O geógrafo marxista David
Harvey esteve no Brasil. Fez palestras e concedeu entrevistas. Em todas elas
apontou as grandes cidades como lugar da desigualdade social e do caos. A raiz
desse problema ele apontou resumidamente em excelente entrevista ao Canal Ibase:
O interesse que o capital tem
na construção da cidade é semelhante à lógica de uma empresa que visa ao lucro.
Isso foi um aspecto importante no surgimento do capitalismo. E continua a ser.
Não custa lembrar uma
passagem do Manifesto Comunista, de Marx e Engels:
A burguesia submeteu o campo
ao domínio da cidade. Criou cidades imensas, aumentou enormemente sua população
em comparação com a do campo, arrancando uma grande parte da população do isolamento
da vida rural.
Os patrões precisavam dos trabalhadores
aglomerados. À disposição para serem explorados em grandes unidades fabris. Além
disso, a elevada competição barateava o preço de sua força de trabalho. E o
consumo ganhava escala, turbinando os lucros.
Mais de um século e meio depois,
essas determinações econômicas transformaram a vida urbana em um inferno. A maior
vítima, claro, é a enorme maioria pobre. Mas dos engarrafamentos quilométricos só
escapa uma minoria a bordo de helicópteros. Não à toa, as manifestações de
junho tiveram como estopim a questão do transporte público.
Contra a exploração, o Manifesto
chamava os trabalhadores a se unir e agir. Contra o cenário urbano apocalíptico,
Harvey espera algo parecido: “O conselho que dou a todos é ir para as ruas o
mais possível, enfrentar a desigualdade social e a degradação ambiental”.
As causas das jornadas de
junho continuam todas aí. Há uns 200 anos.