O mais recente sucesso da Netflix é “O Mundo Depois de Nós”. Um dos personagens do filme é um “sobrevivencialista”. Ou seja, alguém preparado para sobreviver a catástrofes extremas, o que inclui transformar sua casa em um bunker. Ele é de classe média remediada, mas seus medos são compartilhados com gente com muito mais dinheiro.
É o caso dos multibilionários que há alguns anos se preparam para uma hecatombe decorrente de mudanças climáticas ou guerras generalizadas. É o caso de Mark Zuckerberg, que está construindo um abrigo subterrâneo com fontes de energia próprias, no Havaí.
Mas esse fenômeno não é tão restrito. Na verdade, a “bunkerização” se espalha pela sociedade. O que muda é sua forma e eficácia. Pode ser um enorme porão com alimentos, rádio por satélite e forças armadas particulares. Mas também um condomínio cercado tanto de muros e vigilantes, como de muita pobreza e injustiça. O que torna sua segurança bastante vulnerável, inclusive frente à ação de milícias.
O empreendedorismo popular é outro desses castelos de areia, cuja proteção contra tormentas econômicas é quase nula. Planos de saúde e de previdência complementar iludem com garantias que podem desaparecer graças a qualquer instabilidade empregatícia ou remuneratória.
Tudo isso é produto de décadas de neoliberalismo. Aqui e no mundo, foram sendo abandonadas diversas formas de resistência e proteção coletivas, muito mais eficazes para a defesa não apenas da subsistência, mas da dignidade. Não há sobrevivencialismo que dê jeito. Não é o mundo depois de nós, mas um mundo infernal que uma minoria minúscula e cada vez mais covarde e irresponsável está querendo nos deixar.
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