Doses maiores

31 de março de 2015

O partido da mídia tem lado. E o governo?


Em 30/03, editorial da Folha de S. Paulo afirmou em tom de denúncia:

Prescrição, atrasos, incúria e engavetamento beneficiam políticos do PSDB acusados de irregularidades, inclusive no dito mensalão tucano.

Poderia ser surpreendente, mas não é. Afinal, a Folha não representa uma das alas mais poderosas do que a esquerda em geral chama de “Partido da Imprensa Golpista”?

Pois é. Um partido, mesmo que informal, não precisa se alinhar rigidamente a nenhum outro. Nem mesmo ao dos tucanos. E o que esse ataque aos tucanos pretende é permitir ao jornal um grau de liberdade para continuar atacando os setores populares em luta.

Não à toa, a Folha já havia publicado outro editorial em 26/03, em que dizia o seguinte sobre a greve dos professores paulistas:
Satélite da CUT e do PT, a Apeoesp se mostra inclinada a manobrar a categoria para fustigar o governo estadual do PSDB.
É a ala criativa do partido da grande mídia. E essa poderosa organização a serviço da classe dominante ainda conta com financiamentos muito mais seguros e generosos que os do fundo partidário. São as verbas oficiais, que nunca lhe faltam.

Enquanto isso, o Observatório da Imprensa denuncia: “Pelo menos 10 investigados detêm emissoras de radiodifusão”. A matéria refere-se à Operação Lava-Jato e a políticos que controlam afiliadas da TV Globo e a rádios locais. Entre eles, Collor e Romero Jucá, da base governista no Congresso.

A grande mídia, todos sabemos de que lado está na luta de classes. Mas de que lado estaria um governo que não apenas se recusa a desafiar os monopólios de comunicação, como os financia?

Leia também: A regulamentação da mídia e a galáxia da internete

30 de março de 2015

A receita lulista para o desastre perfeito

Em 15/03, o professor de filosofia da PUC-Rio, Rodrigo Nunes, escreveu interessante artigo no caderno Ilustríssima da Folha. O tema era ambientalismo, mas uma passagem do texto aborda de forma precisa a fórmula lulista para o crescimento econômico. Mais especificamente, a “situação em que os ricos ficavam mais ricos e os pobres, menos pobres”.

Segundo Nunes:

Seria possível produzir mais igualdade crescendo menos, caso não se tivesse abandonado o projeto de redistribuir a riqueza já existente, representado por antigas bandeiras como o imposto sobre grandes fortunas e a reforma agrária. Abandonado este projeto, sobrou apenas a distribuição da renda por ser criada...
O problema é que “a renda por ser criada” surgiu do aumento do consumo. Consumo básico, mas também de casas, vagas em faculdades, planos de saúde, eletroeletrônicos... Tudo via mercado. Jamais pela diminuição da enorme concentração de riqueza e patrimônio do País. A crise de 2008 retirou dessa fórmula seu grande lastro: a enorme demanda mundial por commodities.

Resultado: estudo do professor da Unicamp, Waldir Quadros, usando dados da PNAD 2014 constatou queda de renda para 4,7 milhões de integrantes da chamada classe C. Ao mesmo tempo, o Data Popular observou que 42% dos trabalhadores dessa faixa social passaram a fazer “bico” para complementar a renda.

Em 2014, o Ministério do Trabalho verificou a menor criação de postos com carteira assinada em 16 anos. Desde 2002, não se registravam mais demissões do que contratações na indústria paulista. Já o comércio, teve a menor geração de empregos em dez anos.

E pensar que os ajustes neoliberais de Joaquim Levy nem começaram a fazer efeito.

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Causas econômicas da corrupção política

No capitalismo, os trabalhadores ficam separados dos meios de produção. Por isso, são obrigados a vender sua força de trabalho para sobreviver. Mas há outra separação importante sob o domínio burguês. Trata-se daquela que isola a política da economia.

Esta separação costuma criar a ilusão de que políticos e empresários têm interesses diferentes e até opostos. É ela que permite que os políticos profissionais sejam vistos como campeões da corrupção, enquanto seus corruptores fingem ser vítimas do Estado vilão.

