O capítulo “O
Sobrado” inaugura a saga “O Tempo e o Vento”, de Érico Veríssimo. O ano é 1895,
cidade de Santa Fé, finalzinho da guerra entre gaúchos republicanos e
federalistas.
O primeiro
personagem a aparecer é o tenente republicano José Lírio, o Liroca. Sua missão
é manter o cerco a um sobrado em que federalistas se refugiam. Deve ocupar a
torre da igreja voltada para o casarão e impedir a tiros o acesso ao poço que
fica na praça em frente. O objetivo é matar de fome e sede os ocupantes do
casarão.
O problema de
Liroca é sua covardia. Para chegar à igreja, é preciso atravessar a praça, sob
risco de ser alvejado pelos ocupantes do sobrado. “Donde lhe vinha tanto
medo?”, pergunta-se Liroca. Paralisado, murmura para si mesmo: "Lírio é
macho, Lírio é macho”. Palavras que sempre repetia quando ia entrar em combate.
Por fim, mais
por vergonha que por coragem, em correria trôpega e desesperada, José Lírio
acaba chegando a seu posto. Lá do alto, aguarda e vigia. De repente, alguém sai
do sobrado e corre até o poço. Liroca aguarda que ele encha seus baldes e
atira. Erra os disparos de propósito. Não tem coragem de privar os inimigos,
principalmente as mulheres e crianças que estão com eles, de um pouco de água.
Se o pior
acontecer, o medroso Liroca poderia nos servir de inspiração. É a coragem
arrancada com muito sofrimento do canto mais escuro do medo. Dignidade
suficiente apenas para vencer a covardia, mas o bastante para não se render a
toda crueldade que a barbárie impõe.
Até dezembro!
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