“Barbenheimer” é como ficou conhecido o lançamento simultâneo das superproduções “Barbie” e “Oppenheimer” nos cinemas. Mas faria mais sentido algo como “Missão Oppenheimer”, em referência a “Missão Impossível”, outro blockbuster que estreou na mesmo época.
Quem involuntariamente sugeriu a conexão entre as duas produções foi o próprio diretor de “Oppenheimer”. Em entrevistas, Christopher Nolan referiu-se à possibilidade de a inteligência artificial vir a controlar armas nucleares. Segundo ele, a história da criação dos armamentos nucleares deveria servir como lição de moral para o Vale do Silício.
Ora, o vilão da última versão de “Missão Impossível” é um poderoso algoritmo de inteligência artificial que foge ao controle humano e começa a ameaçar a humanidade.
Além disso, em 2019, Sam Altman, chefe-executivo da OpenAI, uma das empresas líderes em inteligência artificial, também citou Oppenheimer para dizer que o avanço científico é inevitável.
Em seu filme, Nolan mostra que a responsabilidade pela tragédia de Hiroshima e Nagasaki não foi de Oppenheimer, mas do dispositivo militar do imperialismo americano.
Mas e quanto à inteligência artificial? Seus efeitos trágicos muito prováveis também serão atribuídos aos “desdobramentos inevitáveis” do desenvolvimento tecnológico? Vai se tornar uma vilã conveniente, desligada de governos e de interesses econômicos poderosos, como sugere o filme estrelado por Tom Cruise?
É verdade que o capital funciona como uma força cega que submete a humanidade a sua lógica destrutiva. Mas isso não isenta de culpa a minoria poderosa que dele se beneficia. Tal como os carrascos nazistas ou os generais estadunidenses, ela não pode alegar que apenas acata ordens superiores.
Não é “barbenheimmer” nem é um meme. É barbárie, mesmo.
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