De vez em quando, essa mitologia sofre abalos. É o caso das recentes operações da Polícia Federal. Aquela que foi batizada de Zelotes flagrou grossa corrupção envolvendo corporações como Bradesco, Santander, BR Foods, Petrobras, Light e Rede Globo.

Os valores podem chegar a R$ 19 bilhões, mais que o dobro do estimado para a Operação Lava-Jato, outro esquema revelado pela PF e que também beneficia o alto empresariado.

Empresários graúdos também são citados no chamado “Swiss Leaks”, que envolve um enorme esquema de evasão fiscal através da filial suíça do banco HSBC.

O fato é que os políticos profissionais são despachantes de luxo, cuja eleição é generosamente financiada pelo grande capital. 

O fim do financiamento privado das campanhas eleitorais pode até aliviar essa situação. Mas o que precisamos realmente é da grande maioria fazendo política para não deixá-la sob controle dos grandes empresários e seus office-boys engravatados.

A separação entre política e economia acaba valendo só para os trabalhadores. Redução da jornada de trabalho e salários dignos são algumas medidas econômicas que dariam aos explorados mais tempo e condições para participar da vida política.


27 de março de 2015

Lilith e o fruto proibido da rebeldia

Segundo a Bíblia, Eva foi feita a partir de uma costela masculina. Mas um antigo mito hebraico afirma que a primeira mulher foi Lilith, criada ao mesmo tempo que Adão e não como seu apêndice.

A igualdade de origem deu à Lilith petulância suficiente para que se recusasse a ficar sempre por baixo durante as relações sexuais com Adão. Como sua exigência não podia ser atendida, a primeira mulher simplesmente abandonou o Éden, paraíso reservado aos machos da nova espécie.

No lugar da rebelde surgiu Eva, que além de submissa, ficou sendo responsável pela perdição de Adão. É obvio que Lilith logo foi associada ao demônio. Em algumas versões, transformou-se na própria serpente que ofereceu o fruto proibido a sua sucessora.

A lenda sobre Lilith ficou perdida até que na modernidade voltou a ser lembrada por algumas feministas. Mas sua linhagem jamais se deixou abater. A rebeldia que desafiou os mais primitivos dos machistas reencarnou-se em inúmeras lutas protagonizadas por valorosas seguidoras.

É o caso da filósofa Hipátia, de Alexandria. De Olympe de Gouges, a libertária que desafiou os jacobinos. Da guerreira negra Dandara. De Angela Davis, outra guerreira negra. Da cubana Celia Sanchez. Das revolucionárias Nádia Krupskaya e Rosa Luxemburgo. Do vulcão chamado Frida Khalo...  

Além destas, há milhões de outras combatentes. Muitas delas anônimas, desafiaram o machismo, que se manifesta de várias formas, mas pode ser simbolizado pela ancestral utilização do ato sexual como humilhação. Não à toa, os torturadores sempre se utilizam do estupro contra suas vítimas mulheres.

Viva Lilith e suas sucessoras! Que continuem a distribuir muitos frutos proibidos!

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26 de março de 2015

Não basta ser de esquerda

Para ajudar a entender a confusão política atual, os conceitos de esquerda e direita continuam sendo muito úteis, desde que compreendidos no sentido que costuma recomendar Frei Betto:

Ser de esquerda significa optar pelos pobres, indignar-se perante a exclusão social, inconformar-se com todas as formas de injustiça ou, como dizia Bobbio, considerar a desigualdade social uma aberração.  
Ser de direita é tolerar injustiças, pôr os imperativos do mercado por cima dos direitos humanos, encarar a pobreza como falta incurável, acreditar que existem pessoas e povos superiores aos outros.

Segundo os critérios acima, os governos petistas são de esquerda. O problema é que eles fazem alianças com partidários da segunda definição para alcançar os objetivos da primeira.

Ocorre que a primeira definição refere-se principalmente a intenções. A segunda descreve uma realidade já existente. Daí, o equívoco dos petistas que acreditam estar usando o inimigo para seus fins, quando é o oposto que acontece.

