Continuamos a comentar o livro “Riding for Deliveroo”, de Callum Cant. Agora, para falar do boletim que os entregadores do Deliveroo criaram em defesa de seus interesses.
Chamava-se “Roo rebelde”. Roo é o nome que o Deliveroo dava aos entregadores em seus comunicados. A prioridade era fazê-lo no formato impresso para incentivar sua entrega e circulação de mão em mão. A distribuição on-line acabou sendo iniciativa dos próprios trabalhadores.
Outra prioridade era publicar relatos de trabalhadores de todo o país. As principais contribuições vieram de seis cidades inglesas e de Glasgow, na Escócia. Mas também surgiram correspondentes na França, Alemanha e Itália.
Além do inglês, havia textos introdutórios nos idiomas mais falados na categoria, como bengali, português, francês, polonês e árabe.
Em janeiro de 2017, a circulação combinada, online e impressa, atingia cerca de 1.500 trabalhadores. Isso significava uns 10% da força de trabalho do Deliveroo britânico. O Rebel Roo estava em toda parte, preparando a rebelião.
O Deliveroo não tinha nenhuma obrigação de reconhecer os entregadores como categoria sindical. Mas, ao mesmo tempo, não havia restrições legais a ações grevistas.
Os trabalhadores não tinham auxílio-doença, férias e outros direitos. Mas também não eram obrigados a avisar aos empregadores sobre paralisações ou respeitar quóruns burocráticos para tomar decisões.
A democracia acontecia no local de trabalho e de forma direta. A inexperiência era compensada pela ausência dos problemas típicos dos movimentos burocratizados.
“De repente, diz Can, começamos a entender como as condições precárias podem ser uma fonte de força. Seria uma luta direta: patrões x trabalhadores”.
Enfim, tinha chegado a hora da treta!
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