteligente, mas se lhe perguntas alguma coisa, porque desejas saber mais, continua a repetir-te o mesmo sem parar. Os livros não são capazes de se defenderem.

Para ele, já não se tratava de sabedoria própria, mas de um apêndice alheio. Um estímulo a um relaxamento da memória. A grande ironia é que Platão expôs essa aversão à escrita por escrito, conservando, assim, as críticas de seu mestre para nós, seus futuros leitores.

Os cientistas chamam de “efeito Google” à incitação à amnésia que Sócrates temia. Mas o alfabeto foi uma tecnologia ainda mais revolucionária do que a internete. Construiu pela primeira vez essa memória comum, expandida e ao alcance de toda a gente.

Tempos depois, Jorge Luis Borges diria que o livro é o mais “surpreendente dos instrumentos humanos”, uma vez que os restantes “são apenas extensões do seu corpo”. O microscópio e o telescópio, extensões da visão; o telefone, da voz; o arado e a espada, do braço. “Mas o livro é outra coisa: o livro é uma extensão da memória e da imaginação”, conclui ele.

As informações acima estão no livro “O infinito num junco” de Irene Vallejo.  A autora não abordou a inteligência artificial, mas o que diriam Sócrates e Platão sobre ela? Seria outro artefato condenado a repetir “o mesmo sem parar” e ser um “apêndice alheio”?

Difícil saber. O que podemos dizer é que se trata de mais um produto da invenção humana, cheio de contradições e potenciais. Para o bem e para mal.

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3 de agosto de 2023

A maldição do nerd branco

"O Fardo do Homem Branco" é um poema do poeta inglês Rudyard Kipling publicado em 1898. Desde então, a expressão tem sido utilizada para justificar a dominação neocolonial como uma missão sublime. O tal fardo consistiria em levar aos povos “atrasados e bárbaros” os nobres valores da civilização europeia.

Em seu livro “Colonialismo Digital: por um crítica hacker-fanoniana”, Deivison Faustino e Walter Lippold mostram como a dominação colonialista segue intacta em tempos cibernéticos, transformando-se no que eles chamam de “fardo do nerd branco”. Segundo os autores, essa transformação se deu “a partir da manipulação neoliberal da caridade tecnológica como forma de atualizar controles geopolíticos, ideológicos ou empresariais em territórios historicamente privados do desenvolvimento tecnológico”.

Um exemplo de “nerd branco” é Elon Musk. Em maio de 2022, ele esteve no Brasil e, em encontro amistoso e efusivo com Bolsonaro, anunciou seu projeto Starlink. Trata-se de uma rede de satélites de baixa órbita que pretende disponibilizar internete para áreas rurais e lugares remotos.

Pois bem, em março de 2023, a Polícia Federal fez uma operação contra a mineração ilegal na Amazônia e encontrou equipamentos da Starlink em poder de garimpeiros, em meio a armas e ouro. O que parecia filantropia era só mais uma forma de facilitar a exploração das terras indígenas  e ajudar criminosos ambientais a fugir.

Eis aí um exemplo do que Trotsky chamou de desenvolvimento desigual e combinado do capitalismo. Aquele em que “as mais altas tecnologias convivem e, até propiciam, as mais baixas condições de vida”, nas palavras de Faustino e Lippold.

Mas, talvez, fosse mais justo falar em maldição dos merdas brancos.

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