Voltemos a Frei Betto. Em janeiro de 2002, ele publicou “Dez conselhos para os militantes de esquerda”. Um deles avisa:
Cuidado: você pode estar contaminado pelo vírus socialdemocrata, cujos principais sintomas são usar métodos de direita para obter conquistas de esquerda e, em caso de conflito, desagradar aos pequenos para não ficar mal com os grandes.
Entre os mais utilizados "métodos da direita" está a corrupção. E o mais recente agrado petista a ela é o chamado ajuste fiscal do governo Dilma. A primeira tornou-se pretexto para os ataques da direita nas ruas. As últimas, a capitulação final do PT à direita.

Portanto, somente ser de esquerda não basta. Também é preciso ser revolucionário.

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12 de março de 2015

O baile de máscaras deste fim de semana

Segundo Marx, a história acontece primeiro como tragédia, depois se repete como farsa. Na verdade, a história nunca se repete. Já tragédias e farsas parecem ser produzidas em série.

Em 13 de março de 1964, ocorreu um comício patrocinado pelo governo João Goulart. Era a deixa para que um golpe militar mergulhasse o País na tragédia. Na próxima sexta-feira 13, exatos 51 anos depois, acontecerá manifestação em favor do governo Dilma. No domingo a seguir, um ato contra esse mesmo governo.

Meio século atrás, o comício governista defendia um programa considerado incendiário pelo conservadorismo arcaico das classes dominantes. Agora, os organizadores da manifestação que defende o governo atacam abertamente o programa desse mesmo governo.

Já a manifestação anti-Dilma, reúne setores que atacam o governo por adotar o programa que eles mesmos defendem. Também denunciam a corrupção situacionista. Mas parecem mais preocupados em manter o monopólio da roubalheira sob controle de seus ladrões favoritos. Afinal, seu mote é “Cansei de ser roubado PELO PT”.

Como se vê, a realização das duas manifestações não é exatamente uma tragédia. Está mais para um baile à fantasia. Mascarada em que governistas temem descobrir um Joaquim Levy sob os véus de cada odalisca e golpistas não suportam a ideia de surpreender sob feiosas alegorias seu folião favorito.

Enquanto isso, os verdadeiros financiadores de toda essa fanfarrice mantêm a maioria explorada do lado de fora da folia. Multidão que costuma ser quieta, mas sabe improvisar suas próprias festas. A mais recente foi em junho de 2013 e assustou. Mas não o bastante para fazer farsantes e trágicos abandonarem sua dança desajeitada.

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10 de março de 2015

O panelaço das madames pode deixar saudades

Só se fala do panelaço. Mas boa parte da repercussão dos protestos da direita deve-se ao próprio governo. O momento para um pronunciamento presidencial não podia ser pior.

Estamos às vésperas de duas manifestações, sendo uma delas contra um governo cuja popularidade está no chão. No Congresso Nacional, começaram os depoimentos da “Lava-Jato”, capazes de jogar muito óleo sujo no ventilador petista.

E, diante desse desastrado senso de oportunidade, ainda há petistas que se assustam com ricos batendo panelas.

Não se trata do discurso da presidenta em si. Quem foi amassar baixela nas varandas nem se deu ao trabalho de ouvi-lo. Já aqueles que lavam as próprias panelas, só confirmaram a impressão de que vai sobrar pra eles de novo.

A possibilidade de um impeachment ou golpe está mais na boca dos petistas que do povão. A manifestação do dia 15 pode até atrair multidões, mas nem os tucanos admitem a ideia de se livrar de Dilma.

O senador Aloísio Nunes Ferreira, do PSDB, declarou que não quer “um país presidido por Michel Temer”. Prefere “sangrar a presidente”, diz ele. Para Fernando Henrique, o impeachment é como uma “bomba atômica”. Serve “para dissuadir, não para usar".

E a ameaça “nuclear” parece estar funcionando. Há gente do governo defendendo um pacto político que inclui os tucanos. Tal como acontecia na Guerra Fria, as grandes potências acabam se entendendo mesmo mantendo a cara feia.

O fato é que as medidas anunciadas por Levy e confirmadas por Dilma nem começaram a fazer efeito. Quando isso acontecer, os governistas podem sentir saudades da batucada promovida pelas madames.

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Sem perdão para os que sabem o que fazem

Recentemente, surgiram evidências de que os neandertais teriam sido quase tão inteligentes quanto nós. E de que convivemos com eles por muito tempo antes que desaparecessem, como provam os fragmentos do DNA neandertal encontrados em nosso genoma.

Nos descobrir mestiços desses ancestrais que costumávamos desprezar é só mais uma decepção em meio a muitas outras.

Primeiro, Copérnico mostrou que a terra não é o centro do universo. Depois, Darwin descobriu que somos apenas uma versão mais complexa do macaco. E Freud revelou que nossa toda poderosa Razão pode ser facilmente enganada pelo inconsciente.

O capitalismo acelerou esse processo de consciência sobre a própria insignificância amarrando nossas vidas aos caprichos das leis cegas do mercado. Trocar Deus, Razão, Ciência pelo culto às mercadorias não melhorou nada a autoestima da espécie.

Marx também não colaborou quando mostrou que chegamos aonde chegamos por obra de nossas próprias ações. O único atenuante é o fato de que vínhamos agindo tal como Cristo disse sobre os homens quando pediu a Deus que os perdoasse: “... eles não sabem o que fazem”.

O primeiro passo para superar as próprias fraquezas é reconhecer sua existência. É isso que muitas das descobertas sobre nós mesmos vêm oferecendo.

Milênios atrás, não tínhamos como saber porque os neandertais estavam desparecendo diante de nossos olhos. Hoje, já temos uma boa ideia sobre como pode ser nossa própria extinção. Mesmo assim, marchamos acelerado em direção a ela.

A grande maioria continua ignorando o mal que é obrigada a fazer a si mesma. A minoria que manda e sabe o que faz está longe do alcance de qualquer perdão.

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9 de março de 2015

Abaixo do Equador, almas cheias em corpos quebrados

"Não existe pecado do lado de baixo do Equador”, diz o famoso frevo de Chico Buarque. Mas a origem da expressão não se refere a divertimentos eróticos. Longe disso.

Em meados do século 16, as potências europeias chegaram a um acordo para diminuir a ferocidade de suas disputas mútuas. Traçaram o que foi chamado de “linhas da amizade”, que determinavam que no velho continente seriam respeitados certos limites para que as agressões mútuas não caíssem ao nível da barbárie.

Mas fora destas linhas, ou seja, no mundo colonial, tudo seria permitido. E para que a harmonia fosse completa, o papa Paulo III publicou a bula “Sublimis Deus”, em 1537, decretando que os habitantes do hemisfério sul tinham alma “nuliius”. Ou seja, suas almas eram tão vazias como as terras recém “descobertas”. Umas e outras podendo ser tomadas, saqueadas, exploradas. 

As tais limitações amistosas chegavam também aos súditos que, nas colônias, asseguravam a exploração e o saque de povos e recursos naturais. A eles tudo era permitido, sem que maiores responsabilidades caíssem sobre seus atos. Estuprar, matar, torturar, escravizar, desde que somente indígenas e pretos.

Não à toa, Locke inicia seu tratado “Sobre o governo civil”, dizendo que "No princípio todo o mundo foi América". Ou seja, tudo era caos e selvageria.

Muito tempo depois do fim da colonização, as “linhas da amizade” continuam a determinar quem pode ser vítima da barbárie ocidental. Ainda hoje, quebram-se os corpos daqueles cuja pele não só tem a cor errada, mas também cometeram o pecado de abrigar almas que se encheram de revolta.

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6 de março de 2015

A revolta da lua que menstrua

“Relações de Sangue: a menstruação e as origens da cultura” é o título do livro que o antropólogo marxista Chris Knight lançou em 1991.

Basicamente, a obra argumenta que a raça humana surgiu graças a uma revolta de antigas fêmeas da espécie hominídea. Em algum momento, elas resolveram que não fariam mais sexo com seus parceiros, caso eles não se comprometessem a ajudar no sustento de suas crias.

Para manter a unidade dessa espécie de greve de sexo, elas teriam sincronizado seus períodos menstruais. Algo que acontece frequentemente entre as mulheres. Como a fêmea humana não apresenta sinais exteriores de seus períodos férteis, passaram a administrar sua vida sexual à revelia dos machos.

Com isso, subverteram as leis naturais da reprodução sexual. Os comportamentos comunitários teriam começado a ser regulados com base na união e solidariedade da autoridade feminina. Nascia a cultura e com ela a humanidade.

Mas chegaria a hora em que a soberania feminina cairia por terra. Este momento faria parte das transformações que levaram ao surgimento da sociedade de classes, com todas as mazelas que trouxe para a história humana desde então.

A tese é polêmica não apenas por razões puramente teóricas. Sua mera existência basta para fazer os machistas, incluindo muitos cientistas, espumarem de raiva.

Correta ou não, a hipótese de Knight encontra apoio na poesia de algumas mulheres tão geniais como sensíveis.

É o caso de Elisa Lucinda, que começa seu poema “Aviso da Lua que menstrua” recomendando: “Há que se ter cautela com esta gente que menstrua...”. É verdade. Elas ainda podem voltar a nos salvar de nós mesmos.

Leia o poema,
aqui


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4 de março de 2015

Vida longa e próspera para a humanidade

A ficção científica está de luto. Morreu Leonard Nimoy, o inesquecível Sr. Spock de “Jornada nas Estrelas”.

Mestiço, Spock era meio vulcano, meio terrestre. Mas seu lado alienígena predominava através de um comportamento implacavelmente lógico.

Uma conduta que provocava a ira do Dr. McCoy. O emotivo médico da Enterprise não suportava a frieza de seu colega de orelhas pontudas.

Os dois pareciam representar um choque bem típico do século 20. No papel de mediador, o capitão Kirk procurava equilibrar as contradições entre razão e sensibilidade.

Mas este era só um dos conflitos que deu à série uma legião de fãs pelo mundo. Ou seriam mundos?

Surgida em 1966, um dos motivos para seu
sucesso eram as denúncias de problemas como racismo, xenofobia, guerras, autoritarismo.

Em plena Guerra Fria, porém, tudo isso aparecia disfarçado na forma de conflitos envolvendo espécies bizarras dos confins do universo.

Outra opção bem sucedida era a composição da tripulação. Além da dupla explosiva formada por McCoy e Spock, havia gente da Rússia, Japão, Escócia, Irlanda e uma oficial afro-americana.

Claro que o comandante tinha que ser branco e americano, mas a pluralidade radical da turma sinalizava que a Terra já havia deixado para trás suas mesquinhas patriotices.

A Enterprise não tinha objetivos militares. Apenas de exploração e pesquisa. Seu principal mandamento era a chamada “Primeira Diretriz”, que proibia interferências no desenvolvimento normal das civilizações que encontrava.

As aventuras da Enterprise se passam nos anos 2150. Ainda temos tempo para concretizar algumas das esperanças alimentadas pela série.

Que a humanidade saiba honrar os votos de vida longa e próspera deixados pelo Sr. Spock.

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3 de março de 2015

A transgenia pode ser uma espécie de criacionismo

Piracicaba deve receber em breve os primeiros mosquitos “aedes aegypti” geneticamente modificados criados para combater a dengue.

Sem aval da Agência Nacional de Vigilância Sanitária para comercializar o serviço, o projeto ocorre como teste a cargo da empresa britânica Oxitec.

Os insetos “fabricados” são todos machos, portanto não picam. Estéreis, serão soltos no ambiente para concorrer com os machos férteis, diminuindo a população de mosquitos.

Em 26/01, Leonardo Melgarejo, publicou artigo sobre o tema no jornal Brasil de Fato. Para ele, concentrar o combate à dengue na eliminação do “aedes aegypti” pode abrir espaço para a proliferação do “aedes albopictus”, mosquito que espalha a febre “chikungunya”.

Segundo Melgarejo, o combate ao primeiro mosquito precisa se combinar a medidas adicionais. Caso contrário, um dos riscos é trocar uma epidemia pela outra.

Este é mais um exemplo dos delírios da transgenia.

Na verdade, a manipulação genética sob controle do capital assemelha-se ao criacionismo. Como se sabe, os criacionistas acham que o universo foi criado graças a uma inteligência superior e de uma vez para sempre. Como estava ficou.

Os negociantes da transgenia também acham que uma vez que sua engenharia chega a uma solução, haverá somente as consequências que eles previram. Tomam-se por criadores infalíveis, a salvo de efeitos imprevisíveis.

Mas não é assim. A resistência das plantas transgênicas ao uso de pesticidas, por exemplo, transformou o Brasil em campeão do uso de agrotóxicos. Para piorar “pragas” desenvolvem resistências, exigindo aumento na dose dos venenos.

Não se trata exatamente de criacionismo, claro. Parece mais uma espécie de apocalipse programado, com cada vez menos chances de dar errado.

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Não há revolução sem a rebeldia feminina

A presença feminina nas revoluções é muito maior do que parece. É o que mostra, por exemplo, Tania Machado Morin em artigo publicado na edição “Revista de História” de dezembro de 2010.

Segundo o texto, pelo menos, 80 mulheres pegaram em armas na Revolução Francesa. Quase todas filhas de pequenos camponeses e artesãos. Mas a participação feminina não se limitou ao papel de bucha de canhão. Foram elas que detonaram muitos processos revolucionários.

Em 18 de março de 1871, o governo francês tentou retirar alguns canhões de Paris. Como na cidade só restou o povo pobre, o objetivo era abandoná-la ao massacre pelos inimigos prussianos. Algumas mulheres viram a manobra traiçoeira e deram o alarme. Começava a Comuna de Paris.


Nesta que foi a primeira revolução operária da história, cerca de três mil mulheres trabalharam nas fábricas de armas e munições. Um batalhão feminino da Guarda Nacional foi formado por 120 combatentes que lutaram nas barricadas de Paris.

Em fevereiro 1917, na Rússia, operárias têxteis iniciaram uma greve contra as orientações do partido bolchevique. A paralisação mostrou-se acertada. Detonou o primeiro estágio da revolução socialista que triunfaria em outubro daquele ano.


No calendário ocidental, a data do início da greve desautorizada e vitoriosa correspondia a 8 de março. Fato convenientemente esquecido até por muitos historiadores de esquerda, muitos deles igualmente marcados pelos machismo.

As revoluções sociais são momentos em que se estouram todos os limites do conservadorismo. O mais ancestral deles é o machismo. Não há revolução possível sem a rebeldia feminina. Inclusive contra os preconceitos dos que lutam ao lado delas.

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2 de março de 2015

O PMDB sendo PMDB

A propaganda partidária do PMDB exibida em 26/02 começa com uma loira vestida como executiva percorrendo corredores à meia luz. Passa por algumas figuras conhecidas como Kátia Abreu, Eduardo Cunha e Michel Temer.

Não à toa, logo descobrimos que ela circula por bastidores.

Depois de adentrar um palco, assume seu lugar de apresentadora, afirmando que em 2014 “vivemos um momento de efervescente democracia”. Olhando para os dois lados de um público imaginário diz que o Brasil ficou “dividido nas opiniões”. Refere-se às eleições presidenciais, claro.

Alguns foram muito impetuosos e outros cometeram excessos, diz ela. O mais importante, porém, é que “democrática e legitimamente o Brasil escolheu os seus representantes”. Elegeu os responsáveis por conduzir o País nos próximos anos.

Mas como todos queremos um país “eficiente, justo, decente” não há divisão, diz a loira de olhos claros. 

Entra Michel Temer. Fala sobre a necessidade de apurar as responsabilidades pela corrupção, mas que isso não deve afetar a adoção de uma “agenda positiva”.

O tom é o mesmo quando falam ministros como Kátia Abreu, da Agricultura e Eduardo Braga, das Minas e Energias. Renan Calheiros fala em humidade, vejam só. Eduardo Cunha se apresenta como um dos escolhidos para representar a sociedade.

Michel Temer encerra o programa. Antes de dar seu boa noite, o vice-presidente agradece em nome de “nós, os escolhidos”.

Nenhuma palavra sobre o governo petista ou sua titular. Afinal, como diz a abertura do programa: “Não são as estrelas que vão me guiar. São as escolhas que vão me levar”. Pelo jeito que falam e agem, parece que já levaram.

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